Capítulo 35

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   Beth tratou de ver algo através da espessa neblina que a rodeava. Encontrava-se inundada em uma espécie de encenação, com bordas difusas que sugeriam que o que havia era infinito.

   Uma figura solitária, iluminanda por trás, aproximou-se em meio aquela bruma esbranquiçada. Soube que era um macho, e fosse quem fosse, não sentiria temor algum. Deu-lhe a sensação de que o conhecia.

_ Pai? _ sussurrou não muito segura se referia ao dela ou ao próprio Deus.

   O homem estava imóvel a escassa distância, mas elevou a mão em sinal de saudação, como se tivesse ouvindo.

   Ela deu um passo adiante, mas de repente sentiu um sabor na boca totalmente desconhecido. Levou as pontas dos dedos aos lábios. Quando baixou a vista, tudo era de cor vermelha.

   A figura deixou cair a mão. Como se soubesse o que significava aquela mancha.

   Beth retornou de repente a seu corpo. Parecia como se a tivessem capturado. E tivesse aterrissado sobre cascalho. Doía-lhe tudo. Gritou. Quando abriu a boca, voltou a sentir aquele sabor. Engoliu saliva com dificuldade.

   E então, algo milagroso aconteceu. Sua pele se encheu de vida, como se fosse um globo inflando-se de ar. Seus sentidos despertaram. Cegamente, tratou de segurar-se em algo sólido, dando com a fonte do sabor.

   Wrath sentiu que Beth se sacudia como se a tivessem eletrocutado. E logo começou a beber de seu pescoço com uma avidez e uma ânsia inusitadas. Os braços dela se apertaram ao redor de seus ombros, as unhas se gravaram em sua carne.

   Lançou um rugido de triunfo enquanto a depositava sobre a cama, deitada para que o sangue fluísse melhor. Manteve a cabeça para um lado, deixando ao descoberto o pescoço para ela, que subiu até seu peito cobrindo-o com o cabelo. O umido som de sua sucção e saber que estava lhe tanto vida provocaram uma monstruosa ereção.

   Sustentou-a suavemente, lhe acariciando os braços. Animando-a beber mais dele. A tomar tudo o que necessitasse.

   Um pouco mais tarde, Beth elevou a cabeça, lambeu os lábios e abriu os olhos.

   Wrath estava a olhando fixamente. Tinha uma ferida enorme no pescoço.

_ Oh, Deus... o que fiz a você? _ Estendeu as mãos para estancar o sangue que emanava de sua veia.

   Ele segurou as mãos e a levou aos lábios.

_ Aceita-me como seu hellren?

_ O que? _ Sua mente tinha dificuldades para compreender.

_ Case-se comigo.

   Ela olhou o buraco em sua garganta e lhe embulhou o estômago.

_ Eu..., eu...

   A dor chegou rápido e forte. Investiu-a, levando-a a uma escura agonia. Dobrou-se, e rodou sobre o colchão.

   Wrath se calou e a embalou em seu colo.

_ Estou morrendo? _ gemeu.

_ Oh, não leelan. Claro que não. Isto passará _ sussurrou ele.

_ Mas não será divertido.

   Sentiu como a invadia uma onda nauseabunda, que provocou convulsões, até que ficou estendida de costas. Quase não podia distinguia o rosto de Wrath devido à dor, mas pôde ver em seus olhos uma grande preocupação. Agarrou-a pela mão e ela deu um forte apertão quando a seguinte explosão torturante a dominou.

   Sua visão se turvou, voltou e se turvou de novo.

   O suor gotejava por seu corpo, empapando o lençol. Apertou os dentes e se arqueou,  girou para um lado e logo ao outro, tratando de escapar.

   Não sabia quanto tinha durado. Horas, dias. Wrath permaneceu com ela o tempo todo.

   Wrath respirou aliviado pouco depois das três da madrugada. Finalmente, ficou quieta, e não estava morta, a não ser tranqüila.

   Tinha sido muito valente. Tinha suportado a dor sem queixar-se, sem chorar. Entretanto, ele tinha passado todo o tempo rogando que sua transição terminasse quanto antes.

Ela emitiu um som rouco.

_ O que é, minha leelan? _ Baixou a cabeça à altura de sua boca.

_ Necessito uma ducha.

_ Bem.

   Levantou-se da cama, abriu a ducha e voltou a procurá-la, levando-a suavemente em seus braços. Sentou-a no suporte de mármore, tirou-lhe a roupa com delicadeza, e logo a ergueu  de novo.

   A fez entrar lentamente na água, atentou a qualquer mudança em sua expressão ante a temperatura. Ao não protestar, foi introduzido seu corpo gradualmente, roçando primeiro seus pés para que aquela impressão não fosse muito brusca para ela.

   Parecia gostar da água, elevava o pescoço e abria a boca. Viu suas presas, e lhe pareceram formosas.

   Brancas, brilhantes, pontiagudas. Recordou a sensação quando ela tinha bebido dele.

   Wrath a apertou contra si durante um instante, abraçando-a. Logo deixou que seus pés tocassem o chão e sustentou seu corpo com um braço. Com a mão livre, pegou um pote de xampu e jogou um pouco sobre sua cabeça. Esfregou-lhe o cabelo até formar espuma e logo o enxoguou. Com um sabonete, deu uma suave massagem na sua pele o melhor pôde sem deixá-la cair e logo se certificou de limpar até o último resíduo de sabão.

   Embalando-a novamente entre os braços, fechou a torneira, saiu e pegou uma toalha. Envolvendo-a e a colocou outra vez sobre o suporte, sustentando-a entre a parede e o espelho. Cuidadosamente, secou-lhe a água do cabelo, o rosto, o pescoço, os braços. Logo os pés e as pernas.

   Sua pele ficaria hipersensivel durante algum tempo, igual à vista e o ouvido.

   Procurou sinais de que seu corpo estivesse mudando e não viu nenhum. Tinha a mesma estatura de antes. Seu tronco tampouco parecia ter sofrido transformação alguma. Perguntou-se se poderia sair durante o dia.

_ Obrigado _ sussurrou ela.

   Ele a beijou e a levou até a poltrona. Logo tirou da cama os lençóis umidos e a capa do colchão. Teve dificuldade para encontrar outro jogo de lençóis e colocá-los corretamente foi endemoniadamente árduo. Quando terminou, recolheu-a e acomodou entre o fresco cetim.

   Seu profundo suspiro foi o melhor comprimento que jamais tivesse recebido.

   Wrath se ajoelhou de um lado da cama, repentinamente consciente de que sua calça de couro e sua bota estavam empapados.

_ Sim _ sussurrou ela. Ele a beijou na fronte.

_ Sim o que, minha leelan?

_  Casarei com você.

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