Aquele final de semana foi realmente intenso, por dois dias inteiros Gillian pode esquecer a doença, mesmo que estivesse condicionado a ficar na cadeira de rodas.
A brisa da manhã, os pássaros a cantar, o banho no riacho, o piquenique na grama verde, tudo isso pareceu um grande sonho, tudo era calmaria, Jean fez um anel com um pedaço de grama e colocou no dedo de Gillian, assim como fez o mesmo para ele:
_ A partir de agora estamos casados.
Não era verdade, os dois sabiam disso, porém era tão real o desejo de ambos que Jean sorriu... Gillian não.
Voltando à sede da fazenda, Jean colocou Gillian na cadeira de rodas e seguiu para o banheiro, ligou a torneira verificando a temperatura para encher a banheira e levou Gillian para um banho á dois, com a água tépida molhava seus cabelos, e ensaboava o seu corpo, vez ou outra beijava seu rosto, descendo por seu pescoço, com a voz envergonhada Gillian falou:
_ Jean, eu queria muito, mas não vou conseguir.
Jean emitiu uma risadinha respondendo:
_ Bobo, o nosso amor vai além do desejo carnal. O sexo não é tudo.
_ Não é, mas é importante. Não tem como mentir que nesse momento nós dois estaríamos fazendo amor.
_ Sim, estaríamos, mas não é isso o que nos conecta, as nossas trocas vão muito além do sexo, não vou mentir que o sexo é algo bom, mas não é a prioridade.
Gillian conseguiu esboçar um sorriso fraco. Os dois dormiram na mesma cama, abraçadinhos, na manhã seguinte Margarida já havia preparado uma cesta de café e deixado em cima da mesa, tudo bem picadinho para que Gillian não engasgasse, algumas frutas até batida em liquidificador, não tinha nada consistente, nada difícil de se engolir.
Depois do café da manhã, Jean ainda o levou para passear, pois no final da tarde eles voltariam á cidade, ele levou Gillian para conhecer os caseiros Victor e Margarida, e antes de voltarem para casa, ficaram os dois na varanda olhando a paisagem, enquanto conversavam sobre o final de semana, Jean fazia uma leve massagem na mão de Gillian:
_ Eu estou muito agradecido por ter tido a oportunidade de estar aqui com você Jean, eu não sei do dia do amanhã, mas o final de semana foi perfeito. Obrigado.
_ Teremos muitas outras oportunidade, não é o fim, não é.
Gillian não falou nada, apenas o olhou fixando o olhar sobre o dele.
Victor ajudou Jean a posicionar Gillian no carro e depois da despedida, seguiram para casa, contudo quando foram chegando perto da cidade, a mudança de ar começou a pesar para Gillian, sua respiração começou a ficar mais ofegante, ainda assim chegaram a casa de dona Solange bem, Alberto e Gláucia estavam lá esperando os dois chegarem de viagem e ajudaram a colocar Gillian no quarto para descansar, Jean ficou um pouco conversando com eles e depois os deixou e foi para casa.
Não tinha fome mesmo que seus pais houvesse preparado um jantar farto para quando ele chegasse de viagem, ele apenas deu um beijo em seus pais, tomou um banho e foi direto para a cama, dormiu em segundos.
Logo de manhã, por volta dás 07h o telefone tocou insistentemente, Fabíola foi a mais rápida em atender, a medida que ela ouvia a outra pessoa do outro lado da linha levou a mão a boca e enfim desligou o telefone:
_ Jean... Você precisa ir imediatamente ao hospital, o Gillian foi internado.
Jean correu para o quarto e enquanto se trocava perguntava apressadamente a sua mãe:
_ O que foi que aconteceu, ele estava tão bem.
_ Ele teve uma complicação com a respiração, eu acho que foi a mudança de ar, na fazenda o ar é mais puro e aqui tem esse ar poluído.
_ Eu deveria imaginar mãe, eu não pensei nesse detalhe.
_ Eu não vou aceitar que você se culpe.
Ele nem chegou a escovar os dentes, apenas jogou uma água no rosto, deu um beijo mais no ar do que no rosto de Fabíola e dirigiu em alta velocidade ao hospital, encontrou Solange na sala de espera e já foi logo perguntando:
_ Dona Solange, o que aconteceu?
_ A noite foi tranquila, ele dormiu a noite toda, eu fui várias vezes no quarto para olhá-lo e estava tudo bem, mas hoje de manhã ele estava sufocando, sem consegui respirar, não teve jeito a não ser trazer ele ao hospital.
_ A senhora fez bem, mas o que os médicos disseram?
_ Eles chamaram um responsável lá dentro, o Alberto está com o doutor, eu fiquei preenchendo a ficha da internação.
Enquanto esperavam por alguma noticia, Jean contorcia as mãos úmidas que as enxugava na calça jeans desbotada que usava, e só então percebeu que estava com os pares de tênis trocados, um era branco e outro vermelho, mas nem ligou para esse detalhe pois exatamente nesse momento o pai de Gillian surgia no corredor andando lento e cabisbaixo:
_ Então seu Alberto, o que foi que os médico falaram?
_ O Gillian...
Ele fechou os olhos demoradamente, Jean mordia o lábio inferior já desesperado:
_ Fala homem, o que foi que o doutor disse?
Dona Solange se adiantou:
_ Ele sofreu uma parada respiratória, os médicos conseguiram trazê-lo de volta fazendo uma sucção imediata agora o colocou no oxigênio, mas...
_ Mas? _ Alberto fala logo, não faz esse suspense todo não homem.
_ Eles querem fazer a traqueotomia.
_ Isso era tudo o que o Gillian temia, ficar preso aquela máquina, há dois anos ele presenciou uma cena lamentável de uma moça que precisou receber ventilação.
_ Eu não posso decidir isso sozinho Solange, nós dois teremos que assinar. O doutor disse que o Gillian precisa levar oxigênio ao sangue e não está conseguindo, por isso terá que usar um aparelho chamado bipap, esse aparelho irá auxiliar a troca gasosa adequada e reduzirá o trabalho da respiração isso vai diminuir os riscos que ele tenha uma infecção respiratória, mas esse equipamento é caro, custa em média 20 mil.
_ Nós não temos todo esse dinheiro Alberto...
_ Eu tenho a minha poupança, devo ter por volta de 3 mil.
_ Jean... Não tenho o direito de te pedir isso.
_ Seu Alberto, o dinheiro é o que menos importa agora, tudo o que temos que fazer é tentar fazer com que o Gillian tenha uma sobrevida melhor. Nós vamos dar um jeito.
No mesmo instante Jean começou a mobilizar, ligou para seus pais que sem mesmo questionar disponibilizaram a quantia de 7 mil, agora tinham no total 10 mil, faltavam mais 10. Logo depois ligou também para Stephanny.
Dona Solange tinha 5 mil e Alberto vendeu o carro no mesmo dia á 13 mil, no final do dia já tinham a quantia necessária para o aparelho bipap.
Com o problema do dinheiro resolvido era a hora de decidir se permitiriam que o Gillian fosse submetido a traqueotomia que traria algumas consequências, o Gillian iria perder a fala e a capacidade de engolir, teria que se alimentar por uma sonda, gástrica.
Era hora de agir na praticidade e não na emoção, a traqueotomia era importante, mas saber que Gillian não desejaria ficar condicionado àquela máquina era que gerara dúvidas em todos, mas resolvido que iriam permitir, dona Solange e seu Alberto assinaram o documento.
Mais uma vez voltaram para casa, tendo que deixar Gillian lá no hospital, os médicos avisaram que ele se encontrava em estado comatoso.
Não demorou meia hora em que chegaram á casa de dona Solange quando a campainha tocou e ela foi atender, Stephanny e Douglas estavam ali, nos abraçaram e entregaram um envelope na mão dela com a quantia de 50 mil.
_ Todas as pessoas que procuramos nos ajudaram com um pouco de dinheiro, e conseguimos o dinheiro necessário.
_ Todos nós gostamos muito do Gillian, e queremos vê-lo bem. Assim que o Jean me ligou essa manhã, o Douglas e eu fomos conversar com os nossos amigos, e todos sem exceção nos ajudaram com o que tinham.
_ Muito obrigado aos dois e a todos os que ajudaram, meu filho fez bons amigos, ele ficará feliz em saber dessa atitude de todos vocês.
_ Eu também agradeço a vocês.
Dona Solange estava emocionada, e Jean chorava abraçado a Stephanny.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...