A Versão do Assassino

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Neste capítulo dou crédito a uma pessoa muito talentosa. Pela ajuda que suas surpreendentes palavras serviram para complementar o que eu em anos jamais saberia expressar. Seu poema me surpreendeu de todas as formas, assim como todos os outros.

Espero que eu tenha feito jus à sua arte e mais uma vez, agradeço pelo seu tempo e dedicação. Espero continuar conhecendo sua escrita...

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A Versão do Assassino


Quando eu tinha sete anos, vi minha mãe beijar outro homem que não era meu pai. Foi no mesmo ano em que ela decidiu se mudar para um lugar melhor. No banco de trás eu pude ver, pela brecha entre os bancos da frente, o homem estacionou o carro azul na nossa lateral e eu segurava um urso de pelúcia no colo, daqueles pequenos que carregava um cheiro doce devido ao sabão que minha mãe usava para limpar as roupas.

Ele atravessou o caminho e eu o persegui com o olhar, seguindo delicadamente cada passo até chegar nela que fumava seu Marlboro na frente, fora do carro. Estiquei o rosto para ver melhor, desprendendo um braço do cinto da cadeirinha, foi quando aconteceu. Na hora pude jurar que tomei um susto, mas quando os olhos dela notaram o meu ao seu encontro, eu me reclinei de volta no banco, fingindo que nada aconteceu.

Pensei em meu pai, que nunca foi do tipo que falava por si mesmo, não quando a opinião do outro parecia mais importante do que os seus desejos pessoais, suas ideias e seus gostos. Mas eu nunca vou esquecer daquele momento, parecia errado, parecia que a partir daquilo, eu via a vida de uma maneira diferente e pude enxergar as pessoas como ninguém nunca enxergou de verdade. Como um herói de quadrinhos que desenvolve seus super-poderes ou é mordido por uma aranha modificada, eu criei uma ligeira impressão de que a vida era mais do que eu podia imaginar e que tudo e todos poderiam estar me enganando, porque a verdade era que por mais que suas palavras fossem legítimas, seus atos sempre seriam contraditórios.

Quando voltou, ela me pediu para nunca contar o que quer que havia visto e eu entendi, descobri que a verdadeira forma de se agir era usando as palavras certas e nunca tive coragem de contar a verdade para o meu pai. Quando ela sugeriu a mudança, eu fui a primeira a entrar a favor e por de certa forma ser a mais velha, minhas palavras soaram mais altas. Imaginei que talvez, se não morássemos mais ali, eu nunca mais veria minha mãe beijar outro homem que não fosse meu pai. Eu não sabia o motivo daquilo ser errado, mas minha visão ampliada achou melhor que minhas ações e meus anseios fossem diferentes do que minhas palavras.

A casa em que eu morava sorria para mim quando eu me aproximava. Seu coração pulsante me trazia alegria e eu sabia que todo domingo era acompanhado de um piquenique que meu pai fazia para todos no parque, inclusive para o meu grande amigo, Aiden. Poderia desejar algo diferente? Poderia eu dizer que aquilo não era meu sonho, quando era a única coisa que eu conhecia?

Mas me mudar significava perder tudo aquilo, perder a alegria de estar no quarto que eu conhecia, vendo pela janela as árvores e os passarinhos que plantavam seus ninhos e criavam seus filhotes. Também significava perder meus amigos, afinal, a distância sempre se tornava um obstáculo para qualquer relação e eu era muito pequena para saber exercitar algo de tão longe. O que eu não podia ver, não parecia fazer parte do meu mundo, então como eu saberia que era real, que continuava vivendo uma vida que eu não conhecia? Como eu saberia que ainda pertencia ao meu lugar, se meu lugar agora não é mais o mesmo? Nada nunca fez muito sentido e talvez seja por isso que ao decorrer dos anos eu tenha me perdido, apenas com a estranha sensação de que por dentro, algo em mim havia mudado para sempre.

Aiden foi meu primeiro melhor amigo, meu primeiro amor, mesmo que não no sentido da paixão e do desejo, talvez por isso as memórias de sua existência perpetuaram em minha mente, escondidas, mas disponíveis para o meu acesso voluntário. Não me recordo ao certo de quando nos conhecemos, mas ele morava na rua de trás da minha e talvez pensando bem, os pais dele fossem amigos dos meus e por isso nos encontramos... lembro claramente de meu pai tê-lo convidado para alguns dos nossos piqueniques no parque. O menino sempre levava a mesma bola azul, um trapo, que ficava chutando de um lado para o outro como se fosse sua única intenção nesse mundo, dizia querer ser um jogador de futebol quando crescesse, mas não um daqueles famosos que ganhavam muito dinheiro, queria ser um jogador bom apenas nas suas habilidades.

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