Camila
Poucas pessoas me conhecem ainda, e eu também não sou muito aberta a conhecer pessoas novas. Minha história é um pouco triste, eu tive uma vida muito traumatizada pelo tráfico, e isso mexeu muito com a minha capacidade a manter as pessoas por perto, para não me machucar ou machuca-las.
A última vez em que eu morei em uma favela, foi especialmente trágico, e eu carrego essa dor comigo constantemente.
Na época, eu tinha apenas 13 anos de idade, e o meu irmão tinha 17, ele já trabalhava para o tráfico de drogas, herança do nosso pai que era o gerente do morro antes de morrer.
Um dia, eu e algumas amigas marcamos de fazer uma festa de aniversário para outra amiga nossa, porém, a gente não sabia que era dia de invasão. Na verdade, naquele dia ninguém sabia disso, pois provavelmente a história séria completamente diferente. O pai do VT ainda era o dono da Rocinha, e os meninos estava a frente junto com ele na favela. Minha mãe e a mãe do VT tinha ido ao mercado, e deixou a Sara cuidando de mim até elas chegarem, e depois, eu ia ir para a festa que já estava programada. Nós apenas não esperava que aquele dia seria sangrento. O Naldinho entrou, junto com um morro aliado, e fez uma chacina. Nesse dia, eles tentaram raptar a Sara, e só não conseguiram porque o MB chegou a tempo de encontra-la. Como ela estava cuidando de mim, eu fiquei no meio do fogo entre os seguranças, e os outros caras, e acabei levando um tiro. Minha mãe, que estava próximo a tia Daiane, também levou um tiro, porém o dela foi na clavícula, e ela não sobreviveu. Esse dia foi um pesadelo, muitas mortes, incluindo a do pai do VT, e a partir daí, o Bruno me mandou embora, com 200mil reais nas mãos, e disse para eu nunca mais voltar. Eu sempre soube que ele fez aquilo para me proteger, e nunca tive mágoa disso. 5 anos depois, o VT me encontrou, e continuou me ajudando sempre que eu precisava.
Eu comprei uma casa e montei uma esmalteria. No fim, minha esmalteria cresceu para um grande salão com a ajuda do VT, mesmo sem o Bruno saber, eu consegui me virar. VT sempre me teve como uma irmã, e eu agradeço a ele todos os dias da minha vida por tudo.
Quando o 2D me encontrou, eu sabia que era sério, pois o VT nunca tinha revelado o meu endereço para ninguém, nem para o próprio bruno, isso me assustou muito. Só não assustou mais do que ver o meu irmão no estado em que ele estava.
Mas hoje estamos bem, matamos a saudade, conheci pessoas novas, e é isso que importa.
Ontem, na comemoração da volta da Juliana, conheci alguém que mexeu tanto comigo, como nenhuma outra pessoa tinha mexido antes. Só dele me olhar, senti como se tivesse me queimando viva. Depois, descobrir que ele foi o outro amor da vida da Ju, e toda a história que envolvia os três. Confesso que isso me deixou assustada, mas também com mais curiosidade.
Conversamos bastante quando a Ju e meu irmão saíram, e o jeito dele, me fez quere-lo ainda mais. Ele é diferente dos outros bandidos, ele é inteligente, sabe conversar, é bonito como ninguém. Tive que dividir a atenção dele com algumas meninas, mas o bom que a maioria delas eram comprometidas.
Também tinha os meninos, que por incrível que pareça, parecia babar ele um pouco, ou tinham medo, não sei dizer ao certo. Mas, percebi algumas olhadas dele para mim, e eu gostei disso.
- Você vai morar por aqui agora?.- ele pergunta.
- Não, com certeza não. Vou voltar para minha casa em Realengo.- respondo, e ele concorda.
- Por que não fica aqui com seu irmão?.- pergunta ele tentando entender.
- Por que não tenho boas lembranças daqui, prefiro ficar longe dessa coisa toda.- eu abaixo minha cabeça, e ele fica me encarando.
- É, o crime só é bom pra quem gosta.- ele diz olhando na direção dos meninos.
- E você? Soube que é o dono do jacaré agora.- eu falo e ele da um meio sorriso apaixonante.
Esse homem não existe de tão bonito.
- Sim, mas não por que eu quis.- ele fala, e bebê sua cerveja.
- Por que? você não gostou?.- pergunto curiosa.
- Não é isso, eu nunca quis ser dono de nada, meu pai é o chefe do comando vermelho, é o verdadeiro dono de todos os morros da facção, se eu realmente quisesse isso pra mim, eu já tinha um. Eu só aceitei porque foi a Juliana que me pediu, vou cuidar pra ela, por que a dona na verdade é ela.- ele fala também de cabeça baixa, e eu percebo o quando ele gosta dela, só pelo jeito de falar.
- Você gosta mesmo dela né?.- pergunto com um pouquinho de ciúmes, e não sei nem o porquê disso.
Ele da um sorriso de lado, mas não responde minha pergunta.
- Vou sair saindo.- RN levanta da cadeira, faz toquei com os meninos, e eu fico o observando. Quando ele termina de fala com todos, ele volta onde eu estou sentada.- quer carona pra algum lugar?.- ele me pergunta do nada, e eu enrugo a testa.- você disse que não ia ficar aqui.- ele explica, e eu concordo.
- Ata.- sorrio. Por um momento pensei que ele ia me convidar pra casa dele.- acho que sim.- eu respondo meio sem graça.
Dou tchau para as meninas, e alguns meninos que eu conheço, e saio da quadra junto com o RN.
..* Vai sair alguma coisa dessa história em, fiquem ligados...
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A Minha Vez🍃
Любовные романыContinuação de FAVELADOS. Ele contará a história do Bruninho, que ficará de frente do morro que era de Naldinho. Com a nova responsabilidade de ser um dono de morro, ele acaba tendo que lidar com uma vida totalmente diferente, obstáculos e inimigos...
