Querido Timothée.Você não era nenhum tipo de pessoa covarde, e sim corajosa, muito mais corajosa do que eu. Estou lhe escrevendo porque você nos deixou no dia 27 de outubro, dois dias depois em que me divorciei e três dias depois do aniversário do meu aniversário de 37 anos.
Me lembro de quando tínhamos dezessete. Nos casamos por acaso em Los Angeles, eu estava brava e não fazia ideia de quem você era. Éramos dois adolescentes bobos cometendo erros atrás de erros.
Mas depois de alguns anos nós nos apaixonamos de verdade e nos casamos e tivemos um filho que cresceu e está enorme, você tinha que ver, ele adora jogar basquete, tem o mesmo gosto musical que o seu e bem...ele tem o mesmo hábito com as mulheres.
Agora faz quase 4 anos que você morreu e eu ainda sinto sua falta. O Luka também sente, mas ele tenta não demonstrar muito, as vezes eu o pego chorando no quarto e é meio triste, só que ele sempre diz que o pai dele foi seu herói.
Sentimos sua falta, eu também tenho muito medo do amanhã, principalmente quando estamos sem você aqui, todos os dias é frio e sombrio, a mesa de jantar é silenciosa e não temos sua risada.
Depois de um tempo eu passei a te entender e porque tomou essa decisão, eu só queria ter feito algo que pudesse ter mudado tudo. Porque eu ainda te amo.Dobro o papel e guardo junto com o conjunto de cartas, Luka entra no quarto, ele está mais alto e deixou o cabelo crescer, já tem quase quatorze anos.
"Mãe, eu vou sair com a Tina." Eu sorrio, e vou até ele beijando sua testa. "Aí mãe, que isso." Ele abana as mãos e se afasta. Correndo pelo corredor e pegando a mochila para sair. Dou risada cozinha. Minha mãe faleceu a dois meses atrás, todos nós ficamos abalados com sua partida tão cedo, fizemos um funeral simples na catedral da cidade. Eu sentia falta dela, assim como todos os dias sentia falta dele depois de todos esses anos.
Havia conseguido um emprego no centro da cidade em um escritório e trabalhava meio período, podia ficar com Luka no final de semana, meu pai vinha nos visitar e ele passava a semana toda nos trazendo comida assada. Porque eu não gostava de cozinhar. Não tive mais contato com a família de Timothée, nem mesmo Gentlyn, soube que eles se mudaram para Itália dois anos depois da morte de Timothée e tentaram seguir em frente, a morte dele ainda era curiosa e estava sendo investigada pela polícia.
Mas talvez ninguém realmente quisesse saber de verdade.
Não queríamos mais dor.
"O que vai fazer hoje?" Hannah pergunta, guardando os pratos na lava louça, as vezes ela vem e me ajuda a limpar a casa e torna tudo mais fácil. "Podemos ir em um bar aqui perto..."
"Sem essa." Eu dispenso.
Não saio faz muito tempo, não sei se consigo me divertir.
"Astrid, eu também o perdi." Ela cerra os lábios. "Mas ele não ia querer isso." Eu suspiro, guardando o copo no armário.
"Eu não posso, eu não consigo Hannah." Ela se aproxima de mim e me abraça e nós duas caímos no choro. "Eu ainda sinto que tudo isso não é verdade."
"Gentlyn me disse que o Timothée já tinha planejado tudo isso." Eu me afasto dela devagar e ando ao redor da bancada.
"Hannah..." Eu a impeço. Não quero voltar a ouvir tudo isso de novo.
"Astrid..." Meu semblante endurece devagar. Meus lábios estão secos.
"Sabe o que mais me dói ?" Hannah me olha atentamente. "Ele prometeu que nunca ia me deixar, nós prometemos um ao outro.." Bato a mão na bancada de mármore. Minha respiração se altera. "Isso não vai mudar Hannah, ele não vai voltar."
"Fui eu que dei as bebidas pra ele." Eu paro, meu olhar decai sobre Hannah indiferente, meus punhos se fecham devagar. "Eu sabia que ele não podia beber, mas ele implorou e eu acabei dando, mesmo sabendo que ele estava tomando remédios."
"Você fez o que..." Meus passos avançam sobre Hannah e eu empurro para trás com força, ela cai no chão de costas e se encolhe. "O que você tinha na cabeça?"
"Eu não queria machuca-lo!"
Meu coração estava disparado.
"Eu o matei." Hannah sussurra e desvia os olhos para a sala ao seu redor. "Eu sei disso Astrid e me sinto mal por isso. Muito mal."
"Por quatro anos e você não disse nada?!"
"Como eu diria?!" Hannah aumentou a voz. As lágrimas correndo por seu rosto ainda mais depressa. "Eu não consegui, eu me sentia culpada demais."
Minha respiração estava alta, não pude me controlar, finquei as unhas nas palmas da mão e soquei a bancada, sentindo a dor imensa contorcer meu braço.
"Puta merda." Ralhei, meus dedos sangravam, pingando o líquido vermelho no tapete. "Você..." olho novamente para Hannah, não sei o que eu sinto, irritação, vergonha. Respiro fundo, pego um pano de prato e enrolo na mão.
"Eu não quis...Astrid, ele me implorou, de verdade." Ela se levantou e tentou se aproximar, levantei a mão para que parasse. "Ele estava pedindo ajuda e eu..."
"Você não o ajudou."
"Eu não percebi." Ela soluçou com a mão na boca. "Eu não percebi que ele estava desesperado..."
"Vai embora." Peço devagar.
"Astrid." Ela sussurra.
"Vai embora!" Eu grito dessa vez um pouco mais alto, Hannah balança a cabeça e pega sua bolsa, saindo e batendo a porta, vou até a pia, abro a torneira e lavo os ferimentos que ardem.
"Merda." Sopro ao sentir a ardência das feridas.
Meu pai entra pela porta junto com Luka.
"Oi mãe." Luka acena, jogando a mochila no sofá.
"Luka, oi." Ele me olha desconfiado e seus olhos se arregalam ao olhar minha mão.
"Acidente na cozinha." Lavo a mão novamente.
"A tia Hannah não estava aqui?"
"Ela já foi embora." Pigarreio, e direciono meu olhar ao meu pai, ele sabe que tem algo errado. Luka dá de ombros e vai para o seu quarto fechando a porta. Apoio as mãos na bancada, soltando o ar que estava prendendo.
"O que houve?" Ele se aproxima.
"Foi Hannah que deu as bebidas ao Timothée, eu não sei se sinto raiva ou se..." Cubro meu rosto com a mão. "Se eu só...tento esquecer tudo."
"Foi uma situação muito tenebrosa para todo mundo." Meu pai puxa o banco para se sentar. "Mas não culpe a Hannah, Timothée tomou a decisão dele e nem devemos tentar entender o porque." Eu balanço a cabeça, é, talvez tenha razão, não tem como entender porque Timothée preferiu esse caminho. "Se você o ama, o melhor a se fazer é seguir em frente por ele."
"Você tem razão."
Ele sorri, as rugas pesadas cobrindo-lhe os olhos.
Sei que um dia eu vou superar, sei que nunca vai parar de doer. Vai ficar para sempre preso na minha memória. Mas vou viver o amanhã da melhor maneira por ele.
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TOMORROW| Timothée Chalamet
FanfictionAstrid Davis tem dezoito anos e está no seu último ano da faculdade de jornalismo, quando ela recebe uma nota ruim que pode faze-lá repetir seu semestre, ela precisa provar seu valor em uma nova matéria exclusiva, o momento perfeito chega na férias...