De Volta

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Juliana

Estamos nos preparando para sair da Rocinha, e eu procuro o carro do Ryan. Mas antes que eu possa achar, o Bruno segura no meu braço, me fazendo encarar seu rosto.

- Qual foi Ju?.- ele pergunta olhando no meu rosto.- bora comigo pô, nós precisar conversar.- insiste fazendo cara de cachorro sem dono.

- Sim Bruno a gente vai conversar, lá no morro, agora não estou com cabeça pra isso.- puxo meu braço e encontro o carro do Ryan, dando partida.

Dou uma corridinha, e consigo alcançar antes que ele saia com carro.

- Ei? Vai me deixar aqui?.- pergunto olhando pela janela de seu carro.

- Ué garota, achei que você ia querer ir...- eu não o deixo terminar, e abro a porta do carona, me sentando em seguida.

- Achou errado, você pode me levar pra casa por favor?.- peço, e ele sorri de lado, e o carro começa a andar.
...

Já no morro, os moradores quando ver o carro do Bruno subindo já ficam euforicos. Bruno conseguiu mesmo conquista todo mundo aqui da comunidade de verdade.
Quando ele estaciona o carro, já saí procurando pelo carro do Ryan, e quando ele encontrar nos dois do outro lado da rua, ele encosta a bunda no capô, e começa a cumprimentar quem vem falar com ele, sem tirar os olhos de mim.

- Garota?.- Ryan me chama, e eu viro pra encara-lo.- vou indo nessa.- seu olhar é triste, e isso consegue me esmagar por dentro.

- Não queria que você fosse.- eu digo também ficando triste, e ele se aproximar de mim.

- Ué, não foi tu que jogou um morro nos meus peito? Tenho que comandar ele agora querendo ou não pô.- ele tenta descontrair, mas eu não consigo sorrir.

- Não pensei que sentiria tanto assim.- confesso para ele minha angústia.

Realmente, eu não sabia que ao ter certeza que ficaríamos longe um do outro, eu ficaria tão mal assim. Nesse tempo que ficamos junto, eu não me desgrudei dele nem um minuto e mesmo quando nós dois ainda não tínhamos tido relação, sempre dormíamos juntos. E agora que finalmente rolou, fico me perguntando se o certo a se fazer não seria voltar para a Maré com ele.

- Escuta.- ele segura meu rosto nas mãos, mas é muito doloroso encarar ele agora, e com os olhos cheios de lágrimas, eu encosto o rosto em seu peito e começo a chorar.

- Eu não quero ficar longe de você.- me julguem, eu não ligo, mas só de pensar como vai ser daqui pra frente, eu sinto dor.

- Tu não sabe o quanto eu queria que isso fosse o suficiente pra tu não querer ficar perto dele.- ele diz, e meu peito congela.

Porra, o Bruno!

Levanto meu rosto e olho na direção dele, e ele está no mesmo lugar que antes. Lá, encostado no capô do carro, mas agora mais impaciente do que antes, com os braços cruzados.

- Eu sei que tu não conseguiu esquecer ele garota, e não vou me colocar no meio disso outra vez. Não sabendo o quanto isso custou pra tu, tá ligado?.- diz o Ryan.

- Promete que não vai me abandonar.- eu peço e ele abre um sorriso lindo, fazendo meu coração errar as batidas.

- Tu acha mermo que vai se livra de mim assim? É só tu me chamar que eu broto na hora, sem caô.- ele da um beijo na minha testa, e limpa as minha lágrimas.- Olha, dá uma chance pra tu viver o que não deixaram tu viver, tira esse bagulho da tua mente e aceita que ninguém nunca te esqueceu, jae?.- esse garoto me impressiona em todos os detalhes. Mesmo tendo que abrir mão do que sempre quis, ele continua tentando fazer o que é melhor para mim.

Se meus sentimentos pelo Bruno não fossem tão forte como são, eu abriria mão de tudo e ficaria com Ryan para sempre. Mas acho que eu e Bruno merecemos uma chance.

- Eu te amo.- eu confesso, e ele congela.

- Você...- ele pensa em dizer algo, mas desiste logo depois.- Eu também amo você garota.- ele me abraça apertado e se afasta entrando no carro, querendo sair o mais rápido possível de perto de mim.

- Ju?.- a voz da minha amiga me faz desviar os olhos do Ryan.- o que foi?.- ela pergunta ao ver meus olhos cheios de lágrimas.

- Não é nada.- limpo o rosto rápido, e dou um sorriso amarelo para ela, que enruga a testa.

- Você pode ter mudado, mas continua sendo uma péssima mentirosa.- ela diz chegando mais perto de mim.

- A gente pode conversar em outro lugar? Será que ainda temos casa?.- pergunto a encarando, e ela da uma gargalhada.

- Claro que sim, vamos andando.- ela vai me puxando pelo braço, e eu vou toda troncha atrás dela.
...

Quando entramos em casa, meu coração acelera ao ver tudo do jeito que eu lembrava.

- Eu sonhei várias noite com a minha volta para cá.- sussurro, tentando parecer forte o suficiente, mas quase me jogo no chão e choro tudo que não consegui chorar esse tempo todo.

Chega ser estranho, como se não tivesse passado um dia se quer. Se não fosse pela dor da ausência que sinto do Ryan, tudo pareceria um sonho.
Do nada escutamos um barulho grande na porta da sala. Eu começo a procura minha arma na cintura e nas costas, porém não a encontro, e isso me deixa nervosa.

- Relaxa o cu poderosa.- 2D fala entrando na sala ao ver o meu desespero, sendo seguido pelo Bruninho e Caio.

- Vai ter comemoração.- Caio sorri pra mim alisando as duas mãos.

- Não tô afim de festa.- aviso sem olha para eles.

- Tu voltou dos mortos porra, nós vai comemorar sim.- Dudu afirma, e eu fico em silêncio.

Não estou com cabeça pra festa, ainda mais depois de tudo que aconteceu aqui, e na Rocinha a algumas horas atrás.
A um silêncio na sala, e alguns segundos depois, todos vão saindo de fininho. Quando levando meu rosto, encontro os olhos grandes de Bruno me olharem fixamente, me deixando hipnotizada por eles.

- Não adianta me expulsar ou gritar comigo, eu não vou sair de perto de tu, até me acostumar que tu tá viva mermo.- ele fala sem tirar seus olhos de mim.- tenho medo até de piscar e tu desaparece de novo.- ele fala me olhando nos olhos.

- Eu preciso descansar agora Bruno.- falo apavorada com os sentimentos dentro de mim, e ele concorda.

- Jae, mas eu vou ficar aqui pô.- ele afirma sentando no sofá, e eu suspiro, balançando a cabeça pra ele, sendo vencida por seus argumentos.

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