SIXTY SIX

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                         Astrid

   Coloquei uma tigela com gelo sobre a mesa de centro e empurrei a mão de Timothée dentro dela, Marc estava sentado ao lado dele no sofá, todos os convidados já haviam ido embora, voltamos para casa assim que Erica levou Dan de volta para o hotel, eu devia saber que Dan faria algo assim e me sentia culpada por deixar Timothée em uma posição como essa. Não era certo o que ele havia feito e o pai dele estava decepcionado. Eu havia causado essa confusão depois de ter levado Dan para dar uma volta por aí, eu devia ter ficado aqui com Timmy e feito a coisa certa.

   Ele me pediu desculpas por ter batido em Dan, fiquei um pouco calada porque não sabia o que dizer. Eu não queria decepciona-lo, estávamos indo bem até Dan aparecer tão de repente e causar tanta confusão, Timothée sabia que eu não era capaz de cometer um erro assim, por isso ele parecia calmo.

"Essa droga tá muito gelado!" Ele gritou tirando a mão do gelo, uma das empregadas correu até a cozinha e voltou com um pano morno para colocar nas mãos dele. Marc olhava para mim tentando não encarar a situação do próprio filho.

"Posso falar com você?" Marc disse e se levantou. Eu acenei, amedrontada que pela primeira vez estaríamos conversando sério, me levantei e o segui diante o corredor até ele parar. "Eu sei que não foi culpa sua, mas gostaria que não se metesse em problemas." Eu assenti, pelo menos ele acreditava em mim. "Timothée ontem estava bebado, completamente fora de si, e não foi a primeira vez que isso aconteceu, se esse tal Dan decidir prestar queixa, Timothée irá para a cadeia pela segunda vez."

"Ele não vai, Dan não vai prestar queixa." Eu disse, mesmo sabendo que não era verdade, não tinha certeza se Dan estaria tão furioso a esse ponto. "Eu garanto que o Timothée vai ficar bem."

"Vai sim." Marc disse. "Porque vou mandá-lo para a Reabilitação na Suíça."

   O que? Minha boca ficou aberta e meus olhos estavam arregalados. Eu mal sabia o que dizer de verdade, ou como dizer, só sabia que era demais para mim.

"Você não pode..."

"Eu posso Astrid, Timothée tem problemas demais com o álcool desde os dezesseis, e isso fui culpa minha por não perceber que ele precisava de ajuda." Marc suspirou devagar. "Eu sinto muito." Ele se desculpou e me deu as costas para voltar para a sala, continuei parada ali, completamente imóvel sem conseguir respirar. Por que tão longe? Por que ele precisava fazer isso com Timothée?

   Consegui retornar a sala e me sentei ao lado de Timmy enquanto ele estava distraído assistindo ao noticiário da manhã, Gentlyn apareceu usando o mesmo vestido da noite anterior e carregava algumas sacolas nas mãos, eu me levantei para ajudá-la.

"Comprei algumas roupas para você." Ela disse para Timothée que estava com a expressão fechada e marrenta. "Vou deixar aqui, caso queira ver."

"Não preciso de roupas. Muito menos essas porcarias que você compra no brechó." Ele disse rígido e se levantou saindo da sala, Gentlyn se encolheu um pouco e deixou as sacolas no chão. "Ele já deve saber."

"Foi ideia sua?" Perguntei curiosa, por que Gentlyn queria fazer isso? Eu entendo que Timothée precisa de ajuda, mas por que na Suíça?

"Foi." Ela respondeu. "Eu queria que ele entendesse, mas vai ser difícil." Gentlyn se sentou. "Eu estou com medo de que todas as vezes que ele se frustrar, vamos acabar caindo nesse buraco infinito."

   Segurei sua mão sobre seu colo e apertei seus dedos.

"Você é uma ótima mãe, está fazendo o que acha necessário, mas por que não uma reabilitação aqui? Em Washington?"

"Porque achamos melhor que ele receba o melhor acompanhamento." Ela disse respirando fundo. "Eu disse ao Marc que era exagero, mas ele garantiu que na Suíça tem os melhores médicos para o caso do Timmy."

  Eu não queria dizer nada a propósito, talvez fosse mesmo melhor que Timmy fosse capaz de melhorar, mas não longe daqui, eu não poderia passar tanto tempo sentindo falta dele.

   Subi as escadas e fui até seu quarto, Timothée estava na sacada, sentado em uma das cadeiras, fumando um baseado, era ruim que seu comportamento fosse o motivo de nós afastar, eu queria ser sincera com ele e que ele fosse sincero comigo também.

"Oi." Ele apagou o baseado e veio até mim, seu cheiro era forte.

"Oi." Acenei e me sentei na outra cadeira a sua frente. "Você está bem?"

"Acredito que sim." Ele cruzou as pernas e ficou olhando para o céu a nossa frente, uma vista grandiosa. "Meus pais querem mesmo que eu vá e eu sinto que se eu dizer qualquer coisa, não vai funcionar." Timothée tinha razão, seus pais eram determinados e por isso nada disso seria válido, só estaríamos lutando contra um nada qualquer. "Eu sinto muito." Ele se inclinou e segurou minhas mãos. "Eu queria poder fazer mais por nós, mas acho que não consigo."

"Não consegue?" O que ele está dizendo, Timothée tinha feito o suficiente para estarmos juntos.

"Eu quero terminar com você." O choque foi tão grande que nem percebi que estava soluçando. "Não por causa dessa bagunça com o Dan, mas porque preciso que você seja feliz."

"Mas eu sou feliz com você. Aqui." Eu apertei suas mãos para não deixá-lo ir.

"Não é não Astrid, você não é feliz e eu vejo isso porque eu sou quem causa todos os problemas, sou eu que acabo deixando nosso relacionamento cada vez pior, eu preciso melhorar e meus pais tem razão, eu preciso crescer para depois começar a minha vida."

   Eu engoli em seco e soltei suas mãos.

"Eu entendo." Sussurrei, Timothée ascendeu outro baseado e se levantou. "Você precisa de ajuda e eu não vou atrapalhar isso."

"Obrigado." Ele disse devagar e soprou a fumaça no ar. "Eu agradeço por entender, você é a parte mais importante da minha vida, e eu queria que soubesse."

   Agora entendia porque nós dois nunca estaríamos destinados a estar juntos, sempre teria algo para nos afastar e agora, uma delas é ele, ele está disposto a acabar com tudo.

TOMORROW| Timothée ChalametOnde histórias criam vida. Descubra agora