O coração de Jean batia descompassado ao encontro com dona Solange, os dois se abraçaram e as palavras ficaram em segundo plano, tudo o que os dois faziam eram chorar naquele abraço apertado, Gláucia também não segurava as lágrimas.
Ao interromper aquele abraço, Jean ainda com a voz embargada, teve que pigarrear duas vezes antes de perguntar:
_ Como é que ele está?
_Os médicos ainda estão com ele, tudo o que eu sei foi dito por uma das enfermeiras que disse que a situação é grave, mas ela não me disse mais nada, só disse que o médico viria falar com a família quando terminasse.
_ Mas já faz quase uma hora que o trouxeram?
_ É sempre essa tortura, nos deixam aqui sem notícia alguma.
A espera era angustiante, Solange sacudia a cabeça lentamente de um lado a outro, ora sentava, ora levantava. Jean até queria aplacar a dor que ela sentia, mas como poderia fazer isso se ele próprio também estava da mesma maneira. Poucos minutos depois um médico aparecia, expressão fechada, as marcas do rosto bem marcantes:
_ Me sigam até a minha sala.
Jean foi o primeiro a levantar, porém o doutor avisou:
_ Só os familiares.
_ Ele é da família doutor.
Alberto se adiantou, sem dizer mais nada o doutor seguiu até uma sala, quando todos entraram, ele apontou as cadeiras, onde Gláucia e Solange sentaram, os homens permaneceram em pé. O doutor abriu a pasta do prontuário com todas as informações sobre Gillian e foi enfático:
_ O inevitável aconteceu.
Todos estavam atentos ao que o doutor tinha a dizer, mas a primeira frase não foi nada animadora:
_ Que inevitável?
_ Eu já havia dito a vocês quando diagnosticamos o Gillian de que era um milagre ele ainda estivesse de pé, vocês o levaram aos EUA, iniciaram a fisioterapia e isso o ajudou por um tempo, mas como já prevíamos a locomoção do Gillian já estava limitada, a bengala ou o andador era apenas um auxílio em curto prazo, o corpo dele já não está sustentando o peso, de inicio o hospital disponibilizará de uma cadeira de rodas, mas já digo que as que tem aqui no hospital não é a adequada para o caso dele, para o caso dele em especial sugerimos uma cadeira de rodas reclinável que é ideal para o caso de ELA.
Não demorou muito para dona Solange começar a chorar:
_ Meu filho terá que ficar em uma cadeira de rodas, ele não irá mais andar doutor?
_ Eu sei que é difícil, mas os danos da noite foram até menor do que se possa imaginar, se formos olhar a gravidade da doença. O Gillian forçou tanto a musculatura que causou um dano irreversível os nervos dele atrofiaram.
Querendo se armar do máximo de informação possível, foi então que Jean o questionou:
_ Doutor o senhor falou que esse quadro é irreversível, que o Gillian não mais voltará a andar, o que quero saber é como podemos ajudá-lo agora?
_ O paciente nessa etapa tende a ficarem introvertidos, eles se sentem incapazes de fazer coisas que sempre fizeram como andar, dançar, jogar, eles perdem o direito e ir e vir na visão deles, essa introversão faz com que outros sintomas venham a agir em seguida. O Gillian nesse momento está com as parte posteriores de seu corpo paralisado, os nervos atrofiados, eu vou encaminhá-lo a fisioterapeuta respiratória, eles vão trabalhar a atualização e avaliação respiratória eles irão trabalhar na área da musculatura inspiratória, expiratória e a respiratória bulbar.
_ Poderia explicar para que servem essas áreas?
_Bom a musculatura inspiratória está diretamente relacionada com a ventilação então os pacientes começam a apresentar a respiração mais rápida e superficial, diminuição de volumes pulmonares que vai acarretar em quadro de atelectasia, microtelecomazia, quadro de pubeíte relação ao violar a alteração de ventilação perfusão, ou seja, a diminuição de oxigênio e o aumento do gás carbônico..
A medida que o doutor explicava, Jean tentava memorizar as partes mais importante, já pensando em anotar tudo o que o doutor falava. Embora tudo aquilo fosse novo para ele, queria se inteirar de tudo, pois desejava estar na linha de frente para o ajudar nessa fase tão difícil para todos, mas principalmente para Gillian:
_ Entendi doutor, então o Gillian terá que fazer o tratamento para ajudá-lo com a musculatura da respiração, esses três grupos, é isso, e o que mais é possível fazer para que ele se sinta melhor?
_ São várias etapas, tem os exercícios, a fonoaudiólogo para ajudá-lo na fala, mesmo com o avanço da doença, o apoio da família é essencial, é comprovado cientificamente que um paciente que é bem tratado, tem uma condição de sobrevida maior do que um paciente apático, normalmente a apatia acaba avançando a doença.
Ele continuava a explicação:
_ A fisioterapia motora, tem como objetivo corrigir e restabelecer as condições físicas do paciente por meio de exercícios e alongamentos. Eles são prescritos de acordo com a individualidade e as necessidades que o Gillian vier a ter, isso o ajudará nos movimentos, sua força, postura e mobilidade, além de isentar as dores que o atingirão. Bem mas isso somente a fisioterapeuta poderá avaliar e prescrever para a manutenção da amplitude de movimento para o Gillian, é importante salientar que não devem fazer exercícios por conta própria, ou poderão ao invés de ajudá-lo, acabar fraturando algum nervo ou osso. E a fonoaudiólogo normalmente irá usar as técnicas com o Ambu, que vai ajudar na produção da tosse, que é essencial na proteção de via aérea inferior e para alimentação por via oral de forma segura.
Depois de mais algumas explicações, ele acabou e de uma maneira bem concisa deu o final da explicação:
_ No resumo, os danos foram menores, agora eu os aconselho a irem para casa descansar, o Gillian provavelmente só irá acordar amanhã devido aos medicamentos, e amanhã voltem conscientes que será um dia difícil para ele. Haverá choro, o primeiro impacto nunca é fácil para o paciente entender que perdeu os movimentos da cintura para baixo, ainda mais quando se sabe que em breve essa paralisia também atingirá a parte superior do corpo.
_ Eu não posso vê-lo doutor?
_ Hoje as visitas não serão possíveis, mas amanhã é importante que estejam aqui para que ele veja que não está sozinho.
Jean deixou o consultório em pedaços, o choro preso, ainda assim virou para dona Solange a pedir:
_ Dona Solange, eu sei que não conheço muito essa doença, que tudo o que eu sei é o que eu escutei aqui hoje do doutor, mas eu tenho algo para pedir a vocês três, seu Alberto, Gláucia e dona Solange, não me impeça de estar ao lado do Gillian, eu quero estar com ele.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...