74. Timothée

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Todos os anos da minha vida foram turbulentos, como uma rajada de vento que te arrasta para qualquer lugar distante, era assim que eu me sentia nesse momento outra vez, os flashs me engolem quando desço da van e entro no hotel, passando pelo saguão enquanto Hailey me persegue a dois passos de distância, tomando cuidado com meu mau humor, bebo um gole de água da garrada plástica e atiro para o segurança pegar, ao entrar no elevador, estou cercado por duas mulheres que me observam de cima a baixo com carência, engulo em seco, escondendo meus olhos com os óculos escuros que as avaliam de cima abaixando percebendo que elas são patéticas.

Meu segurança para bem a minha frente, impedindo que eu entre.

''Tem certeza?'' Ele perguntou, eu sabia o que ia encontrar bem ali do outro lado, uma dupla de fãs malucas que iriam me encurralar de um jeito ou de outro. Dei de ombros e empurrei a porta, as duas garotas maluquinhas estavam ali, a de cabelo azul se levantou em um pulo e correu para me abraçar, e a outra apenas tímida se aproximou bem devagar. Eu seria entrevistado durante uma hora e meia por elas para um trabalho comunitário, tipicamente estou nervoso, porque eu não fazia trabalhos comunitários e me senti inútil por isso, não queria decepcionar as duas meninas que haviam preparado tudo de uma forma tão bonitinha e um pouco grotesca.

  A de cabelo azul bateu o gravador sobre a mesa de centro e me lançou um sorriso cheio de dentes aparelhados, devolvi o sorriso com os lábios derretidos.

''Começando.'' Disse, apertando o gravador e dando inicio a nossa entrevista. ''Bom, estamos aqui com a maior celebridade de todos os tempos, Timothée Chalamet, todos nós sabemos que ele é o novo galã de Hollywood com seu novo filme de estreia, mas o que queremos saber mesmo é...'' A menina cutucou a de cabelo rosa. ''O que você pretende fazer com o dinheiro arrecadado dos filmes?''

  Eu não tinha controle sobre isso, eu não tinha como responder isso e não ofender.

'' Vou...vou...'' Gaguejei, olhando ao redor, eu simplesmente podia ser sincero e abrir meu coração, eu não faria nada mirabolante com o dinheiro, eu apenas estaria mentindo se dissesse outra coisa. ''Vou doar tudo para um orfanato.'' menti.

''Mesmo?'' A menina de cabelo rosa pareceu surpresa. ''Qual deles?''

  Ah merda, eu era um rato na toca dos leões.

''Qualquer um.'' Esfreguei a bochecha em um tique nervoso, minhas palmas estavam suadas. Uma hora e meia pareceu uma eternidade, bebi duas garrafas de água e não me despedi ao sair, corri para a Van a minha espera e encontrei Hailey imóvel no assento de couro. 

''Como foi?'' Perguntou com devida diversão, ela sabia que eu havia cometido erros.

''Eu disse que ia doar o dinheiro do filme para um orfanato.''

''Santo Deus.'' esbravejou e riu baixinho. ''Você nunca fez isso? serviço comunitário?''

  Balancei a cabeça negando.

''Pois bem.'' Hailey largou seu celular sobre o colo e me olhou profundamente. ''Acredito eu que sua imagem já esteja bem  suja depois do vexame que você passou com a Astrid.''

  Ah, Astrid, era por isso que eu estava nessa maldita entrevista.


  Dois dias antes, Astrid e eu brigamos em um jantar que devia ser algo perto de romântico, eu gritei tão furioso que fui expulso do restaurante imediatamente, claro que não estávamos nos falando fazia dias, e ela veio falar comigo ontem quando eu estava chegando em casa e Astrid se sentiu mal por me fazer ficar magoado com o fato de tudo ter voltado a tona, nossos problemas eram maiores que nós dois juntos, ela me culpou por ter largado a faculdade e me culpou por não ser responsável com nosso filho que só tinha oito meses.

''Sua imagem pode ser limpa se você quiser.'' Hailey continuou aflita.

   Estava em todos os sites de fofoca.

  10 MOTIVOS PARA ACREDITAR QUE TIMOTHÉE CHALAMET É ABUSIVO.

 Não fazia nem sentido, eu era a vitima ali. Balancei a cabeça e concordei que o melhor seria que eu aparecesse fazendo algo de bom que a mídia pudesse falar de cabeça erguida que eu era um bom moço apenas. Claro que mídia era capaz de me detonar o quanto quisesse, com tudo que Astrid e eu estamos passando, é quase como se tudo estivesse vindo a tona mais uma vez.

''Você sabe bem que vai ter que limpar sua imagem o quanto antes se quiser continuar no filme.'' Hailey suspirou com preocupação, quando menos percebi estava de volta ao hotel de Nova York e me senti aliviado mesmo com o flashs disparando pelos vidros da janela e voltando a me cegar, Astrid estava na casa de seu pai com Luka, e eu estava sozinho desde que brigamos e ela fez questão de se mudar para lá, eu me sentia um baita de um merda por ter gritado com ela só porque não queria vir para Nova York enquanto eu estava passando a temporada. Tomei coragem e saí da van, sendo cercado por uma multidão de paparazzis que fecharam as portas do hotel, meus seguranças empurravam todos eles enquanto eu me espremia em uma lata de sardinha de porta, conseguindo passar para o saguão. Olhei ao redor, percebendo os olhares em mim, duas garotas na recepção estavam sussurrando e olhavam diretamente para mim, coisa boa não era. Corri para o meu quarto e passei a tarde toda decorando texto até Katherine me ligar, Katherine é uma das atrizes com quem contraceno, ela não é fácil de se lidar, principalmente em cena, mas eu aprendi a gostar dela ao longos dos dez meses que estávamos juntos, eu sentia que Astrid estava incomodada com o fato de eu estar fazendo um filme pela primeira vez, embora ainda estivesse feliz pela minha conquista, eu não conseguia passar segurança a ela, mesmo que fosse meu papel fazer isso como marido.

  Eu havia me casado cedo, e aceitado que amava Astrid e meu filho, fazia quase dois anos desde que nos conhecemos e aprendemos a lidar com nossos problemas, mas tudo parecia uma bomba atômica pronta para estourar na minha cabeça se eu cometesse um erro se quer, ainda tinham os velhos hábitos, mesmo que eles não fossem tão grandiosos quanto eram antes, eu ainda gostava de ir em bares, beber uma cerveja e jogar sinuca como um velho de meia idade em crise existencial, eu gostava de ir a pubs com os amigos e curtir a música, e ver a mulherada dançar mesmo que não fosse nada demais, Astrid odiava meus hábitos, ela sabia que eu era um cara diferente, e talvez isso nunca fosse mudar, porque eu amava a vida que tinha agora.

  Eu tenho uma mulher que está ao meu lado, um filho que está crescendo rápido demais e estou envelhecendo, com o tempo as pessoas vão esquecer quem eu sou, vão esquecer do que fiz, tudo e nem nada vai valer a pena. Minha vida vai passar a ficar chata depois dos trinta e meu trabalho vai ser uma porcaria. 

''Katherine.'' Falei ao telefone depois de um tempo.  Quase pude sentir ela sorrir do outro lado.

''Está ocupado?'' Estava escurecendo atrás dos prédios, o sol desaparecia e dava espaço ao azul cinzento da noite, eu não tinha planos e estava em Nova York, onde eu sempre tinha planos. 

''Não.'' Sussurrei, levantei da cama e calcei os chinelos para ir até a varanda do hotel, o céu estava cinzento e as estrelas tinham sumido pela neblina. 

''Estou indo até aí.'' ela desligou a ligação, e não pude contra argumentar, eu sabia que ser visto com ela mais uma vez me causaria sérios problemas, da mesma maneira que os rumores de que Astrid e eu havíamos rompido no momento em que comecei a gravar o filme se tornaram ainda mais poderosos. Mesmo assim, tomei coragem para trocar minhas roupas, coloquei uma regata e um cardigã, com calças de moletom e fiquei na sacada fumando um baseado até a chegada de Katherine. Ao ouvir o  toque na porta, apaguei o cigarro no cinzeiro e fui atender, pela minha surpresa, avaliei Katherine da cabeça aos pés, ela usava um vestido vermelho decotado, os cabelos ruivos cobriam seu colo desnudo, usava uma maquiagem muito pesada para seu rosto angelical, ela foi entrando se espremendo entre mim e o baque da porta, olhei para a sua bunda redondinha no vestido e me denunciei por fazer isso, é claro que eu não parava de pensar em Astrid, mas em uma semana tudo mudou. 

''Essa vai ser a melhor noite da sua vida.'' Ela ergueu uma garrafa de vodca para cima, eu abri um sorrisinho, embora por dentro eu estivesse profundamente preocupado. 



  

TOMORROW| Timothée ChalametOnde histórias criam vida. Descubra agora