Ainda Melhor

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Juliana

Nós vamos a maior parte do caminho sem trocar uma palavra.
Eu estou com o meu peito em chamas, e uma cena que se repete várias e várias vezes na minha mente, e que me deixa triste todas as vezes, sem conseguir segurar as lágrimas.
Em algumas vezes, o Ryan me encara sem dizer nada, e volta a olhar para a estrada novamente.
...

Passamos pela entrada da Maré, e ele sobe direto com o carro, sem parar na contenção.

- A Maré não é Comando? E você não é ADA?.- eu pergunto confusa e com medo dele ter se confundido com isso.

- Longa história.- ele diz sem me encarar.

- Acho que agora eu vou ter todo tempo do mundo.- me viro pro lado dele e cruzo os braços em cima do peito.

Ele me olha de rabo de olho e depois bufa.

- Meu pai é o dono daqui.- ele diz como se me contasse e o que comeu hoje no almoço, e eu fico de boca aberta.

- Como assim? Você é de facção diferente que seu pai?.- pergunto tentando entender, e ele suspira.

- Ele abandonou nós lá no Jacaré quando eu tinha 10 anos. Minha mãe ficou doente logo depois disso, e eu fiquei sozinho. Tive que entra pro movimento cedo pra me virar.- ele fala tentando mostra que não liga mais pra isso, só que eu consigo ver que ele ainda sente.

- Evocês nunca mais se viram?.- eu pergunto tentando fazer ele se abri comigo.

- Quando eu fui pra minha primeira invasão, ele quis me fazer mudar de facção. Na época, ele ainda era sub daqui.- ele balança a cabeça.- nós discutiu, eu dei o papo reto pra ele e disse que queria distância.- ele fala parando o carro, e agora olhando pra mim.- bora lá?.- ele muda de tom do nada, e deu um pequeno sorriso.

Jesus, o que vai acontecer agora com a minha vida?

Ela parece até uma montanha russa. Quando eu penso que vai tudo se reorganizar, alguma coisa acontece e tudo desmorona outra vez.

- Ryan.- uma voz de homem grave me assusta e eu aperto a mão do Ryan, ele aperta a minha de volta.

O homem maduro, pele clara, com uma barba bem feita e o cabelo quase raspado, aparece na nossa frente, se erguendo como um poste. O Ryan encarar ele com o semblante sério, que parece querer dá um soco no homem.

- Entra ai.- ele diz dando passagem na porta pra mim e pro Ryan entrar.- eu não esperava que você aceitasse o meu convite.- diz o homem quando nos sentamos de frente pra ele, entre a mesa, e o computador.

- Não tive muita escolha.- Ryan responde sem muito entusiasmo, e o homem engole seco.

- Oi, seu o Marcelo, pai do Ryan.- ele estende a mão pra mim, e o Ryan vira o rosto pro outro lado.

Ele não precisava nem me dizer isso, a semelhança é nítida.

- Sou Juliana.- respondo apertando a mão dele.

- Espero que gost...- ele ia falar mais alguma coisa, mas o Ryan o corta na mesma hora.

- Bora parar com essa viadagem toda, nós só quer um lugar pra ficar.- ele interrompe o pai, que o encara de volta.

Coça a cabeça e pega alguma coisa na gaveta.

- Tá aqui a chave lá do teu barraco, LL vai leva vocês lá.- o pai dele fala meio triste, e o Ryan pega a chave de cima da mesa, e sai da sala sem falar mais nada.

- Obrigada.- eu falo me levantando.

- Obrigada tu por trazer meu muleque de volta pra mim.- Marcelo responde levantando da cadeira também.- qualquer coisa que vocês precisar é só me acionar.- ele avisa e eu concordo saindo da sala.
...

Já na porta da boca, eu encontro o Ryan com os óculos escuros no rosto, encostando na porta do carro de braços cruzados. Ele fica me encarando de longe, até eu chegar perto dele.

- O que foi?.- pergunto dando um meio sorriso.

- Tu quer aprender?.- ele pergunta, e eu fico sem entender nada.

- Aprender o que?.-  enrugo minha testa.

- A trocar soco, a atirar, o que tu quiser.- ele fala, e eu fico encarando ele sem reação. Quando eu não consigo dá uma resposta, ele continua.- posso ti treinar pô, deixar tu pica, e nunca mais ninguém vai te fazer mal de novo.- ele abaixa os braço e me puxa pra mais perto.

- Eu não sei.- sussurro com o pensamento a mil.

Por quê eu estou exitando? Quantas vezes eu já fui machucada ou enganada? Por quê agora eu não posso tentar ser mais forte? Talvez essa seja a minha chance de me ergue, de não chorar mais por causa de ninguém nessa vida.

- Tu não precisa ser bandida.- ele rir dele mesmo.- tu só vai aprender a se defender.- ele insiste olhando pro meu rosto.

Eu vi como aquele assustador e a seu povo eram treinandos. Eles sabiam exatamente o que estavam fazendo. Se eu podesse ser assim, talvez, eu não seja mais tão vulnerável. Eu tô cansada de ser a coitadinha que todo mundo engana, e eu ainda quero minha vida de volta, vou recupera-la. Mas eu vou voltar ainda melhor.

- Eu aceito.- respondo o Ryan com um sorriso no rosto.

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