Na semana seguinte os olhares atravessados ainda eram persistentes em uma crueldade terrível, alguns cismavam em ofendê-los, e isso já estava passando de todos os limites, e ao presenciar uma cena lamentável onde Michael e alguns garotos cercaram Jean no corredor não permitindo que ele se afastasse, Gillian correu ao seu encontro empurrando Michael que foi ao chão, erguendo-se em um rompante para cima dele:
_ Qual é cara, nós só estávamos brincando com o seu namoradinho, não íamos deflorar ele não.
_ O que foi Michael, qual é o seu problema, é paixão enrustida, por que é o que está parecendo.
Jean segurava o braço de Gillian a puxá-lo:
_ Gillian, não vale a pena, eu já estou acostumado com isso.
_ Não Jean, tá errado, não temos que nos acostumar a ser ofendidos, a se tornar chacota de imbecis como o Michael, quem não sabe respeitar não tem direito de respeito.
_ O que é que está acontecendo aqui?
A voz altiva do professor fez com que os alunos se dispersassem cada um para a sua sala, apenas alguns alunos circulavam por ali:
_ Gillian, Michael o que é que está acontecendo aqui?
_ Foi apenas um desentendimento professor.
_ Dessa vez vou deixar passar por que sei da índole do Jean, sei que ele não é de se meter em confusão. Vão todos para a sala.
Contudo quando Gillian passou por Michael de mão dada com Jean escutou o moço dizer:
_ Dois Maricas.
Gillian cerrou os punhos e até pensou em acertar em cheio aquele rosto, mas ao invés disso apenas o segurou pela blusa a puxá-lo para bem perto:
_ Eu poderia acertar um murro bem dado nessa sua cara, mas nem isso você merece.
O professor que não havia escutado a provocação de Michael aproximou-se:
_ Gillian, solte imediatamente o Michael, os dois para a diretoria agora, eu tentei tratar o assunto na cordialidade, mas se querem tratar como brutamontes serão tratados como tal. Jean vai para sua sala.
Jean ainda tentou conversar com o professor mas não adiantou e os rapazes foram levados a direção, e questionado o porquê da briga, Gillian explicou sua versão assim como Michael apresentou a sua defesa, em silêncio o diretor ouviu ambas as partes e por fim com calma começou a falar o veredicto:
_ Nessa escola é inadmissível que isso aconteça, não toleramos nenhuma forma de bullyings, mas também não é certo ficar namorando pelos corredores, um erro não anula o outro, sendo assim punirei os dois.
_ Mas eu não fiz nada diretor.
_ Quero que os dois, tragam uma pesquisa na semana que vem para apresentar para todas as salas sobre quantos jovens menores de dezoito anos morrem no Brasil por causa do que você chamou de nada Michael, ou é isso ou serão os dois expulsos do time de futebol e não me importa que você seja o capitão Gillian.
_ Tudo bem diretor, eu não vejo problema em fazer isso.
_ Então o que diz Michael, o que você escolhe, a pesquisa ou a expulsão do time?
_ Eu não tenho muitas escolhas, então a pesquisa né.
_ Avisarei o professor Valdecy sobre essa atividade. Agora voltem para a sala de aula e não quero ver mais os dois por aqui.
No corredor a caminho da sala, Michael puxou assunto:
_ Viu o que você arrumou, agora teremos que palestrar para toda a escola.
_ Você que procurou por isso Michael, se não fosse a sua homo fobia, não precisávamos fazer nenhuma pesquisa.
_ Cara, desculpa se trato de um assunto íntimo, o que torna a nossa conversa difícil, mas o que deu em você para namorar um rapaz, você é o cara mais cobiçado entre as garotas, eu não entendo...
_ Se não entende, pelo menos respeite. As pessoas têm sentimentos, se coloque no lugar do outro, aí entenderá, colocar o Jean em uma rodinha de caras ofendendo ele, acha isso legal?
_ Só estávamos brincando cara, ninguém iria fazer nenhum mal a ele.
_ Brincadeira só é legal quando todos se divertem, quando alguém é oprimido não é brincadeira.
_ Tudo bem, eu fiz uma brincadeira sem graça, mas o próprio Jean disse que está acostumado.
_ Se manca Michael, acha que alguém se acostuma a ser ofendido só por ser quem é, e assumir isso.
Eles se calaram ao entrar na sala, cada um sentaram em seu lugar sob os olhares curiosos dos outros alunos, Gillian permaneceu em silêncio até o final da aula, mas assim que o sinal tocou, pegou suas coisas jogando na mochila sem ajeitar os materiais e saiu rumo a sala de Jean que logo o indagou:
_ E ai o que aconteceu, o que o diretor disse?
_ Vamos ter que fazer uma pesquisa.
_ Pesquisa do que?
_ Quantos jovens menores de dezoito anos morrem no Brasil por causa da intolerância sexual. Eu até acho que fazer essa pesquisa será válida para o Michael, mas palestrar para toda a escola será duro viu.
Jean sorriu tentando animar Gillian:
_ Acho que será bom, quem sabe assim alguns se conscientizam sobre o assunto, a homo fobia é um caso sério Gillian, muitos jovens da nossa idade quando se assumem são colocados para fora de casa e sem encontrar uma saída acabam indo para o caminho da prostituição. Eu te ajudarei na pesquisa.
_ Vai me ajudar ou me distrair?
O rapaz perguntou assim que chegaram a casa de Jean:
_ Podemos conciliar as coisas, eu proponho um pouco de pesquisa, um pouco de beijos, o que acha?
_ É uma boa proposta.
_ Então vamos lá para o quarto, lá teremos mais privacidade.
_ Só vou avisar a minha mãe que demorarei a chegar.
Gillian pegou o celular e ligou para sua mãe que atendeu em alguns toques:
_ Gillian...
_ Oi mãe, liguei para avisar que vim direto para a casa do Jean, vou ter que fazer uma pesquisa para apresentar na escola e ele irá me ajudar, então não precisa me esperar.
_ Gillian, os pais dele sabe que você está ai filho? _ Eu sei que vocês são jovens e os hormônios estão fervendo, mas eu fico preocupada dos pais do seu namo.. rado chegar e pegar você ai e não gostar.
_ Não precisa ficar preocupada mãe, os pais dele sabem sobre nós, e o aceitam como ele é. A dona Fabíola é muito legal.
_ Fico mais tranqüila em relação a isso filho.
Assim que ele desligou, Jean circulou os braços em seu quadril:
_ Ela estava preocupada de estarmos sozinhos?
_Pra ela ainda é difícil.
Jean beijou o rosto de Gillian ficando de frente a ele:
_ Eu entendo, não foi fácil para minha mãe também.
_ Mas ela te aceita como é.
_ Agora ela vê com naturalidade, não foi assim no começo, ela teve um início difícil, ela chorava, questionava onde tinha errado, depois foi se reeducando e hoje consegue ver as coisas da forma como são, eu nunca namorarei uma mulher, eu não vou dar netos de sangue a ela, pelo menos não da forma como os bebês são gerados.
_ É egoísmo da minha parte querer que eles me entenda?
_ Não, não é, mas eles precisam de mais tempo para processar tudo isso. Eles só querem que sejamos felizes sobre o olhar deles, e por mais que lá no fundo eles já soubessem, todos os pais sabem, eles queriam que fôssemos diferentes.
_ Há esperança então?
_ Sim, há sim, meus pais são a prova viva de que há esperança.
Um brilho iluminou os olhos de Gillian:
_ Vamos logo a essa pesquisa?
_ Vamos.
_ Mãeee, estou no meu quarto com o Gillian, vamos fazer uma pesquisa da escola, leva um sanduíche mais tarde para nós?
_ Levo.
Gillian sorriu e os dois se dirigiram ao quarto de Jean.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...