Capítulo 54

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   José de la Cruz apertou a mão do investigador de incêndios premeditados.

_ Obrigado. Fico aguardando o seu relatório por escrito.

   O homem concordou, enquanto relanceava os restos carbonizados da Academia de Artes Marciais de Caldwell.

_ Nunca vi coisa igual. Parece até que explodiram aqui uma espécie de bomba no nuclear. Sinceramente, ainda não sei o que colocar em meu relatório. José acompanhou com o olhar o homem enquanto se dirigia ao furgão e partia.

_ Voltará para a delegacia de polícia? _ perguntou Ricky, entrando na viatura de polícia.

_ De imediato não. Preciso ir ao outro lado da cidade.

Ricky acenou para ele e arrancou.

   Quando ficou só, José respirou fundo. O cheiro do incêndio continuava penetrante, mesmo quadro dias depois.

   Ao se dirigir para o carro, baixou a vista e olhou os sapatos. Pareciam que tinham mudado de cor devido à grande quantidade de cinzas que cobria o lugar. Mas pareciam cinzas vulcânicas do que qualquer outro resíduo que costuma resultar de um incêndio normal. E as ruínas também eram estranhas. Geralmente, boa parte da estrutura fica de pé, não importa a intensidade das chamas. Mas ali não restara coisa alguma. O edifício havia sido arrasado por completo.

   Assim como o investidor, também era a primeira vez que ele via um incêndio daquele tipo.

   José se colocou ao volante, introduziu a chave na ignição e pôs o carro em movimento. Dirigiu cerca de 12 quilômetros para o leste, até uma das zonas mais desoladas da cidade. Um conjunto residencial bastante ordinário surgiu no horizonte, com seus prédios que lembravam ervas-daninhas urbanas, nascidas de um solo de concreto e asfalto.

   Parou em frente de um deles e estacionou. Desligou o motor. Demorou ainda um bom tempo para se forçar a sair.

   Enchendo-se de coragem, dirigiu-se à entrada principal. Um casal que saía segurou a porta aberta para ele. Depois de subir três andares, percorreu um corredor de paredes descascadas e carpete gasto e marrom pelos milhares de passos que suportara.

   A porta que procurava fora repintada tantas vezes que os detalhes começavam a se perder nas camadas grossas de tinta. Bateu, mas não esperava que respondessem.

   Demorou só um instante para forçar a fechadura. Escancarou a porta.

   Fechando os olhos, respirou fundo. Um corpo que tivesse ali a quadro ou cinco dias já estava cheirando mal, mesmo com ar condicionado ligado. Mas não sentiu cheiro algum.

_ Butch? _ chamou em voz alta.

   Fechou a porta atrás de si. O sofá estava coberto com os suplementos esportivos do correio de Caldwell e do New York Post da semana anterior. Havia latas de cervejas vazias sobre a mesa. Na cozinha, havia pratos na pia. E mais latas vazias sobre a bancada.

   Dirigiu-se ao quarto. Tudo que encontrou foi a cama com os lençóis em desordem e um monte de roupas pelo chão.

   Deteve-se junto à porta do banheiro.  Estava fechada. Seu coração começou a bater forte.

   As empurrá-la, demeu encontrando um cadáver enforcado no chuveiro. Mas não havia nada.

   O detetive da divisão de homicídios Butch O'Neal havia desaparecido. Sem deixar rastros.

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