Não havia como explicar o que Jean estava a sentir, uma fragilidade monstruosa diante do que Douglas lhe dizia, uma imensa vontade de chorar ao mesmo tempo em que sentia que deveria ser forte para conhecer toda aquela história.
Há exatos dois anos, havia acumulado tanta mágoa acreditando que Gillian lhe havia abandonado, e agora a descoberta, caia como uma bomba no seu colo. De repente ele saiu correndo noite afora, sem olhar para trás, corria rumo ao hospital que ficava á quase trinta minutos da sua casa, não conseguia mais chorar quando chegou à entrada do hospital, porém não teve coragem para entrar, não estava pronto, sentou em um banco de concreto que ficava na frente do estacionamento, carros chegavam e carros saíam, e foi nesse rodízio que mais um carro estacionava Gláucia e Alberto, descia apressados, quando Gláucia cutucou o marido a apontar para Jean. O rapaz estava nocauteado, seu semblante transbordado de tanta angustia e tristeza que nem percebeu a chegada de Alberto que colocou a mão em seu ombro, ele ergueu o olhar:
_ Oi Jean, posso me sentar aqui com você?
O rapaz confirmou em um movimento congelado:
_ Havia tantos fragmentos nessa história que não se encaixava nesse quebra-cabeça que agora que tenho uma parcela da informação, tudo parece se encaixar tão bem, por que me esconderam isso?
_ O Gillian preferiu não te envolver nessa fase de hospitais, a Solange até tentou fazer com que ele te contasse, mas ele não quis.
_ Ele não cofiou no meu amor?
_ Isso não é verdade Jean, foi exatamente o contrário, por que ele sabia que iria entrar de cabeça nessa luta diária que ele tem enfrentado é que preferiu te manter afastado, mas acredite, para ele foi mais difícil do que para qualquer um de nós. O Gillian não apenas teve que enfrentar essa doença, mas teve que enfrentar a solidão, ter que ficar longe de você, o que mais o magoa é ver as pessoas que ele ama sofrer.
_ Ele não tinha o direito de me excluir da vida dele.
_ Meu filho é muito teimoso, você deve saber disso, quando coloca uma coisa na cabeça não tem quem o faça mudar de ideia. Você pensa que ele queria te excluir... Não Jean, esses dois anos que esteve longe de você, foi os piores anos da vida dele, eu conheço o meu filho e sei que o que estava mais matando ele, não era a doença.
_ Eu não conheço essa doença, ELA né, como ela funciona, quais os sintomas, eu preciso saber.
Toda informação que recebesse seria importante, agora que estava ciente do que Gillian enfrentava, queria entender para ajudá-lo em tudo:
_ ELA- é uma doença degenerativa e progressiva, é uma doença que não tem cura, que paralisa, que afeta a fala, a respiração, que o deixará em uma cadeira de rodas, em um tubo de respiração. É isso o que o Gillian está enfrentando, e é por isso que ele não quis que você estivesse por perto, o meu filho Jean, meu menino será em breve dependente totalmente de outra pessoa, então mesmo sabendo que você o ama, e que ele te ama, se você não estiver preparado para viver isso vá viver sua vida, mas eu sei que ele precisa de você, posso estar sendo egoísta com você em te pedir que não seja cruel a se aproximar dele nesse momento para mais tarde abandoná-lo.
_ Eu sei que o senhor não me conhece, não conheceu o que vivemos, o amor que compartilhamos, tenho certeza de que se soubesse jamais imaginaria que eu o abandonaria, o Gillian é a minha vida, esses dois anos em que estivemos separados, me destruíram, a cada dia me matava um pouco. Eu perdi a esperança do amor sincero, perdi os meus sonhos, e agora saber que o Gillian não deixou de me amar, mesmo que eu viva dias difíceis, dias de choro, eu jamais o abandonarei.
_ Jean eu me arrependo muito de não ter presenciado os anos que o meu filho estava feliz ao seu lado, eu daria a minha vida para ter a oportunidade de ter compartilhado mais da vida dele, por mais que ele tenha me perdoado, eu preciso que você também me perdoe.
_ O que passou, passou seu Alberto, agora todos nós vamos juntar as nossas dores para o bem do Gillian, é tudo o que eu peço, que a dona Solange e o senhor não me impeça de cuidar do Gillian.
_ Isso será muito importante para ele, obrigado Jean, eu entendo agora o motivo do meu filho te amar tanto.
Jean já se achava pronto para enfrentar toda a situação, embora tudo aquilo o assombrava, sentiu um aperto em seu ombro e a voz de Alberto lhe perguntar:
_ Preparado?
Meneando a cabeça negativamente, respondeu:
_ Sim, estou com um pouco de medo, mas tenho que está preparado.
_ Eu me sinto do mesmo jeito Jean, já te digo que não será fácil. Eu ainda não sei como ele se encontra depois de hoje, mas o que a Solange me contou na ligação é que ele forçou muito a musculatura e que não estava usando a bengala. Acho que você não sabe, mas o Gillian já não sustentava o próprio corpo sem o uso da bengala, mas não quis aparecer diante de você com ela, por isso se arriscou e acabou acontecendo o que aconteceu.
_ Foi minha culpa?
_ Não! _ Ele sabia dos riscos e mesmo assim ele só quis ter uma noite como qualquer jovem comum, se alguém tem culpa, esse alguém sou eu que ainda me aborreci com a mãe dele dizendo que ela o tratava como criança, mesmo sabendo do que se passava com ele, eu fui negligente com os cuidados que ele deveria ter.
Uma conclusão que Jean logo de cara entendeu é que não existia culpados nessa história, não existiam monstros, existiam pessoas que erravam sim, na tentativa de acertar, tudo o que existiam eram pessoas com sentimentos que amavam Gillian em sua peculiaridade.
Foi um erro manter Jean afastado, deixar ele na ignorância sobre o que acontecia, mas também foi errado Jean julgar o amor de Gillian tão frágil.
Gillian voltou para ele, e ele consequentemente voltaria para Gillian.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...