Ao longo da estrada, pelo canto dos olhos, Sam perdeu a conta de quantas vezes a viu pegar o celular para digitar a mesma sequência de números. Foram tantas vezes que, ao passar por Indiana, ele parou de contar.
Seus dedos estavam relaxados no volante. Ele aproveitava cada minuto dirigindo aquele impala, pois não era todo dia que seu irmão era tão bonzinho assim. Com certeza, ele tinha feito aquilo por Audrey - sabendo que isso irritaria o irmão.
Outrora se sentisse em casa dentro daquele carro, não podia dizer o mesmo de Audrey.
Primeiro pensou que fosse por causa de Allison. Elas se preocupavam muito uma com a outra, e ao vê-la naquele estado, pode ter lhe despertado alguma ansiedade. Mas, depois, ele descartou a ideia.
Sam sabia o número de Allison e Dean de cor. E todas aquelas milhares de vezes que Dawson discou o número, não era de nenhum deles. Talvez ela já soubesse que eles ficariam bem, ela sabia como as coisas funcionavam no Bunker.
Outra vez, Audrey pegou o celular, discando os mesmos números. Suspirou. Estava pronta para apagá-lo, quando Sam coçou a garganta.
— Você é boa com números — disse tão de repente que a surpreendeu —, já digitou tantas vezes. Mesmo assim, eu não consegui decorar.
— Ah. É, mais ou menos.
A Dawson guardou seu celular, para ter certeza de que não faria aquilo outra vez.
Já bastava de problemas familiares, Sam não precisava saber com antecedência que seu pai era um bêbado lunático.
Quer dizer, precisava. Mas, na verdade, não.
— É complicado, só isso.
Não era o tipo de resposta que Sam gostava de ouvir. Era o que seu irmão dizia próximo a uma catástrofe, ou sobre suas lutas internas. Ele queria que Audrey soubesse que não precisava lutar sozinha, não precisava mais ficar sozinha.
— Não é como se eu não pudesse te contar. Eu escolhi não contar. — ela engoliu seco, tinha medo até de olhá-lo — Achei que estivesse te protegendo, de alguma forma. Ali estava certa, sobre tudo. Sobre meu pai, sobre o que ele fez... eu só-
Ela se interrompeu, suspirando fundo.
O carro parecia pequeno, estava abafado. Sam abaixou seu vidro quando notou que ela ofegou.
— Pensei que se ignorasse o fato poderia resgatar essa pequena parte normal da minha vida — surpresa com a própria ingenuidade, ela riu amargurada — E não era só por mim. Era por nós; eu queria que você conhecesse meu pai. Além do mais, não o vejo há algum tempo...
— Quanto tempo, exatamente?
— O suficiente para ter medo de voltar para casa e ser chutada outra vez.
— Outra vez? — o Winchester franziu as sobrancelhas — Auddey, você nunca me contou o que aconteceu depois que você e Allison se separaram. Ele, ao menos, sabe que estamos indo visitá-la?
E nunca contaria. Audrey já havia decidido que ao colocar os pés naquele Bunker, viraria a página e pronto. Ela conseguiu uma nova vida, uma nova história.
Por mais difícil que fosse, Sam seria paciente. Quem era ele para julgá-la por ter um péssimo relacionamento com o pai? Ele também havia sido chutado, eles tinham mais em comum do que pensavam.
Com o seu silêncio, ele entendeu que era melhor não insistir. Audrey sempre fora tão racional, tão emotiva; se não fosse sério, ela diria. Nesse caso, Sam precisava ver com os próprios olhos. Ainda assim, ignorando o que Allison havia dito, o silêncio de Audrey, ele tentava ver pelo lado positivo.
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THE HUNTERS | supernatural
DiversosQuando os Arcanjos descem dos Céus, a Terra se transforma em um Inferno. Aos dezessete anos, seu destino havia sido traçado. Ela entende de armas, de carros e de bebidas, mas, principalmente, de monstros. Allison foi abandonada por sua mãe e treina...