Á contragosto pegou aquela bengala que sua mãe lhe entregava, puxou o ar com um pouco de força e sob o olhar atento de todos foi até o carro, onde se acomodou no banco de trás do lado contrário ao do motorista.
A distância entre uma casa e outra era menos de 10 minutos andando, de carro não levaria 5 minutos, mas aqueles poucos minutos o estavam deixando impaciente, já o motorista estranhou a viagem tão curta:
_ É aqui?
_ Sim. É aqui.
O olhar que o homem lhe lançou não foi nada agradável, ainda mais depois que ele lhe pediu:
_ Será que o senhor poderia me deixar bem próximo a porta de entrada?
Mesmo contrariado, o homem manobrou o carro até onde Gillian pediu, contudo mudou totalmente sua expressão quando ele lhe estendeu uma boa quantia de dinheiro:
_ Pode ficar com o troco.
Gillian saiu do carro esquecendo propositadamente a bengala, seu coração batia acelerado havia chegada a hora de rever o grande amor da sua vida, sentia o tremor de sua mão ainda mais forte, por essa razão fecho-a em punho, a questão agora era andar, na ponta dos pés, lento sem se afobar, respirar devagar, mas como um castelo de carta, tudo desmoronou, não conseguiu ir adiante, ao contrário, seu corpo parecia não querer obedecer e se Douglas não o segura fatalmente iria ao chão:
_ Hei Gillian, tá tudo bem cara?
A voz de Gillian soou um pouco pausada e arrastada:
_ Sim, estou bem, só preciso respirar um pouco aqui fora.
_ Tem certeza, você não me parece nada bem, tá pálido feito cera, mal se sustentava em pé, a impressão que tive foi que fosse cair.
A verdade era que ele havia acertado no alvo, mas esforçando para sorrir, dedicou-se a dar-lhe uma desculpa qualquer:
_ Deve ser o fuso horário e as lembranças.
_ Entendi, você ainda não o viu não é?
_ Não!
_ Uma ideia, não acha melhor deixar a cor de o seu rosto voltar para entrar, você tá parecendo um fantasma de tão branco, vamos sentar ali, e assim conversamos um pouco.
_ Obrigado Douglas, eu não queria perturbar ninguém, não hoje.
_ Eu te conheço e sei que faria o mesmo por mim, venha vamos sentar.
Já acomodados o rapaz não hesitou em perguntar:
_ Posso te fazer uma pergunta pessoal Gillian?
_ Claro, pergunte.
_ Até hoje ninguém entendeu o motivo pelo qual você e o Jean terminaram ao que me parece nem ele sabe o motivo.
_ Esse é um assunto que eu não gostaria de falar com ninguém.
_ Desculpa a intromissão. Agi na curiosidade, mas já se prepara, porque vai ouvir essa pergunta a noite toda.
Ficaram mais cinco minutos ali, e quando Gillian já se sentia melhor Douglas levantou-se:
_ E ai preparado para entrar?
_ Posso te fazer um pedido um pouco estranho?
_ Depende muito do que vai me pedir Gillian.
_ Fica perto de mim, não se afaste em nenhum momento.
_ De fato é um pedido estranho, mas beleza, eu fico do teu lado.
_ Você não imagina como irá me ajudar.
A porta abriu-se, Douglas e Gillian entraram emparelhados, todos pararam o que faziam, conversas cessaram, parecia que Gillian era a atração mais esperada da noite, olhares curiosos subitamente pesavam sobre ele, mas de todas aquelas pessoas que ali estavam, Gillian procurava uma única e o flagrou a olhá-lo.
Seu olhar projetava uma mágoa incomoda. Ele não veio fazer o papel de anfitrião, ao contrário ignorou totalmente a sua presença no local, Stephanny que veio fazer o papel que deveria ser feito por Jean:
_ Gillian Sollano, eu não acredito, que saudades de você, não acredito que voltou e não me procurou.
_ Não foi por mal Stephanny.
_ O importante é que você está aqui, vamos o pessoal está louco para te ver.
Enquanto passeava de grupo em grupo, relembrando alguma história, Douglas mantinha a palavra ficando ao seu lado o tempo todo.
Stephanny acabou cochichando no ouvido de Gillian:
_ Tem alguém muito ansioso para te ver.
Com certa dificuldade caminhou até o grupo onde Jean se encontrava, a troca de olhar dos dois eram tão carregada de sentimentos que não tinha quem não percebesse que havia um vulcão preste a erupção ali entre os dois.
Gillian quebrou o silêncio que se instaurou:
_ Olá rapazes, oi Jean.
_ É sem sombra de dúvidas uma grande surpresa te ver por aqui Gillian. Achei que nunca mais o veria nessa casa.
_ Se não me quiser aqui, irei embora imediatamente.
_ Já que veio, fique a vontade, a bebida está no frigobar, sabe onde fica, alias sabe onde fica tudo nessa casa, não mudamos nada.
_ Não, obrigado eu não bebo.
_ Não era assim há dois anos, mas não me espanta, com você as coisas mudam de uma hora para outra, não me admira se daqui a pouco te ver com um copo na mão.
_ Parem já com isso vocês dois.
Por um momento os dois ficaram calados e sérios, até que Thiago chegou á festa e Jean aproveitou para se afastar:
_ Fique a vontade Gillian e Douglas. Irei receber o Thiago que acaba de chegar.
De longe, Gillian observava Jean, observava a juventude dele, o sorriso que ele exibia aos outros convidados, mas que sumia quando notava que Gillian o observava, só por um minuto queria esquecer toda aquela história e ir em direção a ele e tomá-lo nos braços, a voz de Douglas o fez voltar a si:
_ Ele tá com ciúmes, a reação dele só demonstra que ele não é indiferente como quer mostrar quer ver só?
Surpreendendo Gillian, Douglas inclinou o corpo mais para perto, o obrigando a dar dois passos para trás ao sentir a mão dele lhe acariciar o rosto, o susto foi tamanho que o fez inalar o ar rápido demais e ficando tonto se segurou no rapaz para não ir ao chão:
Sua voz era quase um ruído a pedir:
_ Me tira daqui, por favor, me tira daqui.
Arfando com dificuldade, Douglas praticamente o arrastava e abriu a primeira porta que encontrou tudo o que Gillian menos queria era entrar novamente naquele quarto tão conhecido. Douglas havia levado Gillian justamente para o quarto de Jean, o sentou na cama e foi logo perguntando:
_ O que é que está acontecendo Gillian, e não adianta dizer que está tudo bem, é a segunda vez que você quase cai, vai me contar ou prefere que eu chame alguém?
_ Por favor, não, não chame ninguém, eu irei contar se prometer que não contará nada á ninguém.
Enfático ele começou a narrar:
_ Eu tenho ELA.
_ ELA, ELA quem?
_ Esclerose Lateral Amiotrófica ELA, uma doença degenerativa que afeta os nervos neuro motora, em breve ficarei sem andar, sem falar, sem se mover e posso morrer precocemente.
_ Como assim Gillian, você é tão jovem.
_ Essa doença não respeita faixa etária, segundo os médicos não era nem mesmo para eu estar em pé.
_ Foi por isso que acabou com o Jean?
_ Sim, foi por isso, eu o amo demais para arrastá-lo para essa vida, ter que ficar com alguém por dó.
_ Deixa de ser besta Gillian, o Jean ama você, acha que ele ficaria com você por dó?
_ De qualquer maneira ele não vai saber.
_ Você tem que contar a ele Gillian, o cara tá há dois anos achando que você o deixou, quando na verdade você se sacrificou.
_ Ele nunca saberá, me prometa Douglas que você nunca contará nada a ele, nada, o Jean não pode saber de nada.
Jean invadiu o quarto olhando furioso para os dois:
_ O que é que eu não posso saber Gillian?
Ainda o escutou murmurar:
_ Esse era o único lugar que eu jamais imaginei encontrá-lo com outra pessoa. Quer saber, esqueça a minha pergunta.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...