24

233 14 6
                                    

Durante a volta, Solange não conseguia pensar em nada para dizer, Gillian também estava silencioso, e ela respeitou esse momento dele. Entretanto assim que entraram porta á dentro antes que ele se trancasse naquele quarto ela interveio:

_ Gillian, filho você já pensou em como contará isso ao Jean, quer que eu esteja presente para ajudá-lo?

As lágrimas banhavam o seu rosto quando ele respondeu a pergunta de sua mãe:

_ Ele não saberá.

A dor estampada no rosto de Gillian:

_ Como assim não saberá Gillian, como pretende esconder isso dele?

_ Terminando com ele.

_ Não é justo com ele, não é justo com você filho.

_ Ele não precisa viver essa doença, ele é jovem, tem uma vida inteira pela frente, sou eu que estou condenado.

_ Eu tenho certeza de que ele não vai abandoná-lo Gillian, se você quiser, eu mesma falo com ele.

_ Se fizer isso, eu me mato, já estou morto mesmo, só adianto o processo.

_ Nunca mais fala em se matar tá ouvindo Gillian, nunca mais. Prometa-me que você não vai se entregar assim tão fácil, nós podemos lutar contra essa doença.

_ Diz que tudo isso é um sonho ruim mãe, que eu vou acordar e nada disso está acontecendo.

_ Eu daria a minha vida para isso ser verdade Gillian.

Os olhos dele nunca ficaram tão distante como naquele momento, a impressão que Solange tinha era de que ele havia perdido toda a esperança:

_ O Jean ficou de passar a noite aqui, diga a ele que não quero vê-lo.

_ Gillian, não é certo isso filho, ele não vai entender nada.

_ Inventa qualquer coisa então, só não permita que ele entre para me ver, eu não vou aguentar mãe, não vou.

_ Tá certo Gillian.

Solange se aproximou para abraçá-lo, mas Gillian se esquivou:

_ Eu não quero que me olhe assim mãe, com pena.

_ Eu jamais te olharia com pena, esse é um olhar de amor. Eu te amo Gillian, sou a sua mãe, você saiu de dentro de mim, o seu sofrimento é o meu sofrimento filho.

Gillian voltou e a abraçou:

_ Perdão mãe, eu juro que não queria estar doente, me perdoa.

Os dois choraram juntos, abraçados, depois ele deitou no colo de sua mãe e ela lhe afagava os cabelos e assim ele adormeceu.

No finalzinho da tarde Jean chegou, sem saber o que acontecia desenhava o sorriso em seu rosto:

_ Oi dona Solange, o Gillian está no quarto?

_ Jean... O Gillian ele não está bem. Essa noite não foi a das melhores, ele precisa descansar.

_ O que é que ele tem dona Solange, está doente?

_ Doente... Não, ele não está doente. Só teve uma noite agitada.

_ Porque tenho a impressão de que a senhora está chorando, o que é que o Gill tem?

_ É impressão sua, não estou chorando. O Gillian está bem.

_ Posso pelo menos dar um beijo nele?

_ É melhor não Jean, ou ele poderá acordar.

Triste Jean concordou com ela, depois se despediram e quando ele se foi, Gillian saiu do quarto:

_ O que disse a ele?

_ Que você estava dormindo. Vai mesmo esconder isso dele?

 _ O que eu posso oferecer a ele com essa doença, uma vida condenada a ficar ao lado de alguém limitado.

_ Eu não gosto de ouvir você dizer esse tipo de coisas Gillian, você não é limitado.

_ Não sou, mas vou ficar. A senhora escutou o que o médico disse, que daqui a uns anos, meses sei lá, eu poderei perder os movimentos, a fala, a respiração, você estava comigo quando aquela jovem chegou aquele hospital, lembra como ela estava, é daquela forma que eu ficarei mãe. A senhora viu o desespero do marido dela, eu não quero que o Jean fique daquela forma, não quero.

Poucas horas depois que Jean foi embora, a campainha tocou novamente e Gillian ouviu uma voz que reconhecia a quilômetro de distância, ele saiu do quarto atônito, mantendo uma expressão de tanto faz:

_ A senhora avisou a ele?

A pergunta a sua mãe era cheia de acusação:

_ Ele é o seu pai, precisava saber disso Gillian.

_ Gillian, assim que eu soube vim correndo para cá.

_ Para que? _ Para verificar que o seu desejo vai se realizar?

_ Meu desejo, como pode pensar que eu desejo que isso aconteça com você Gillian?

_ Você disse com todas as palavras, que desejava que eu morresse a permanecer com o Jean, pode festejar, eu vou morrer.

Alberto se ajoelhou diante dele:

_ Me perdoa filho, me perdoa, eu não disse isso de coração, eu amo você Gillian, vamos me diga o que quer que eu faça, quer que eu vá falar com esse rapaz e pedir perdão a ele, eu faço.

_ Não, eu não quero nada... O Jean não participará desse momento em minha vida.

_ Como assim Gillian, a Gláucia sempre me dizia que vocês eram apaixonados um pelo outro, só por que está doente, ele te abandona?

_ Já se viu que o senhor não conhece mesmo o Jean, alias nunca quis conhecer, eu tenho certeza do amor dele por mim, mas ele não precisa viver essa doença comigo, ele tem uma vida inteira para viver, é saudável, diferente de mim.

_ Me perdoa filho, eu fui totalmente ignorante, deveria ter participado da sua vida. Eu não posso voltar atrás, não posso mudar o que passou, mas não me proíbe de estar com você, de apoiar você nesse momento.

_ Tanto faz.

Sem dizer mais nada, Gillian retornou ao quarto de fechando lá dentro. Sempre quis a aprovação de seu pai, sempre quis que ele participasse de sua vida, mas naquele momento a presença dele ali, não fazia a menor diferença, não mudaria em nada o seu estado.
E exatamente por estar naquele estado que lembrava nitidamente cada palavra que seu pai lhe dissera o dia em que revelou estar gostando de Jean.
Seu pai lhe fazia sentir sentimentos contraditórios, ao mesmo tempo o queria ali naquele momento, pois não era certo que sua mãe enfrentasse isso sozinha, mas ao mesmo tempo o queria longe por lembrar cada palavra dita por ele.

Algo que era certeza, seu pai rompera com a confiança, com o companheirismo que sempre tivera ao mesmo tempo uma fagulha de um sentimento fraterno ainda existia. Ter ele ali, não lhe era indiferente, significava algo, ele só não sabia dizer se bom ou ruim.

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora