Bruninho
Já passou das 7h e os fogos não subiu, não tem movimentação pelo morro, então os bota cumpriu a palavra de não passa da 12.
Fiquei com a Juliana esse tempo todo trancado dentro da minha sala, e se não fosse o confronto eminente, eu já tinha jogado ela em cima dessa mesa a muito tempo.
- Sem confronto então?.- ela pergunta apoiada na mesa.
- Acho que sim.- respondo.
Meu radinho toca, e eu aperto pra atender.
- Aí chefe, tem uma mina aqui na porta da boca, falando que quer bate um papo contigo sério.- o vapor me chama.
- Qual foi marreco, manda ela adiantar o papo.- respondo ele no radinho. Olho pra cara da Juliana, e ela encostou as costa na cadeira, e está me olhando de braços cruzados.
- Chefe, ela disse que o desenrolo é só contigo.- ele fala, e Juliana levanta o sobrancelha.
- Eu vou com você.- Ela fala me encarando, e eu coço a cabeça.
- Deixa eu saber o que a mina quer pô.- falo calmo para ela, e ela levanta da cadeira igual um foguete, cheia de ódio na cara, e eu fico encarando ela sério.
Sei bem como é a Juliana ciumenta, mas a perigosa ciumenta pode se ainda pior.
- Tá bom Bruno, é com você mesmo, você que é o dono, você que manda.- ela sai da sala no ódio, e eu balanço a cabeça.
Essa mulher vai me dá trabalho.
- Aí marreco, manda a mina entra, e bota alguém na cola da Juliana, se ela falar que não quer, manda ela escolher quem ela quer leva. Não quero ela sozinha.- aviso.
- Tranquilo chefe.- ele fala, e eu fico aguardando a mina entrar.
Entra uma mina toda desconfiada e assustada, e isso me lembrar quando a Juliana entrou na minha sala pela primeira vez.
Ela fica na porta da sala, com os braços agarrado envolta do corpo toda se cagando.
- Qual foi mina? Eu não mordo não caralho, senta aí.- falo pra ela, e ela vem cheia de medo.
Qual foi dessa mandada?
- Eu não sou bicho não porra, fala o que tu quer.- pergunto me encostando na cadeira, e percebo que o rosto dela tá todo machucado.
- Eu queria pedir a sua ajuda.- ela fala de cabeça baixa.
- Pra que?.- pergunto tentando entender qual é a dela.
- É que o meu marido usa drogas, e ele tem ficado muito agressivo, eu pedi pra ele ir embora de casa, mas ao invés disso, ele me agrediu de novo, e dessa vez ele quase me matou. Estou com medo dele tentar de novo.- ela fala já chorando, e eu fico encarando ela.
É foda!
- Onde tu mora?.- pergunto.
- Na 17.- ela responde.
- Quem é o seu marido?.- ela me olha, e começa chorar mais ainda.- mano, tu quer que eu resolva teu problema? Ou tu quer ficar nessa vida aí até ele fazer pior?.- pergunto sério pra ela.
- Júlio, mas os meninos chama ele de azeitona.- eu balanço a cabeça, e pego meu radinho.
- Aí, quero alguém pra arrumar o barraco da rua 101 pra agora.- falo no rádio.- tu vai fica lá até eu acerta as contas com esse pela saco do teu marido.- eu falo isso, e a mulher parece que respira tudo que estava prendendo.
- Muito obrigada, muito obrigada.- ela pede agora mas tranquila.
- Suave, nós tá aqui pra ajudar.- respondo levantando da minha cadeira, indo pra fora da sala, e a mulher vem me seguindo.
- O menor já foi lá chefe.- Caio fala pra mim assim que chego na porta da boca.
- Agora quero uma tropa pra pega as coisas dela lá na 17, não deixa ela sozinha, e se o pau no cu do marido dela aparecer, traz ele pra mim, vivo.- dou o papo e eles concordam.
Um vapor chega, coloca a mina na garupa e sai saindo com ela.
- Qual foi? Poderosa saiu daqui no ódio, guindou uma moto dessa aí dos pivete, e meteu o pé.- Caio fala e eu olho pra ele serinho.
- Meteu o pé? Caralho e tu fala assim nessa calma caralho? Eu não falei que queria segurança na cola dela porra?.- começo a gritar puto pra caralho.
- Relaxa patrão, eu sei pra onde ela foi.- ele responde, e eu já pego a chave da moto, e subo.
- Então vambora caralho.- falo, e ele liga a moto dele também.
...
Caio me leva em um matagal doido, e depois uma trilha que dá em uma lagoa, e eu vejo a uma moto parada mais na frente.
- Vai lá chefe, vou volta pra favela, não dá mole que os gambi tá na pista, vou acionar os seguranças.- ela fala e sai saindo.
Eu deixo a moto do lado da dela, e vou andando até lá em baixo.
Avisto ela sentada na areia, olhando pra água, toda gatona.
- Qual foi mandada?.- eu chamo, e ela nem se mexe.
- Eu ouvi vocês.- ela responde sem me encarar.
- Por que tu veio pra cá sozinha?.- sento do lado dela.
- Queria pensar.- ela responde ainda sem me encara.
- Tu ficou bolada por que a mina foi lá na sala?.- pergunto na cautela, não quero irritar ela, ainda mais agora que consegui ela de volta pra mim.
Ela respira fundo, e olha dentro da minha cara.
- Não Bruno, não foi por isso, foi porque você me mandou sair.- ela fala, e eu enrugo a testa sem entender.
Ela respira, esfrega o rosto com as mãos, e me olha de novo.
- Vamos embora?.- epergunta.
- Não, fala comigo cara.- quero que ela se abra comigo, fala o que tá passando na mente dela, não quero que mais nada fique entre a gente mano.
- Eu só não quero ser uma funcionária sua Bruno, eu quero ser a sua parceira, quero que você não precisa me mandar sair da sala pra resolver seus problema, eu quero ajudar a resolver eles do seu lado.- ela dá o papo, e eu balanço a cabeça.
- Jae nega, eu só não tô acostumado a dividir esses bagulho contigo, tá ligado? Tu tem que conversar comigo po, falar o que tu pensa, pra nós poder resolver, não fugir de mim sem falar nada.- eu falo o mais calmo que posso, e coloco uma mexa do cabelo dela atrás da orelha.
- Eu não fugi, sabia que o Caio ia me encontrar.- ela fala mexendo na terra.
- O Caio, eu não pô.- ela respondo.
- Agora você já sabe.- ela dá um sorriso de lado, e respira fundo.
- Vamo pra casa?.- pergunto, e ela concorda.
- Vamos.- ela levanta da areia, e eu seguro na mão dela.
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A Minha Vez🍃
RomanceContinuação de FAVELADOS. Ele contará a história do Bruninho, que ficará de frente do morro que era de Naldinho. Com a nova responsabilidade de ser um dono de morro, ele acaba tendo que lidar com uma vida totalmente diferente, obstáculos e inimigos...