A Minha Vez🍃

Impossível

Juliana

Fico petrificada ao ver ele parado na minha frente, como se tivesse vendo a mula sem cabeça.

- Caio.- sussurro vendo o meu amigo feito uma estátua assustada.

Ele fica me encarando como se eu fosse um fantasma, sem acreditar no que está vendendo.

- Tu tá viva.- ele fala com a boca aberta, conseguir sai do lugar.

- Caio.- eu só consigo repetir.

- Como?.- ele fala vindo até mim, e me abraçando forte.

Eu descanso minha cabeça no seu peito e mato a saudades que eu senti todo esse tempo.

- Como?.- ele pergunta de novo segurando meu rosto, ainda espantado.

- Só tem você aqui?.- pergunto encarando ele seria, e ele só consegue fica olhando sem conseguir responder.- Caio? você tá sozinho aqui?.- pergunto de novo, agora mais alto e ele balança a cabeça ainda de boca aberta.

- O que aconteceu cara?.- ele pergunta sem acreditar.- tu apontou uma arma pra mim?.- pergunta com a testa enrugada e eu sorrio sentando na areia, ele senta do meu lado.

- É, eu achei...- eu falo, mas depois desisto. Não tenho que me explicar.

- O que foi?.- ele pergunta com a sobrancelha enrugada.- Todo mundo pensa que tu tá m0rta cara.- diz ele me encarando, como se tentasse ter certeza que eu sou de verdade.

- Eu quase m0rri mesmo.- desvio os olhos dele, e volto pro lago.- tomei um tir0 no peito, a bala ficou alojada entre o meu coração e meu pulmão.- ele fica me olhando, prestando bem atenção no que eu falo.- se não fosse o Ryan me levar pro hospital no asfalto, eu ia morre no meio da rua, ou no postinho lá do morro.- ele franze a testa.

- Então ele salvou você?.- ele pergunta tentando entender e eu balançando a cabeça.- eu pensei que ele tinha ido esconder teu corpo, sei lá.- ele fala e eu balanço a cabeça sorrindo.

- Vocês não tinham certeza, vocês nem ao menos tentaram ter certeza. Vocês não ligaram, seguiram em frente como se nada tivesse acontecido, se eu tivesse presa, sofrendo em algum lugar, nenhum de vocês iam me ajudar.- eu falo tentando conter as lágrimas para não parecer fraca novamente.

- Juliana, tu tomou um tiro no peito. A poça de sangue que ficou no lugar, dizia que não tinha como tu sobreviver cara.- ele tenta se explicar.- é maluquice tua achar que nos não sofreu. Nós se retirou do morro cara, nós não perdeu ele.- ele fala e eu encaro ele surpresa.- Bruninho não quis mais ficar lá.- quando ele toca no nome dele, meu coração se aperta e meu corpo se arrepia todo.- Ele ficou com...- ele diz me olhando e eu o interrompe.

- Não quero saber.- corto ele na mesma hora.

- Mas ju.- ele tenta.

- Por favor, você não sabe o que eu passei, não sabe o quando eu senti.- as lágrimas começam a rolar sem controle.- eu tive que me esforçar muito pra parar de pensar nisso, em todos vocês.- fungo escondendo meu rosto. Ele suspira e me abraça.

- Eu nunca ia te abandonar.- ele sussurra e faz carinho no meu rosto.- Tu não sabe.- ele fala sorrindo e eu levanto a cabeça pra encarar ele.- eu vou ter um pivete.- ele me conta e eu sorrio ao ver a felicidade dele.

- Mentira?.- abraço ele toda contente.- Parabéns.- aperto ele com força.

Eu estou realmente feliz por ele. Mas isso me faz lembrar do que arrancaram de mim.

- Eu fiquei bolado quando descobri.- diz ele e eu o solto, pra encarar seu rosto.

- Por quê?.- fico com a testa enrugada olhando pra ele

- Porque tu não ia poder ser a madrinha do meu filho.- quando ele fala isso, meu coração erra as batidas e meu olhos se enche de lágrimas novamente.- mas agora tu tá aqui, e eu tô feliz pra caralh0.- Caio sorri e eu sorrio fungando.

Um segundo depois, meu celular vibra no meu bolso, eu pego ele na mão. É o Ryan que me liga mais uma vez.

- Oi.- atendo

- Porra, não faz isso comigo garota.- ele fala nervoso logo depois de eu atender.

- Desculpa, eu precisava pensar.- ele fica em silêncio e eu encaro o Caio que está me olhando fixo.

- Todo bem, quer quê eu te busque?.- ele pergunta preocupado.

- Não, eu já estou indo.- respondo, e o Caio balança a cabeça em negação.

- Tu não vai.- ele sussurra.

- Tá tranquilo, qualquer coisa me aciona.- Ryan diz antes de desligar.

- Tu vai voltar pra casa comigo.- Caio fala sério me encarando.

- Que casa? Na Rocinha? Lá não é a minha casa.- eu falo pra ele também seria.

- E a gente também não é sua família?.- ele diz irritado me encarando, e eu viro meu rosto.

Não posso me deixar levar agora, depois de tudo que eu fiz, todo esforço, não posso deixar ele fazer a minha mente.

- Não tem conversar, eu não vou pra lá.- falo firme.

- E tu vai me contar o por quê?.- ele diz cruzando os braços.

- Eu fui lá, quando eu me recuperei.- eu falo sem olhar para ele.- eu vi eles... Felizes.- falo triste.

- Impossível.- ele diz.

- Então eu não sei o que eu vi?.- sorriso irônica.- por favor, eu não quero saber, não vou ir pra lá, não insiste.- digo e ele bufa com raiva.

Passa a mão pelo cabelo, esfrega o rosto, e depois me encara.

- Como que eu vou esconder uma parada dessas?.- ele fala me encarando.

- Você não tem escolha, se você tem consideração por mim, você não pode falar pra ninguém. Se a Rayane descobrir, ela vai vim atrás de mim, e a gente ainda não conseguiu treinar gente o suficiente pra ir até ela.- eu falo e ele franze a testa.

- Como assim "a gente"?.- ele repete.

- Eu estou na Maré.- eu conto.

- No Terror? com o RN?.- ele pergunta surpreso.- o Terror é um dos cabeça do Comando, e o RN era ADA cara.- diz ele sem entender.

- O Marcelo é pai do Ryan.- ele arregala os olhos com o que eu falo.

- Caralh0.- sussurra surpreso.- e em facção diferente?.- ele fica tentando entender.

- Longa história.- eu falo me levantando.- preciso ir.- limpo meu short e ele levanta.

- E nós? Eu não vou mais ver tua cara?.- ele pergunta e eu sorrio.

- Você é meu irmão.- puxo ele pra um abraço apertado.- a maré e a Rocinha são aliados, você vai ser sempre bem vindo lá.- eu falo assim que solto ele e dou um sorriso.

- Se cuida mandadinha, não sabe como foi bom ver tu viva.- ele fala, e depois vai andando até a moto comigo.