Lugar Preferido

206 7 5
                                        

Juliana

Cinco meses e meio se passou, e o Ryan dedicou esse tempo todo a me tornar mais forte. Ele me treinou dia e noite, me levou pra lugares para me ensinar, me explicar, e me ajudar. Cada dia eu via a minha evolução, que até refletiu no meu corpo. Minha alimentação mudou, minha rotina, e minha mente.

- Cuidado.- ele sussurra pra traz, e eu balanço a cabeça.

Lá fora tem um tirotei0 sem fim, e nos dois aqui, dentro de um matagal, tentando achar o dono da Serrinha.

- Eu acho que eu vi alguma coisa.- sussurro pra ele, ele me olha de novo e eu aponto com o dedo na direção.

O Ryan, é um bandido muito treinado pra tudo, chega dar medo da cara que ele faz em confronto.

- Abaixa.- ele fala e eu faço na mesma hora.- olha os rato voando.- ele diz sorrindo.

Quando acha seu primeiro alvo, ele começa a atirar.
O pessoal do outro lado começa a gritar e corre para todos os lados, sem saber da onde veio o tiro. A gente não para de atirar, até todos estarem no chão.
...

- Foi excelente.- Marcelo fala pra gente, assim que voltamos para a Maré.- é a terceira invasão de vocês e vocês não vacilaram.- diz ele, e o Ryan começa a rir debochando.

- Que ironia.- ele fala ainda sorrindo pro pai.- o filho de um vacilão, que não vacila.- ele diz e logo depois fica sério.

- Perigosa, pode fazer umas cobranças pra mim? Preciso trocar uma ideia com o meu filho.- Marcelo pede, e eu encaro o Ryan.

Ele me olha sério, e eu dou as costas.

Eles precisam ter essa conversa, isso já passou dos limites, eles tem que se entender de uma vez por todas.
Saio da boca e lá fora encontro os meninos conversando e rindo de alguma coisa. Quando eu chego perto, eles param na hora.

- Tata, bora ali comigo.- falo subindo na moto e ele vem atrás de mim.
...

- Eu não quero saber, se tu usou essa p0rra, tem que pagar.- falo encarando ele séria e ele sorri.

- Tu sabe com quem tu tá falando putinha?.- pergunta o viciado que eu vim cobrar.

Eu olho pra cara do Tatá, ele da um sorrisinho balançando a cabeça, já se afastando de mim.
Encaro o viciado de novo, e me aproximo mais dele.

- Você me chamou de quê?.- ele olha pra minha cara de novo e ameaça a abrir a boca pra repetir, mas eu calo ele com o soco certeiro no nariz.

O cara cambaleia pra traz, e eu aproveito pra da uma banda nele. Quando ele já está no chão, eu me ergo em cima dele, saco a minha arma em um movimento só, destravo ela e coloco dentro da boca dele.

- Me chama de puta de novo seu merda.- ele começa a pedir desculpa com dificuldade por causa da arma quase na garganta.- eu vou perguntar a última vez. Cadê a porra do meu dinheiro? Seu viciado de merda.- grito e ele aponta pra um armário encostado na parede.

Faço sinal com a cabeça pro Tatá, e ele vai até lá, começa a mexer até achar o pacote com o dinheiro.

- Muito obrigada pela cooperação.- eu dou um sorriso singelo pra ele e tiro o cano da de dentro da sua boca.

Limpo no shorts e coloco ela na cintura de novo e vou pra fora da casa do cara.

- Vai na frente Tatá, vou dá uma volta.- falo subindo na moto.

- Tem certeza perigosa? Não fica dando bobeira pela pista armada não.- ele fala, e eu puxo a pistola da cintura e entrego pra ele.

- Pronto, tô desarmada.- saio de perto dele, antes que ele começa a falar mais alguma coisa.
...

Vou fazendo meu caminho, até a lagoa onde o Ryan me levou uma vez. Esse agora é o meu lugar preferido, onde eu posso pensar sozinha, e chorar quando eu tenho vontade.
Tudo que aconteceu tinha que acontecer, e isso me mudou. Só não sei se foi pra melhor, ou pior.
Hoje cobrei um viciado, como tenho feito já a algumas semana. Isso sempre me faz lembra de como tudo começou. Foi por causa de uma dessas cobranças que fui parar na sala do Bruno a primeira vez. Foi pra salvar a vida de um viciado.

O que meu pai diria me vendo nessa situação?

Eu não sei, só sei que desde aquele dia, minha vida nunca mais teve paz!
Passo o restante do meu dia sentada, olhando pra água, pensando o que o pessoal estão fazendo agora. Já se passou tanto tempo, e se antes eles já tinham seguido em frente, agora eles nem devem mais lembrar que eu existi um dia.

É muito triste pensar assim, mas é a verdade.

Esses meses me fez pensar muito no que eu era antes, no que eu acrescentava na vida das pessoas que eu amava. Porque a gente só sente falta do que era importante, e se eles não sentiram falta, foi porque eu não era. Hoje, eu consigo entender. Não era pra ser, todos aqueles contratempos com o Bruno, todas as reviravoltas, não era pra ser.
Olho o meu celular, e tem 3 chamadas perdidas do Ryan.
Me levanto com o celular na mão, sabendo que ele deve está louco uma hora dessas, e dou um passo na direção da saída da lagoa.

- Juliana?.- uma voz espantada me faz congelar, e meu coração acelera na hora.

Antes de eu levantar a cabeça, eu puxo a outra pistola das minhas costas e aponto pra frente.

- Caralh0, Juliana!- ele confirma que sou eu, sem se importar com a minha arma apontada pra ele.

A Minha Vez🍃 Onde histórias criam vida. Descubra agora