Agarre Pelo Pescoço

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Agarre Pelo Pescoço

O Stalker não tinha compaixão. Sentia sede, a secura irritante na garganta, não salivava, nada que pudesse aliviar a agonia. Depositou a farta quantia no balcão vendo os olhos do porteiro se iluminarem, um homem que vivia de pouco salário para sustentar seus dois filhos. Era um envelope gordo com por volta de vinte ou trinta notas de cinquenta. O suficiente para o funcionário de cabelo ralo se calar e deslizar a chave de acesso do elevador. Existiam câmeras de segurança para todo o lado, mas agora não importava, o tempo era generoso e gratificante, logo em dois meses nada disso teria relevância.

Pressionou o botão sentindo a ansiedade tomar conta de seu peito. Ao abrir a porta, um breve sorriso se formou no rosto do Stalker, do tipo involuntário que surge sem querer e se apaga um segundo depois. Uma senhora andando com calma saiu, deixando o espaço vago para que entrasse.

"Uma boa noite." Ela lhe serviu e o Stalker apenas a cumprimentou com um gesto. Se ela soubesse o que essa alma estava prestes a fazer, provavelmente não daria uma reverência de forma educada. A verdade é que ninguém via e era fácil, fácil enganar pela aparência, usou isso de benefício por tantas e tantas vezes. Afinal, quem desconfiaria?

Quando as portas se fecharam e o elevador subia, o Stalker se imaginou segurando as próprias chaves, sendo o mesmo a subir para o seu apartamento, o que conquistou com Lauren, anos de um forte relacionamento, anos de trabalho, qualquer que seja, seria imensamente satisfeito apenas por tê-la, não importava os meios, naquela noite levaria para casa uma sacola de compras e a encontraria. Faria um jantar, algo bem pensado, como uma carne de qualidade, um corte caro e elaborado e um macarrão de massa fresca, serviria com um bom vinho e pudim de nozes de sobremesa. Pensou até em uma entrada, pão de alho seria uma opção, faria a massa com as próprias mãos e provavelmente vestiria com queijo o recheio.

O pensamento o acalmou, a ideia de que isso podia ser real, um sonho concretizado, "finalmente" pensou, mas a sede ainda rasgava a garganta, cortava e se entupia de sangue. E ao invés de sacolas de compras, agarrava com força a mochila e a chave de acesso. E ao invés de um jantar romântico...

O sinal ecoou, revelando o andar desejado, com passos largos, atravessou o vão e caminhou pelo corredor onde luzes se acendiam por onde passava. Ouvia a voz presa entre os seus pensamentos.

"Agarre pelo pescoço."

Persistente assim como a sua sede.

"Agarre pelo pescoço."

Mais uma vez consistente. Dominava seu interior e aquele monstro insaciável se perturbava, batendo contra seu peito com a intensidade de um choque elétrico.

Inseriu a chave na fechadura ouvindo o som da trava, entrou como se o lugar fosse seu e tomou uma boa arfada de ar. O gosto era péssimo, não como o da casa de Lauren, definitivamente não tinha nada de semelhante. Era azedo, forte e dominava.

Tinha vindo apenas uma outra vez até esse ponto, só para que pudesse examinar e ter certeza do que seria feito, enganou a senhora e agora tinha o que era necessário, a chave muito bem feita e a memorização de todos os aspectos daquele local. Havia ensaiado seus passos dezenas de vezes no porão escuro ainda não construído. Samuel Pisano estava programado para uma viagem no exterior na manhã seguinte, ainda com o gesso pelos ossos quebrados, mas tinha pedido a casa dos pais em Montreal no Canadá e ficaria lá por um tempo, pelos menos até depois de melhorar, como havia dito aos entes de sua família. A verdade era que seus pais não se importavam se fosse viajar, talvez o Sr. Pisano até se incomodaria por estar levando seu dinheiro e a Sra. muito provavelmente se preocuparia, mas não o suficiente para intervir, havia ajeitado o apartamento e isso estava de bom tamanho para sua culpa.

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