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Em meia hora a casa de dona Solange estava lotada, seu Alberto fez questão de conhecer o pequeno Gillian, Gláucia e agora os não mais crianças e sim adolescentes também estavam todos ali para paparicar o mais novo integrante da família era bom ver como o garotinho havia sido acolhido no meio deles, ali só estava mesmo faltando o Gillian.

Jean observava a cena do menino correndo por aquele corredor que dava ao quarto que era de Gillian, Solange deve ter imaginado o pensamento dele, por que se aproximou falando:

_ Não mexemos em nada no quarto dele Jean, escolhemos manter intacto da maneira como ele gostava, tudo está do jeito como ele deixou, abrimos a janela para entrar um ar, limpamos sempre, mas tudo está da maneira como ele deixou, se quiser qualquer coisa você tem todo o direito de levar.

_ Depois eu dou uma olhada lá dona Solange, obrigado. Eu passei lá no cemitério para vê-lo.

_ Jean, você sabe que é como um filho para mim não sabe? _ Eu posso afirmar que o Gillian teve uma vida feliz ao seu lado, mesmo passando por tudo o que passou, o último pensamento dele foi você.

_ E o meu sempre será dele dona Solange, pode ter certeza disso, eu sempre o amarei.

_ A vida do Gillian foi muito curta, mas foi feliz por que você estava com ele.

Ela pausou a fala e sorriu, depois voltou a falar:

_ Você não pensa em casar?

_ Não existe outra pessoa, minha vida hoje é o meu trabalho e meu filho.

_ Como mãe do Gillian, você tem o meu respaldo de encontrar alguém e de ser feliz Jean, você merece.

_ Eu não sei se quero encontrar alguém dona Solange.

_ Mas deveria meu filho.

A voz de Alberto se fez ouvir e ele colocou a mão no ombro de Jean:

_ A Solange tem razão, o trabalho é muito bom, filho melhor ainda, mas um relacionamento vai te fazer bem, a sua história com o Gillian não vai ser apagada se acaso encontrar uma pessoa que te fará feliz, mas digo logo que terá que trazê-lo aqui para que nós o conheçamos e julgamos se ele será realmente bom para você e nosso neto. Jean... Quando você apareceu na vida do Gillian, eu fui intransigente, me recusei a estar perto, eu perdi tempo sendo ignorante e acabei afastando o meu filho, quando vi que poderia perder o Gillian para sempre foi que caí na real e aprendi que cada minuto é importante, cada segundo é essencial para estar perto de quem gostamos a medida que os segundo, minutos, horas, dias e meses se passava eu fui te admirando como o ser humano incrível que você é, eu não sei se tenho esse direito de te considerar um pouco meu filho também, mas sempre que vou me referir a você eu digo que tenho cinco filho, o Gillian, o Eduardo, a Gleice, a Keity e você filho. E agora tenho um neto lindo, obrigado, por me proporcionar tamanha felicidade e nos deixar participar do seu momento de ser pai.

_ Com o Gillian eu aprendi que amar é muito além do que dizer a palavra amar, antes de namorar o Gill, eu pensava que amar era o sexo, o toque, beijar, abraçar... Lógico que isso é importante, é gostoso, mas amar vai muito além disso, amar é renuncia do seu próprio eu para se entregar ao outro, amar é olhar no fundo da alma e enxergar o coração, o que eu vivi com o Gillian será impossível viver com outro alguém.

_ Jean, cada história é uma história diferente, é um erro comparar um amor por outro, se alguém um dia entrar na sua vida, comece uma nova história, não queira fazer um fragmento do que viveu com o Gillian, isso não será correto com a pessoa, afinal a pessoa não entrará na sua vida como um possível substituto de uma história que passou, e sim o começo de uma nova história.

Jean assentiu e sorriu, apontando para o quarto:

_ Eu posso.

_ Claro, nem precisa pedir, aquele quarto também foi um pouco seu, ainda tem algumas peças de roupas suas penduradas no guarda-roupa também.

Jean levantou-se e caminhou até a porta, respirou e moveu a maçaneta, de portas fechadas, Jean sentou-se na cama, a mesma que Gillian ocupava, a fronha era nova, ainda assim ele passou a mão por ela com a lembrança viva do corpo de Gillian ali. Depois levou o travesseiro a sentir o cheiro, não mais tinha o cheiro dele.

Em seguida ficou ali em silêncio a tocar nas roupas dele, e retirou um casaco que ele gostava de usar, e para sua surpresa, no bolso interno tinha um envelope direcionada a ele, com as mãos trêmulas e o choro preso ele pegou aquele envelope e abriu:

Jean:

Não sei se essa carta chegará a suas mãos, eu estou aqui em uma noite de plena solidão, pensando em nós, nos nossos planos, no futuro que imaginávamos para nós dois.
Hoje não sei se teremos tempo, e nem sei se terei a chance de te explicar o motivo pelo qual te deixei daquela forma tão esdrúxula, você nem mesmo sabe que estou com essa doença, talvez me odeie, acredite Jean, muitas vezes pensei em jogar tudo para o alto e voltar ao Brasil, para os seus braços e viver esse sonho que é só nosso, mas então caio na realidade e vejo o quão egoísta eu estaria sendo em trazê-lo novamente para minha vida e novamente ter que deixá-lo.
Não sei quanto tempo me resta de vida, talvez um mês, dois, três um ano não sei, tudo o que sei é o que sinto, E me sinto só, me sinto vazio, me sinto doente sem você aqui.
Daqui a pouco irei ser submetido a mais um dos inúmeros exames que tenho que fazer e me pergunto, para que, se já sabemos onde isso irá acabar. Ai me vem uma esperança, ainda que remota de que eles encontrarão a cura para essa doença e eu poderei voltar para você.
Sobretudo sabemos que isso é improvável que aconteça, e só quero que sejas feliz, então te deixo livre, é difícil para eu escrever isso, mas encontre uma pessoa que te faças o que eu não irei conseguir te fazer feliz.
Eu não estou te deixando por vontade própria, mas preciso que sejas feliz por que te amo te amo Jean.

Para sempre seu: Gillian

Enquanto lia aquelas linhas, o sorriso se misturava ao choro, era inacreditável que aquela carta estivesse por ali durante 10 anos e que ninguém a encontrara. Ele enxugou as lágrimas, levando uma camiseta e a jaqueta com ele:

_ Ficarei com essas duas peças dona Solange.

_ Eram as peças que ele mais gostava de usar.

_ Eu encontrei uma carta que ele me escreveu quando estava lá no hospital dos EUA, estava no bolso interno da jaqueta.

_ Bem a cara do Gillian fazer algo assim. Eu nem imaginava que essa carta estivesse escondida ai.

_ O Gillian era mesmo uma caixinha de surpresa. Uma grata surpresa.

_ Agora que voltou Jean, pretende ficar quanto tempo?

_ Eu pretendo me fixar aqui seu Alberto, acho que será importante para o Gillian conviver com a família, os EUA é um excelente país, mas ele acaba ficando muito tempo sozinho com a babá, aqui ele terá meus pais, vocês e se sentirá o que é conviver em família. E aqui é o meu país, minha casa.

_ Eu acho muito bom ter vocês por perto.

_ Eu também.

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora