Lucy

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Lucy

O Stalker observou a casa impotente que revidava seu olhar com certidão, luzes apagadas indicavam que seu interior dormia sossegado e na calada da noite a vizinhança calma só podia ouvir as batidas brutais e descompassadas de seu coração.

Se te dissesse, o Stalker se descreveria como racional, planejava cada detalhe de seus passos, desde o ângulo que que giraria o calcanhar, até a distância de um pé para o outro e a inclinação do joelho ao dobrar a perna, mas a verdade é que ao ver Christopher Jauregui abrir abruptamente aquela porta, decidiu que naquele momento gostaria de pular e agarrá-lo pelo pescoço, assim como o faria com qualquer um que o impedisse de vê-la...

No final das contas, matar o irmão não seria uma boa opção e de que adiantaria?

Ao invés disso, ainda com as batidas palpitantes, atravessou a rua ao ver o carro vermelho desaparecer. Era uma péssima escolha deixá-la sozinha... se Chris soubesse.

Entrou com a própria chave, sabendo que o alarme estaria desativado para a volta do irmão. Respirou fundo inalando a explosão de odores, sentia falta daquilo, era apreciável, podia até sentir o gosto que se acomodava em sua língua. Ela.

Ela.

Ela.

Na sua mente gritava, gritava por ela, a irresistível tentação, suas palmas transpiravam, o anseio perturbador, precisava do seu toque mais do que tudo, necessitava senti-la como jamais o fez. Era arriscado estar ali e perder a chance de que em três meses ela estivesse sob seu domínio. Mas que audácia não cumprir sua tarefa e exercitar seus instintos...

Engoliu os sabores presos em sua boca e abriu os olhos para observar. Era possível subir ao segundo andar, encontrá-la em seu quarto, a possibilidade de estar dormindo era grande e acomodável, mas existia a ideia no fundo da mente de que ao subir aqueles degraus, encontraria os olhos verdes arregalados da forma mais absurda que poderia existir. Por isso, que da mesma forma como o fizera da primeira vez, procurou na cozinha o esconderijo de bebidas.

Sorriu ao capturá-los, a conhecia muito bem para saber que Lauren Jauregui sempre foi capaz de se sabotar e por isso, não perderia a chance de batizar uma por uma. Um remédio que ele costuma chamar de salvação, não passa de um sedativo com efeito consideravelmente curto dependendo da quantidade ingerida. Misturado com álcool poderia ser grave, por isso que na pia despejou toda a garrafa de vodca e substituiu o conteúdo por Arkay, misturando com sua salvação.

Sabia que Lauren voltaria a beber se a pressionasse o suficiente e quando o fizesse, poderia saciar sua fome.

Quando satisfeito, guardou seus apetrechos na mochila de material pesado e escuro, fechou o zíper até o final e jogou o peso sobre as costas. O tempo havia passado, poderia considerar subir a escada... vê-la nem que fosse por um segundo, mas o som do carro do lado de fora fez seus instintos de preservação prevalecerem.

E assim como entrou, se foi. Com a promessa de que voltaria muito em breve.

Lauren Jauregui's Point of View

Quando me deparo com mais de vinte ligações perdidas no meu celular, meu primeiro pensamento é que definitivamente alguém morreu e que devo estar pronta para um velório.

Mas com tudo que acontecia, não era fora do comum acordar com Verônica tentando me localizar desde as seis da manhã em um dia de sábado. Na verdade, era previsível e indicava que algo novo havia surgido, não necessariamente ruim, mas nada me parecia ser bom.

Atendi na vigésima nona ligação, provavelmente no sexto toque. Ela surtou de imediato.

- PARECE QUE NINGUÉM ME RESPONDE QUANDO EU PRECISO.

STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora