SIXTY THREE

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Astrid

Estava chovendo muito quando acordei pela manhã e não quis me levantar.

"Você sofreu um aborto espontâneo."

Eu só conseguia chorar e pensar nisso, acabava sendo mais doloroso com Timothée ao meu lado e pedi para ele sair e me deixar sozinha pela manhã, ele só voltou com uma bandeja de café da manhã e se retirou novamente, meu pai estava me ligando, mas não atendi, não estava com ânimo para contar toda a história mais uma vez.

Era tão difícil para mim, eu estava tão animada com a chegada do bebê que eu não imaginava nada assim acontecendo, nada perto disso, então afastei meus pensamentos e a nuvem escura em volta de mim e decidi pegar o roupão e descer para a cozinha que estava vazia, apenas as cozinheiras estavam andando pelo ambiente.

"Sra. Chalamet, você precisa de algo?" Uma delas perguntou e me senti indiferente em como ela se referiu a mim. Eu forcei um dos meus sorrisos e puxei uma das cadeiras para sentar.

"Um café extraforte." Pedi, esperei pela xícara e levei para o saguão, andei pelos corredores da mansão, recordando-me do quão foi difícil me acostumar com as paredes brancas e todas as fotos incomum. Olhei pela janela do jardim e pude ver Timothée jogando vôlei com seu pai, eles pareciam distraídos, eu não esperava que Timothée fosse mergulhar na mesma tristeza que eu, mas agradecia pelo espaço que ele estava me permitindo ter enquanto eu estava aqui.

"Astrid!" Marc gritou e acenou de longe, Timothée olhou para mim e rapidamente tentou desviar os olhos. Eu acenei de volta e me aproximei com as mãos em volta da caneca de café. "Já tomou seu café da manhã?"

"Ainda não." Eu nem havia tocado na comida que Timothée me levou, não estava conseguindo por nada na boca no momento. Timothée parou e bebeu um gole de água, ele passou por mim sem dizer nenhuma palavra e sumiu.

"Ele está abalado." Marc disse e pegou uma toalha pendurada em um gancho. "Ele me disse que lhe daria o tempo que precisasse, mas ele não consegue parar de pensar que a culpa não seja dele."

Apertei um pouco mais as mãos na caneca.

"Não é culpa dele." Enfatizei, Marc suspirou.

"Claro que não, Timothée cresceu em volta de um ambiente diferente, ele foi mimado pela mãe e por isso age como se todas as coisas girassem em torno dele." Ele tinha razão, o temperamento de Timothée era imprevisível. E eu não tinha me dado conta do quanto era difícil estar com ele.

Bebi um gole do café.

"Fica bem." Marc apertou meu ombro e saiu, segui pelo corredor até o saguão e me sentei em um dos sofás olhando para o teto branco, pensando no que eu faria ali adiante. Em como agiria, como ficaria? Como seria a minha vida a partir de agora ? Eu não tinha mais nada. Além de Timothée.

Desde o seu acidente, sinto que estamos cada vez mais distantes, que não pertencemos um ao outro e que tudo isso ainda é estranho, ele age como se não se importasse muito com tudo que acontece entre nós, e eu tento não ficar magoada, porque ele é assim e não posso mudá-lo.

"Pensei que estaria com o Timothée." Ouvi a voz de Nicole e me virei para olhá-la, seus olhos estavam inchados e sua pele parecia diferente como se ela tivesse dormido demais.

"Estamos tentando processar a situação." Gesticulei, Nicole sentou ao meu lado.

"Eu sinto muito, de verdade, eu fui tão cruel com você e que todas as coisas que fiz apenas fizeram meu filho ser do jeito que é, eu não sabia que precisaria perceber isso nessa situação, agora." Eu suspirei e abaixei a cabeça. "Percebi que você estando com ele, é melhor do que ele estar por aí sozinho em lugares que não são para ele. Timothée sempre foi fraco, ele não aguenta a pressão que exercem em cima dele, e acho que desde que ele foi para um retrocesso de verão para alcoólatras, ele nunca mais foi o mesmo."

Alcoólatras?

Eu olhei para Nicole, um olhar confuso.

"Ah." Ela suspirou. "Você não sabia."

"Timothée não costuma me contar nada do passado dele." Coloquei o rosto entre as mãos e bufei alto suficiente para que ela escutasse. "Ele é alcoólatra?"

"Sim." Respondeu Nicole. "Desde os dezesseis anos, quando a mídia começou a perseguir sua vida, ele passou a afundar no álcool e sair com muitas garotas porque para o Timmy, sempre foi mais fácil lidar com isso dessa maneira."

"Vocês não pensaram em levá-lo ao psicólogo?" Perguntei atônita.

"Nunca pensamos que ele estava tão deprimido, éramos tão ocupados com nossos problemas que esquecemos do nosso próprio filho."

Engoli em seco.

"Quando ele começou a namorar a Erica, sua primeira namorada, Timothée piorou, a garota o levava para todos os lugares possíveis e por um segundo achei que ela fosse matá-lo." Esfreguei as bochechas molhadas pelas lágrimas. "Pensei que fosse perder meu filho. Mas você, Astrid, mudou a vida dele, e eu queria ter percebido isso muito antes."

"Não foi culpa sua." Alcancei sua mão e a apertei. "Você só estava com medo de tudo isso acontecer novamente e eu entendo, está tudo bem." Olhei nos olhos dela e esperei alguma reação, Nicole desabou em meu ombro e me apertou junto ao seu corpo enquanto soluçava. Esfreguei suas costas e quando ela se afastou, limpei suas lágrimas bem devagar. "Você só estava sendo a mãe que ele precisava."

"Obrigada, querida." Ela segurou minhas mãos. "Eu te amo tanto por ter sido o milagre na vida dele."

Eu ainda não havia feito nenhuma mudança em Timothée, ele era o mesmo garoto, com temperamento ruim e deprimido. Ele precisava de ajuda e todos ao seu redor sabiam disso, menos ele próprio.

*

"Eu não acredito, sinto muito A, eu sinto muito mesmo, nem sei o que dizer." Hannah estava soluçando do outro lado do telefone, contei a ela o que havia acontecido nas últimas semanas já que não estávamos nos falando muito, eu havia esquecido de como era ter uma amiga. "Eu nem sei mesmo o que dizer."

"Vai ficar tudo bem." Eu só não acreditava nas minhas palavras, ter o bebê era um dos meus sonhos e mesmo que tenha sido tão cedo, eu não queria que eu fosse amaldiçoada com esse acontecimento. Timothée entrou no quarto apressado e seguiu para a varanda. "O que você está fazendo?"

"Bom, eu estou estudando muito, esse semestre está horrível, não tenho tempo nem para respirar."

Eu queria ainda estar na faculdade, pelo menos não teria sofrido tanto nesses últimos meses. Me envolver com Timothée me trouxe tantas emoções que eu não esperava da minha própria vida. Estar com ele é uma montanha russa de emoções dolorosas e felizes, eu não podia culpá-lo.

"Hannah, eu preciso ir." Falei antes de desligar e deixar o celular na cama, me aproximei de Timothée ao ir até a sacada e devagar tocar seu ombro, ele se espantou e forçou um sorriso, seus olhos estavam vermelhos e lágrimas corriam por sua pele.

"Eu sinto que cometi muitos erros com você e essa criança, se eu não tivesse sido tão pessimista..."eu o impedi e o puxei para um abraço apertado, encostando a cabeça no seu ombro.

"Não foi culpa sua, amor." Sussurrei, segurei seu rosto entre as mãos. "Você é precioso, bondoso, e perfeito, não era para ser nosso momento, mas um dia vai ser, e você...você vai ser um pai maravilhoso." Esfreguei os polares nas suas bochechas e limpei as lágrimas. " O melhor pai do mundo."

Ele sorriu e encostou a testa na minha. Foi o suficiente para me fazer sorrir novamente.

TOMORROW| Timothée ChalametOnde histórias criam vida. Descubra agora