Juliana
Fico passeando na praia colocando os pensamentos em ordem. Eu me apeguei tão rápido a ele e foi tão bom o que a gente estava vivendo, que em pouco tempo eu me esqueci que estava totalmente no escuro. Não vi o que estava bem na minha frente.
Ele é casado!
Me fiz tanto essa pergunta nos últimos dias, rezando para que ele não fosse, porém ele é, eu estava pagando de amante esse tempo todo e se sentindo especial. Todos os sinais estavam ali, a Manu disse pra mim que se envolve com bandid0 é complicado, o VT dizendo pra ele ficar na atividade quando fosse pro pagode comigo, a piranha falando da tal mulher, as fiéis no pagode também falando dela, e eu tentando colocar a mulher na minha cabeça como uma ex. Nem ao menos perguntei com medo da resposta e acabei me iludindo por minha própria culpa. Agora estou aqui, perdida, com um nó na garganta e um aperto no peito.
Olho o relógio no meu pulso e já são 21:57 da noite, meu pai deve tá preocupado em casa sem conseguir falar comigo. Meu celular descarregou e eu não vou conseguir nem chamar um Uber.
Jogo fora o coco que comprei mais cedo, e vou em direção ao ponto de ônibus. O ônibus demora uma vida, mas depois de um tempo me deixa próximo ao morro. Vou andando em paços largos porque essa hora aqui é muito deserto, e por mais que ninguém mexa com ninguém, dá um friozinho na barriga.
Vou subindo o morro com o pensamento em outro lugar, e quando vou chegando perto da contenção, os cara começa a me olhar e falar no radinho. Eu fico um pouco sem entender, mais depois me vem Bruninho na mente. Talvez ele também esteja me procurando e como fiquei desfilando com ele pra cima e pra baixo, esses cara devem achar que sou a amante oficial dele.
Balanço a cabeça com ironia.
A que ponto eu cheguei, ser amante do dono do morro.
Não dou muito ideia pra reação deles, passando direto andando ainda mais rápido.
Vou subindo quase correndo, e uma moto vem em alta velocidade encosta do meu lado, me fazendo dá um grito assustada.
- Tá maluco cara?_ falo ainda me afastando de perto dele.
- Patrão mandou tu subir. Vou te leva lá na tua goma._ um vapor fala apontando com a cabeça pra garupa da moto.
- Vou subi sozinha, não preciso de carona não, muito obrigada._ falo voltando a fazer meu caminho.
Quem aquele idiota pensa que é? O dono do mundo? O meu dono?
Não tenho nada com ele, se ele tá pensando que eu vou pagar de amantezinha, ele tá muito enganado.
- É bagulho sério mina, bora logo, tenho tempo pra charminho não._ o vapor fala se estressando e eu fico encarando ele.
Bagulho sério?
Ele me deixa um pouco curiosa com esse comentário. Como está muito longe da minha casa ainda, resolvo subir na moto.
Chegamos na porta de casa e o vapor encosta na calçada. O portão está arreganhado e não dá nem tempo deu descer da moto direto, e o Bruninho emerge de dentro da minha casa transtornado.
O que é isso?
...
- Foi mal aí Ju, depois eu volto aqui, qualquer coisa me liga._ Dudu fala e sai correndo atrás do Bruninho.
Depois que eles saem, eu fecho a porta e me jogo no chão, chorando descontroladamente.
Eu devo ser uma bosta de pessoa mesmo.
Como pode tanta coisa acontecer ao mesmo tempo na minha vida meu Deus?
O que vou fazer agora?
Jogaram uma bomba nos meus peitos e conseguiram me destruí inteira.
- Calma amiga, você não tá sozinha, eu não vou te abandonar._ Vanessa fala me abraçando e eu não consigo controlar a avalanche que transborda dos meus olhos.
- Ele fugiu Vanessa, ele não podia ter feito isso comigo._ falo em meio aos choros.
- Ele está doente, ele precisa de ajuda amiga._ ela fala alisando minha cabeça tentando me acalmar.
- Mas eu ajudei ele, eu fui lá, conversei, pedi, me deram um voto de confiança, e pra que? Pro meu pai roubar o cara? E agora como eu fico Vanessa? E se ele quiser fazer alguma coisa comigo?_ falo chorando mais ainda.
- Não amiga, ele não vai fazer nada, calma._ diz me abraçando forte, e eu fico ali chorando abraçada com ela.
Ainda bem que ela está aqui, porque eu não sei o que seria de mim aqui sozinha.
Estou tão triste, que sinto dor em cada canto do corpo, a última vez que me senti assim foi quando minha mãe m0rreu. Vanessa alisa meu cabelo e me abraça apertado, ficamos assim um bom tempo até eu conseguir me acalmar.
Minha vida tá uma bagunça, meu pai me abandonou por causa de dr0ga, não sei se vou ver ele de novo um dia e isso está acabando comigo.
Mesmo com todos os problemas dele, ele era a minha vida, meu pai, eu o amo demais, e pensar que talvez eu só o encontre morto, dói tanto que fura minha alma.
...
Depois de uns longos minutos, uma moto encosta no portão de casa, mais eu nem me movo, sei que deve ser o Dudu.
- Juliana._ Caio grita e eu me assusto. Levanto correndo do chão e vou no portão_ quero leva um lero contigo._ ele fala descendo da moto.
- Eu tô arrasada Caio._ falo com as lágrimas já brotando em meus olhos de novo e ele me olha com pena.
- É sobre o teu coroa._ ele fala, e agora eu olho pra ele séria.
O que é agora caralh0?
- Vem, entra aqui._ dou espaço na porta e nós entramos em casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Minha Vez🍃
RomantizmContinuação de FAVELADOS. Ele contará a história do Bruninho, que ficará de frente do morro que era de Naldinho. Com a nova responsabilidade de ser um dono de morro, ele acaba tendo que lidar com uma vida totalmente diferente, obstáculos e inimigos...
