90.Timothée

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aviso: esse capítulo contém tema sensível relacionado a doença mental.


  Não penso mais nela, nem em quem fui realmente, não penso na minha vida passada, nem de todas as vezes em que cometi tantos erros que não fui capaz de reparar. Fui uma pessoa incapaz de assumir meus problemas, estava sempre fugindo da realidade porque parecia ser bem mais fácil do que realmente enfrentar, eu tinha um filho, eu havia me casado, era um adulto agora, por que tudo tinha que ser tão difícil?

  Pensei nisso várias vezes de todos os anos que se passaram, minha carreira se tornou ainda mais popular e só então entrei em algum tipo de bolha infinita que me deixou preso na solidão, eu mal saía do meu quarto, estava enfrentando um dos maiores dilemas da minha vida. 

''Você tem certeza?'' Pergunta Gentlyn com preocupação, o que o médico dizia nem entrava na minha cabeça, era como se sua voz fluísse por outro horizonte, e era preocupante que eu mal conseguisse prestar atenção no rosto dele, era como um borrão armado. ''Transtorno de personalidade?''

''Isso explica a impulsividade, os ataques de raiva?'' Meu pai tomou a frente, ele parecia bem decepcionado. 

''Exatamente Sr.Chalamet, eu entendo que é muito para processar, posso conversar com o Timothée?'' 

  Gentlyn e meu pai se levantaram da sala de estar e saíram, a porta foi fechada em um baque que me fez estremecer.

''Quer me contar alguma coisa além do que já sei?'' O homem estava fazendo o trabalho dele, era certo, eu havia contado tudo que sabia sobre mim, desde a minha infância onde tive que me mudar várias vezes de cidade em cidade, das festas e do problema com alcoolismo, o dia em que conheci Astrid, meu último relacionamento que não terminou muito bem, meu casamento e o nascimento do meu filho, o estresse do funeral de Nicole ainda me abalava.

''Não.'' Respondi com as mãos sobre as coxas.

''Tem certeza?'' Ele questionou. Balancei a cabeça, eu queria sair daqui o mais rápido possível. 

''Timothée você entende o quão sério isso é, não?''

''Entendo.'' Ele me olha devagar me analisando e me sinto quase pelado diante dele. ''Já posso ir?''

''Sabe o que eu acho?'' O homem se inclina devagar na cadeira. ''Você viveu tudo ainda muito jovem, e isso desenvolveu alguns pontos na sua vida, que levou a tomar decisões impulsivas. O que levou você querer ir embora.''

  Eu bufei.

''Só que...eu só queria respirar.'' Balancei as mãos. '' Eu queria parar de cometer os erros.'' Minha respiração estava fraca.

''Os mesmos erros que cometia quando ainda tinha dezessete anos?'' 

''É'' Soprei, incomodado em como ele estava invadindo minha vida.

''Você não acha que seria melhor se afastar um pouco?'' Sugeriu, levantei as sobrancelhas questionando-o.

''As vezes eu penso em como seria mais fácil.'' 


  Então, minha carreira decolou, não fui chamado para testes, nem fui perseguido pela mídia depois que passei a me esconder dos meus valores, das minhas verdades, passava pela terapia duas vezes na semana e ficava com a minha mãe na maioria do tempo. Não pensava em nada, ou ao menos tentava, rodava pela casa o dia inteiro de meias brancas e pijama, dormia e lia os piores livros da década de 50. Era chato, meio cruel ficar o dia todo em casa e evitar qualquer tipo de confusão, Gentlyn estava sempre por perto porque era conveniente. 

TOMORROW| Timothée ChalametOnde histórias criam vida. Descubra agora