Jean estacionou o carro e ficou ali parado com a mão no volante, fazia exatamente 10 anos que estivera ali para enterrar Gillian, ele puxou o ar e desceu do carro caminhando entre os jazidos até o sepulcro onde estavam enterrados os restos mortais de Gillian, acarinhou a foto dele que ali estava, e depositou o vaso de rosas branca que trouxera e perguntou:
_ Você está bem não é Gillian?
As lágrimas banhavam o seu rosto:
_ Desculpa demorar todos esses anos para vir te ver, juro não foi por desejo, mas eu tenho tanto a falar para você, quando a Keity me disse aquelas palavras, eu percebi que estava fazendo o seu quarto um lugar de refugio para diminuir a minha dor, eu pensava que ali eu estaria mais perto de você, mas quando ela me deu o seu recado, por que foi você não foi?
Ele parou de falar e enxugou as lágrimas:
_ Ali eu entendi, que precisava reagir, precisava realmente fazer algo que te desse orgulho, eu me inscrevi em uma faculdade de medicina e passei Gillian só que era fora do país, hoje a ciência está mais avançada, acredito que logo teremos algum método para a cura da ELA, ainda é difícil para eu ver pessoas sofrendo com essa doença, me faz pensar muito em você, mas agora você não sofre mais não é?
Ele voltou a acarinhar a fotografia:
_ Eu estou retornando agora para a cidade, ninguém sabe que estou de volta, e eu não vim sozinho, eu trouxe o pequeno Gillian comigo, ele é um menino tão lindo, tão cheio de vida, me faz lembrar tanto você com a energia que ele tem. Ele tem cinco aninhos, eu o adotei quando ele era apenas um bebezinho, e disse a ele que você era o pai dele, você não se importa com essa pequena mentirinha não é Gillian, por que não é totalmente mentira, afinal era o nosso sonho adotar um menino, lembra que sempre falávamos sobre isso. Ele está ansioso para te conhecer, está ali no carro com a Amélia, a babá dele, eu irei buscá-lo, espera só um minuto.
Jean se afastou e voltou em minutos com um garotinho dos cabelos castanhos, pararam em frente ao sepulcro de Gillian e voltando-se para o menino Jean anunciou:
_ Gillian, esse é o seu pai, aquele rapaz bonito da foto.
_ Oi pai.
Eles ficaram em silêncio e Gillian que estava no colo de Jean perguntou:
_ Pai... Ele não vai responder?
_ Não meu amor, o papai Gillian não poderá te responder, mas ele tá te escutando, pode falar tudo o que quiser a ele.
_ Mas pai, é chato falar com quem não responde.
_ Você tem toda razão garotinho, é muito chato falar com quem não responde.
Uma voz masculina soou atrás deles. Jean olhou para o rapaz e ofereceu um sorriso:
_ Desculpa, Beto, meu nome é Beto, desculpa a intromissão, mas seu filho tem total razão é muito chato falar com pessoas que não respondem.
Jean por um minuto olhou para o rapaz, mas baixou o olhar logo em seguida e apertou a mão que Beto lhe estendia:
_ Jean, me chamo Jean, esse é o meu filho Gillian.
_ Olá Gillian.
_ Você também veio falar com o meu pai Gillian?
_ Não, não, eu vim falar com o meu irmão, mas ele também não irá me responder.
O rapaz conversou um pouco mais com o garotinho e se despediu do Jean:
_ Desculpa mais uma vez Jean, seu filho é muito esperto.
_ Ele é sim, obrigado.
_ Nos vemos por ai então, a cidade não tem tantos pontos turísticos assim.
_ É... Não tem.
Se despediram ali mesmo e Jean seguiu rumo a casa de seus pais os surpreendendo com a sua chegada:
_ Jean, por que não nos avisou que estaria chegando, teríamos preparado algo para vocês almoçarem.
_ Não se preocupe com isso mãe, já almoçamos na estrada.
_ Na estrada Jean, almoço de estrada não é nada comparado a comida de mãe e de avó.
Os olhos de Fabíola caíram sobre Gillian:
_ Esse é o meu netinho?
_ Sim mãe, esse é o pequeno Gillian. Cadê meu pai?
_ Marcelo foi ao mercado, já, já estará de volta, vai ter uma grande surpresa quando chegar e te encontrar.
Jean deu um beijo no topo da cabeça de sua mãe e sorriu:
_ A surpresa dele, ficará para mais tarde, estou indo na casa da dona Solange, para que ela conheça o neto dela.
_ Eu tenho ido lá frequentemente, por mais que ela tenha aceitado o fato do Gillian ter partido, para uma mãe é sempre difícil de superar a perda, acho que será bom você ir vê-la, mas tenha calma ao falar sobre o pequeno, talvez ela não veja isso de uma forma legal.
_ Eu entendo mãe, mesmo depois de 10 anos, para mim também não é fácil aceitar o que aconteceu.
_ O Gillian estava sofrendo demais, a partida dele foi um descanso para ele.
_ Bem... Eu irei ir lá ver como ela está.
Com Gillian nos braços, caminhou até a casa de dona Solange e tocou a campainha, o encontro dos dois foi emocionante, Solange chorou bastante, Jean se segurou mais também derramou algumas lágrimas, depois ela olhou para o menino que corria pela casa:
_ Você casou Jean?
_ Não, depois do Gillian não houve ninguém dona Solange, esse garotinho eu adotei, minha vida é totalmente dedicada a ele, Gillian vem conhecer a sua outra avó.
_ Gillian... O nome dele é Gillian.
_É sim, ele é o meu filho. O Gillian e eu sempre sonhamos em ter um filho, não tivemos oportunidade, mas quando o adotei, eu lhe disse que o Gill era o seu pai, ele é meu filho e se achar que pode ser a avó dele, ele tem muito carinho para dar.
_ Jean, como pode pensar que eu não iria querer o seu filho como meu neto, esse é o melhor presente que você poderia me dar. Venha Gillian, dê aqui um abraço na vovó.
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Meu ex - O tempo não para
RomanceExiste pequenos fragmentos em nós que muitas vezes queremos deixar escondidinho em uma caixa chamada esquecimento, mas nem sempre o que queremos de fato acontece e as lembranças teimam em nos atormentar. O passado vem como uma enxurrada de inquieta...