A semana passava gradativamente, e Jean não deixou de passar um dia sequer para ver Gillian, porém saia de lá frustrado, dona Solange já estava ficando constrangida com tantas desculpas esfarrapadas que estava falando a ele. Penalizada com a expressão de tristeza que via em seu rosto.
Certo dia, ele abriu um sorriso triste e antes que ela fosse dar a desculpa da vez ele se adiantou:
_ Dona Solange, eu fiz alguma coisa para o Gillian, por favor, me diga o que eu fiz para ele me evitar dessa maneira?
No mesmo instante Solange encheu os olhos de lágrimas:
_ Jean, você não fez nada que o magoasse, não pense que você fez algo de errado, não fez.
Nesse momento Alberto, Gláucia e as crianças chegaram, todos ficaram em silêncio ao presenciar Jean ali, com a voz embargada Solange iniciou a conversa:
_ Jean, esse é o pai do Gillian.
Jean que mantinha a cabeça baixa, nesse momento olhou bem dentro dos olhos do homem a dizer:
_ Senhor, eu amo mesmo o seu filho, não sei se a sua presença aqui, é o motivo pelo qual o Gillian está me evitando, mas se for.
Ele enxugou uma lágrima que teimava em descer por sua face:
_ Se for isso, eu te imploro. Só me permita falar com ele.
Sem saber o que dizer, Alberto colocou a mão no ombro de Jean e o puxou em um abraço apertado, enquanto chorava:
_ Me perdoa rapaz, me perdoa.
Quando o soltou apressado ele foi em direção a cozinha, Jean olhou para todos ali sem entender o que estava acontecendo, Gláucia enxugava as lágrimas, Solange não estava chorando, mas estava cabisbaixa, somente as crianças que continuava a algazarra de sempre:
_ O que foi isso? _ O que é que está acontecendo aqui, dona Solange, o que é que está acontecendo?
_ Jean, eu acho melhor você ir para casa, eu garanto que no momento certo, quando se sentir pronto o Gillian irá te procurar.
Ele até tentou argumentar, mas dona Solange não permitiu que ele invadisse o quarto de Gillian, e mais uma vez ele partiu sem ter a chance de ver o rapaz.
Quando ele foi embora, tanto seus pais como Gláucia entraram no quarto de Gillian que a dias estava deitado sem animo para nada, Solange arrancou-lhe os cobertores:
_ Gillian, o Jean acaba de sair daqui.
_ Já disse que não quero falar sobre ele.
_ De toda a injustiça dessa doença, uma delas é você quem está cometendo Gillian, o Jean está pensando que fez algo de errado com você.
_ Eu não vou arrastar ele para isso, ele não merece.
_ E merece achar que você está evitando ele? _ Gillian eu sei que é difícil encarar essa doença, mas ficar nessa cama não irá te ajudar, você precisa resolver essa situação com o Jean, se não quer que ele saiba encare isso de frente e vá e diga o que quiser a ele, mas eu não vou mais impedir que ele entre nesse quarto a próxima vez que ele vier.
_ Definitivamente eu não posso contar com vocês, com nenhum de vocês.
Gláucia, fez sinal para que Solange e Alberto os deixassem a sós:
_ Gillian, será que pode me escutar um instante?
_ Senta aí.
_ Tá difícil não é, eu não consigo calcular a dor que você está sentindo pela doença, e por estar determinado a manter o Jean longe no momento em que mais precisa dele por perto. Gillian eu não sou nenhuma pessoa importante para te dar um conselho, sou apenas a mulher do seu pai, e me considero um pouco a sua mãe, afinal quando fui morar com o seu pai, você era apenas uma criança.
_ Você é sim Gláucia, uma pessoa importante na minha vida. Você é a mulher do meu pai, mãe dos meus irmãos e sempre me tratou com respeito, como pode achar que não é importante.
_ O Jean eu acredito que seja ainda mais importante do que eu.
_ Não cabe a comparação, onde está querendo chegar?
_ No amor de vocês dois, Gillian, o Jean está sofrendo, desde que você foi diagnosticado que você se recusa a vê-lo, ele vem todos os dias para te ver, e mesmo assim você se recusa recebê-lo, acha isso certo? _ Só você pode resolver essa situação.
_ Como?
_ Conta a verdade para ele, o deixa decidir.
_ Decidir o que... Se vai querer se arrastar para essa doença, ou se quer me deixar?
_ Você tem medo de que ele queira te deixar?
_ Não, eu confio no amor do Jean, ele se arrastaria comigo para toda essa loucura.
_ E o que você pretende fazer?
_ O que pretendo fazer? _ Boa pergunta, o que eu pretendia fazer era esquecer tudo isso, chutar o balde sabe, porém nem mesmo sei se daqui a uns dias estarei andando, quanto mais chutando.
_ Gillian, dividir a sua dor, pode aliviar o peso.
Ele resignadamente balançava a cabeça em discordância:
_ Não quero dividir esse peso com o Jean, não vou aceitar que ele acabe com a juventude dele, se afastando de mim agora, sem saber dessa doença, ele poderá encontrar outra pessoa, ele poderá ser feliz.
_ E você Gillian, poderá ser feliz, sabendo que ele está com outra pessoa?
Ele não respondeu de imediato, seu rosto ficou tenso:
_ Não! _ Mas não tem muito que fazer de qualquer jeito ele terá que ser feliz com outra pessoa, eu nunca poderei fazer ele feliz, até por que o momento tudo o que posso fazer é me preocupar com um dia de cada vez.
_ Se é isso mesmo que pensa não acha melhor conversar com ele?
_ Tenho medo de não conseguir.
_ Vai mesmo querer adiar isso, eu sei que posso estar sendo dura com as minhas palavras Gillian, mas o Jean está desesperado por uma explicação, o sofrimento dele é de cortar o coração, todas as vezes que ele vem aqui. Hoje o seu pai até o abraçou sabia.
Gillian começou a chorar:
_ Ele não deve estar entendendo nada, do nada nossas vidas virou do avesso, um dia estamos felizes, fazendo planos para o futuro e de repente tudo se desfaz.
_ Gillian, eu sinto tanto por isso, mas você sabe que agora você passará por momentos difíceis, muita fisioterapia, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionistas entre outros profissionais, seu pai e eu estivemos conversando a respeito e pesquisando na internet um hospital, e encontramos um ótimo que trata dessa doença, nos EUA, o que você acha de ir morar lá?
_ Morar nos EUA?
_ Gillian, seu pai está muito arrependido de tudo o que te falou, e ao mesmo tempo ele está muito preocupado, eu sei que se ele pudesse trocar com você, ele iria preferir ele estar com essa doença e te ver com saúde, a sua indiferença o está matando.
_ Eu não posso dizer que essa situação me agrada Gláucia, é importante ter o meu pai do meu lado nesse momento, mas eu o queria do meu lado nos momentos em que eu estava feliz e ele se recusou estar.
_ Se permita a essa reconciliação, não apenas por você Gillian, mas por ele também.
Gillian a tranquilizou com uma concordância, levantando-se da cama, junto com Gláucia se juntou aos seus pais:
_ Chega de protelar o inevitável, pai será que o senhor poderia me levar á casa do Jean?
Seus pais trocaram um olhar e Solange perguntou:
_ Gillian, o que pretende dizer ao Jean?
_ Nada mãe, eu não posso ser egoísta e arrastar ele comigo para essa doença, vou deixá-lo livre.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...