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Ainda a temer pela resposta, Jean voltou o olhar de um a outro explodindo em lágrimas que tentava reter com as costas da mão, mas essas continuavam a correr por seu rosto, contudo ele não precisou novamente perguntar e dona Solange se aproximou e enxugou uma de suas lágrimas:

_ Jean, o Gillian é o meu filho eu tenho obrigação de cuidar dele, eu sei do amor que você tem por ele, mas, você é tão jovem, tem a vida toda pela frente...

Ela cessou o falar, mudando o discurso:

_ Não há como tomar decisões com toda essa confusão na cabeça, vamos deixar essa conversa para amanhã, com mais calma, vamos primeiro ver como o Gillian vai reagir com a notícia da cadeira de rodas?

_ Dona Solange, o Gillian é o amor da minha vida, foram dois anos tentando entender o motivo pelo qual ele terminou comigo daquela forma e agora eu sei, vocês decidiram sozinhos me manter afastado, não foi o que eu escolhi.

_ Eu sei Jean, eu sei, tudo isso é muito difícil, não é uma situação fácil para nenhum de nós, mas o Gillian vai receber uma notícia que vai mudar ainda mais a vida dele, eu só quero protegê-lo, só quero que meu filho fique bem.

_ Eu também, tudo o que quero é permanecer ao lado dele, vocês não tem direito de me excluírem da vida dele assim.

_ Você tem razão, nós não temos esse direito, mas na verdade eu nem sei mais o que é certo e o que é errado, não é justo o meu filho estar passando por isso, não é justo.

No fim os dois concordaram que naquela noite eles não teriam condição alguma para aquela decisão, adiaram para o dia seguinte:

_ Vamos fazer o seguinte Jean, vamos espairecer a mente hoje e tentarmos encontrar uma maneira menos dolorosa para falar com o Gillian sobre sua condição de agora em diante, e depois decidimos isso, mas eu sou muito grata pelo amor que tem por ele.

_ Isso mesmo Jean, a Solange está certa, não podemos decidir nada no calor do momento, mas tenho certeza de que tudo se encaixará perfeitamente bem.

_ Tudo bem seu Alberto, tudo o que eu quero é ter a chance de ficar ao lado dele.

_ A melhor coisa que podemos fazer agora é ir para casa, não poderemos ficar com o Gillian hoje e teremos que estar preparados para amanhã.

_ Dona Solange, posso pedir só mais uma coisa?

_ Jean não me veja como um carrasco, eu não sou, claro que pode me pedir o que quiser, se eu não respondi de imediato o seu pedido sobre cuidar do Gillian, não foi por mau, acontece que eu tenho que ponderar o que será melhor para ele. Diga o que quer me pedir?

_ Eu não gostaria de voltar para minha casa hoje, meus pais estão de viagem e eu não quero ficar sozinho, será que me permite dormir no quarto do Gillian hoje, assim eu me sentirei mais perto dele.

Ele temia que ela recusasse, a encarava um pouco tímido, mas sem desviar o olhar, ela estava emocionada quando respondeu:

_ Você sempre será bem vindo a minha casa Jean.

_ Obrigado, eu só precisarei fazer uma ligação e então poderemos ir.

Jean retirou o celular do bolso e quando olhou o visor havia 15 ligações de seus pais, 5 de Stephanny e 2 do Douglas. A primeira ligação que fez foi para os pais, mas tocou, tocou e nenhum dos dois atendeu, em seguida mandou uma mensagem para Douglas dizendo apenas que estava bem, e enfim ligou para Stephanny:

_ Alô Jean, que bom que você ligou, eu já estava ficando preocupada com esse seu sumiço, assim que seus pais souberam o que aconteceu resolveram voltar de viagem imediatamente, nesse momento eles devem estar em um avião de volta á São Paulo.

_ É eu liguei para eles agora e eles não atenderam. Eu estou aqui no hospital com os pais do Gillian, liguei para avisar que irei dormir na casa da dona Solange.

_ Pode ficar em paz Jean, eu cuido de tudo por aqui, só sairei daqui quando seus pais estiverem de volta, mas diga, como o Gillian está?

_ Stephanny, amanhã conversamos sobre isso, só diga aos meus pais, para não se preocuparem, eu estou tentando ser forte, eu preciso ser forte pelo Gillian.

Conversaram por mais dois minutos e Jean retornou para perto de dona Solange e seguiram juntos para a casa dela, ali onde tantas lembranças existiam.

Dona Solange fez com que ele comesse uma sopa mesmo que não tivesse fome e os dois sentaram no sofá um de frente ao outro:

_ Eu não sei como o Gillian vai reagir com essa notícia Jean, eu não queria que meu filho sofresse tanto. O que foi que fizemos para receber um castigo tão pesado assim?

_ Dona Solange, o Gillian é mais forte do que a senhora e eu imaginamos, tenho certeza de que ele vai nos surpreender no começo vai ser difícil, vai ser doloroso, mas eu sei que ele vai superar.

Jean tentava se convencer do que dizia, ainda que parecesse convencer dona Solange:

_ É verdade, meu filho é um guerreiro. Jean... Não leve em consideração o que eu disse lá no hospital, claro que permitirei que fique ao lado do Gillian, por mais que ele te manteve afastado esse tempo todo, eu sei que o desejo dele era ter você ao lado dele nos momentos mais intenso da doença. Houve noites que ele chorava sozinho no escuro achando que não víamos.

_ Se eu soubesse, não o teria deixado dona Solange, eu ficaria do lado dele em todos esses momentos, mas ele me deixou na ignorância, eu tive até que ser hospitalizado com um quadro de início de depressão.

_ Ele achou que estava fazendo o melhor por você, meu filho te ama tanto que achou que abrir mão desse amor te daria a chance de viver uma vida que ele estava condenado a não viver.

_ Eu sofri muito esses dois anos, me alto flagelei achando que havia feito algo de errado e por isso ele havia me deixado, mas por mais que eu procurasse o motivo, as lacunas parecia nunca serem preenchidas.

_ Eu sei que ele te quer ao lado dele Jean, mas não sei como ele vai receber a notícia de que terá que ficar em uma cadeira de rodas justamente no momento em que você soube de toda a verdade, confesso que estou com medo de como ele ficará, então eu te peço que tenha um pouco de paciência se ele disser que não o quer ao lado dele nesse primeiro momento.

_ É por isso que ainda não decidiu se me deixará ficar com ele, por que tem medo dele não me querer?

_ Eu não te quero mal Jean, como posso desejar mal a alguém que ama um filho nosso, mas é como eu disse, tudo o que eu quero é proteger o Gillian, eu queria poder voltar a pegar o meu filho nos braços, encostá-lo no meu peito e dizer, tá tudo bem filho, eu estou aqui com você, não vou deixar nada e nem ninguém te machucar, nunca, eu estou aqui com você.

_ Que coisa dona Solange, acho que vamos brigar muito.

_ Brigar, como assim?

_ Sim brigar, por que não abrirei mão de fazer o mesmo com ele, deixarei claro que eu o amo acima de qualquer coisa, e que nada será capaz de me fazer ir embora, mesmo que ele me peça isso.

Mesmo chorando dona Solange sorriu:

_ É isso dona Solange, vamos enchê-lo de carinho e amor, ele sentirá que jamais estará sozinho, e quando o fardo estiver pesado para a senhora carregar, eu estarei ali para ajudá-la, e quando o mesmo acontecer comigo, a senhora estará ali, e ele jamais vai se sentir sozinho. 

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora