Legado

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Rayane

Chego na casa da minha mãe e ela está fazendo um bolo pra gente. Enquanto isso, eu fico tomando coragem pra conta o que acho que está acontecendo no meu casamento, mas ela já percebeu que tem alguma coisa errada.

- E então, como está as coisas por lá?_ dona Flávia pergunta sem me encara.

- Então, é sobre isso que eu vim falar._ ela me encara e agora tenho sua total atenção.

- Pode falar._ ela me olha seria e eu engulo seco.

- Acho que o Bruno tem outra._ eu falo a encarando e ela ri.

- Filha, me fala um bandido que é fiel nesse mundo?._ ela fala e eu reviro os olhos.

- Mas é diferente mãe, a gente sabe quando é só uma pulada de cerca e quando o cara está mudado, entende?_ falo com desgosto.

- Mesmo assim, ela é mulher assim como você, a diferença é que você está com ele por um propósito e por isso você vai lutar com unhas e dentes por ele._ ela diz e eu me irrito.

- E eu tenho que fica pagando de corna até quando mãe?._ falo alterada e ela sai de trás do balcão e vem pra mais perto de mim.

- Até quando for necessário, ou até quando você deixar de ser inútil e fazer esse homem comer na tua mão._ fala apontando o dedo na minha direção.

- É eu sei, a favela é mais importante que a minha felicidade, eu já entendi._ falo levantando do sofá e andando exasperada.

- Rayane, seu pai deixou esse legado pro seu irmão._ ela fala segurando meu braço_ ele morreu tentando ganhar a Racinha pra você, o mínimo que você pode fazer agora é recuperar o morro que era dele, já que você não é capaz de pega o seu de volta._ ela fala com cara de raiva e eu puxo o meu braço.

- Eu já entendi mãe, eu entrei nessa sabendo o meu lugar._ falo saindo de perto dela e andando pelo apartamento.

- Seu irmão precisa da sua ajuda pra tomar de volta o morro que era do seu pai, e que agora é do seu marido._ ela fala como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Meu pai sempre nos prometeu o mundo, eu e meu irmão fazíamos planos para quando nos tornaríamos donos do morro,  e todas as coisas incríveis que iríamos fazer com ele. Sempre fomos muito próximos quando criança, mas quando minha mãe saiu do morro me levando junto, o Kaique escolheu ficar com o meu pai. Nos dois nunca perdemos contato, porém, quando a obcessão do meu pai pela Rocinha foi ficando cada vez mais descontrolada, ele foi fazendo o Kaique fica cada vez mais parecido com ele. Depois que nosso pai foi morto pelo VT e a tropa dele, o meu irmão está decidido em se vingar a todo custo. Mas é claro que ele não quer começar uma guerra logo pelo VT, até porque Kaique não é burro, ela sabe a força que o VT tem, ainda mais depois que vimos meu pai morrer pelas mãos dele. E ele também nem tem soldado suficiente pra isso nesse momento. Meu irmão teve que armar todo esse plano quando o papai foi morto. Ele quer recuperar o morro do meu pai primeiro e depois ir toma a Rocinha com a força de dois morros. Ele diz fazer isso por mim, mas no fundo, eu sei que é só pelo ego dele. Ele e a minha mãe sempre foram acostumados está no poder, no centro de tudo e não estão satisfeitos com a vida que tem agora. Na verdade, o plano sempre foi do Naldinho, o nosso pai. Porém, o plano era eu seduzir o VT e facilitar a entrada dele com os aliados na Rocinha, mais ele já estava com aquela insuportável da Manuelly e por quem meu pai também ficou obcecado por um tempo.

Não sei o que todos esses caras vêem naquela sem graça da Manuelly. Até o Bruno já foi apaixonado por ela e só de pensar nisso me dá vontade de vomitar.

- Sabe que quando tiver uma guerra, a Rocinha toda vai descer pra ajudar o Bruno não é? Kaique tá preparado pra isso? _ pergunto encarando minha mãe com a sobrancelha levantada.

- Eu odiava o seu pai, depois de tudo que eu fiz por aquele idiota, ele ainda teve coragem de me trocar por aquelas novinhas do morro.- ela diz fazendo a cara que sempre faz ao falar do meu pai.- Mas, mesmo com tudo que passei, eu tenho que admitir, ele treinou muito bem o seu irmão, e o bom de ninguém saber de quem o Kaique é filho, é que ele pode se enfiar em qualquer lugar sem que ninguém desconfie de nada._ ela fala toda orgulhosa e eu reviro os olhos com nojo.

- E onde ele está agora?._ pergunto e ela da um sorrisinho de canto.

- Logo você vai saber, não se preocupe._ ela diz voltando pra trás do balcão pra ver como está o bolo.

- Pelo amor de Deus, vê lá o que vocês vão fazer em mãe, sou eu que estou na boca do lobo, acha que o Bruno vai fazer o que comigo se descobri de tudo?_ a encaro séria e preocupada.

- Faz a tua parte que nós vamos fazer a nossa Rayane, é simples, tenta não perder seu homem pra qualquer mulher, você tem que ser muito mais esperta agora, ou o nosso plano vai todo por água a baixo._ ela fala partindo o bolo_ você precisa parar de ciuminho bobo, esse casamento não é e nunca será de verdade. Não tem como você continuar com ele depois que seu irmão terminar tudo que pretende fazer. Então coloca uma coisa na tua cabeça, seja a filha e a irmã de quem você é. Honra o sangue que correr em suas veias. Nós temos que tomar o que é nosso por direito, seu pai lutou por esse morro, não vamos deixar ele nas mãos desse merdinha que nem sabe o que está fazendo._ ela fala balançando a mão e eu fico a encarando seria.

Eu sou apenas um peão no meio do jogo desses dois.

Depois de um tempo eu suspiro, me sentando no sofá novamente, me perguntando se que vale a pena continuar me arriscando desse jeito. Estou perdendo o meu tempo, a minha juventude indo atrás de uma guerra que eu nem sei como começou. Mas o que eu posso fazer agora? Eu já comecei, tenho que ir até o final. Vou honrar o nome do meu pai, que apesar de tudo, sempre foi o meu herói.

Olho pra minha mãe e ela está me observando com expectativa.

- Eu vou pegar o nosso morro de volta._ falo firme e ela sorri satisfeita.

...

Chego em casa e Bruno ainda não está, nem uma ligação ele me fez, e os inúteis daqueles vapores nunca sabem de nada, é incrível isso.
Ligo pro 2D e ele diz que o Bruno foi leva o pirralh0 em casa. Menos mal, não tenho saco pra aturar criança gritando no meu ouvido não.
Tomo meu banho e coloco meu pijama. Hoje eu não quero sair de casa, não tô a fim de fica olhando pra cara desse povo desse morro puxando o saco do Bruninho, parece até que já esqueceram de quem realmente deu moral e proteção pra eles todo esse tempo.

Tenho nojo desse povo.

Vou pro fogão e começo a fazer janta.

Não aguento mais essa vida de dona de casa. Amanhã mesmo eu vou exigir uma empregada, pelo menos isso esse merda tem que fazer por mim.

...

Depois que o Bruno sai de casa. Eu subo pro quarto correndo, tomo um banho rápido, coloco um short de couro preto, e um cropped igual, passo uma maquiagem e solto o cabelo.
Agora tenho que arrumar um jeito de sair sem que os vapores avisem pra ele. Bruno que me aguarde, agora eu vou te amostra que comigo não se brinca.

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