Lutando valentemente durante dois anos contra a saudade, Gillian surpreendeu sua família enquanto conversavam:
_ Pai, mãe... Gláucia, eu quero voltar ao Brasil, quero voltar para nossa casa.
_ E o tratamento Gillian, não sei se podemos parar.
_ Mãe, por favor, no Brasil também há bons hospitais.
_ É isso mesmo o que quer Gillian?
_ Sim pai, é exatamente isso o que eu quero.
_ Então não há o que discutir, vou agilizar tudo para voltarmos.
_ Alberto você sabe que não podemos agir assim tudo no impulso, temos que primeiro ver o que o doutor nos fala.
_ Eu sei que tudo o que a senhora quer é me proteger mãe, mas é a minha vida.
_ Não Gillian, eu não vou deixar você cair de um penhasco só por que é o seu desejo, o que seu pai quer fazer é aplacar a culpa que ele sente por ter te dito tudo aquilo.
_ É verdade Solange, é verdade, eu disse palavras que me arrependo de ter dito, e me arrependo amargamente, eu falhei como pai, mas você não pode me culpar por querer fazer uma vontade do nosso filho, lógico que tudo dentro das prescrições médicas. Você o trata como uma criança acha que isso é saudável?
Os dois começaram a discutir, irritando Gillian de sobremaneira:
_ Chega vocês dois. Eu sei que tudo isso é cansativo, que vocês dois estão exaustos, há dois anos temos ido todos os dias naquele maldito hospital, eu queria minha vida de volta também, queria que tivéssemos a chance de voltar no tempo, de não saber dessa doença, mas isso é impossível, eu preciso dos meus pais do meu lado, sem brigar, se vocês começarem a essa altura do campeonato a brigar, ficará mais difícil, então, por favor, parem, pai, eu não fiquei doente por sua causa, então pare de se culpar, quanto às palavras que me disse não importa mais, eu te perdoo, mãe eu sei que a senhora me ama, mas essa proteção toda me paralisa mais do que a doença.
_ Já que é assim, que é o seu desejo, vamos primeiro conversar com o doutor. Se ele falar que não tem problema uma viagem agora, iremos voltar ao Brasil.
Depois da conversa com o médico responsável pelo seu caso, Gillian e sua família estavam de volta ao Brasil. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo de Jean. A noticia da volta dele á cidade logo se espalhou pelo bairro e Solange olhava as correspondências que haviam se acumulado, até que segurou um envelope em sua mão destinado a Gillian, ela lhe estendeu:
_ Para Gillian Sollano.
O tremor de sua mão que tanto evitava ver, ao segurar aquele envelope se tornara evidente, e ele exibiu um fraco e singelo sorriso:
_ É da Stephanny.
Com dificuldade rasgou o envelope e tirou um convite de lá de dentro, lendo em voz amena:
_ Gillian Sollano, está sendo convocado a uma festa de ex alunos, da escola Princesa Isabel, que será realizada na Rua: Treze de junho,330- no dia 11 de setembro ás 19h
_ Esse é o endereço do Jean.
Sua mãe pediu:
_ Me dá esse envelope, eu mesmo jogarei fora.
_ Mãe, eu irei a essa festa.
_ Ficou maluco, não estou te entendendo Gillian, ir a uma festa?
_ Sim mãe, é uma forma de rever o Jean sem que ele pense que estou ali para vê-lo.
_ Ir a uma festa sozinho, Gillian você não pode, você está se ouvindo, ficou mesmo maluco, eu não vou permitir que vá a uma festa desacompanhado Gillian, você tem ELA, não uma gripe.
_ Eu sei que tenho ELA, mas pelo menos um dia eu poderei esquecer que tenho essa maldita doença.
_ Gillian não, se quer mesmo ir a essa festa, eu irei com você.
_ Mãe a senhora não pode controlar tudo, é algo que eu quero fazer.
_ E se acontecer alguma coisa com você, eu não estarei lá para te proteger Gillian.
_ Nada vai acontecer, e tudo o que eu quero é uma noite como alguém normal, alguém que não precisa que sua mãe o proteja o tempo todo.
_ Eu prometo pensar no assunto, não vou dizer que pode ir a essa festa, mas vou pensar no assunto.
Antes de terminar a conversa Gillian comentou:
_ Não posso mudar o que eu tenho mãe, tudo o que eu queria era viver uma noite como um jovem da minha idade.
Crente de que ele iria insistir naquele assunto ela logo assentiu:
_ Tá certo Gillian, vou deixá-lo ir a essa festa, mas terá que ir de bengala, eu não ficarei em paz sabendo que pode cair por aí sem que esteja por perto.
_ Eu assumirei os riscos mãe.
_ Nada de acordo Gillian, ou é a bengala ou nada feito.
_ Eu já sabia que a mãe super protetora entraria em ação, e já estou pronto para contra-atacar.
_ Não tem negociação garoto, com a sua saúde não tem negócios a ser feito.
_ Vai mesmo me fazer aparecer diante de todos com uma bengala?
_ Vou, pode me chamar de mãe protetora, de histérica o que você quiser chamar, mas eu estou apenas cuidando de você.
_ Eu sei, tudo bem, vou com a bengala.
Lógico que aquilo não era verdade, Gillian não iria aparecer diante de todos os seus amigos com uma bengala na mão, acreditava fielmente que conseguiria ficar em pé durante algumas horas, só tinha que convencê-la até o dia da festa.
Sempre que tocava no assunto ela lhe respondia:
_ Você é mesmo teimoso menino, mas eu sou sua mãe e sou mais teimosa que você quando o assunto é te manter em segurança.
Impossível de convencê-la, tudo o que teria que fazer era dar um jeito dela não perceber e deixar a bengala em casa.
O dia da festa chegou, faltando algumas horas ele já estava arrumado, seu pai se ofereceu de levá-lo, mas ele recusou-se veemente:
_ Nada de pais nessa noite, eu irei com um carro de aplicativo, não quero babás cuidando de mim, pelo menos hoje eu irei agir como um jovem normal.
_ Ainda acho isso uma loucura.
_ Não tem nada de loucura Solange, não há nada mais natural que ele querer rever os amigos, se ele sentir alguma coisa ele nos telefona e vamos buscá-lo imediatamente.
Ele se aproximou de dona Solange a beijando no rosto:
_ Só por hoje mãe.
_ Parece que eu sou uma bruxa por não deixa o filho se divertir.
_ Você é a melhor mãe do mundo, um pouco controladora, mas a melhor.
_ Pode parar com essa sua bajulação.
Não demorou dez minutos e o carro que pediu pelo aplicativo estacionou em frente a sua casa, Gillian deu um beijo em sua mãe e sorriu para o seu pai e Gláucia, em seguida caminhou lentamente até a porta, mas sua mãe lhe chamou antes mesmo que a alcançasse:
_ Gillian... A bengala.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...