A Confissão - Primeira Parte

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A Confissão - Primeira Parte

Stalker's Point of View

Era uma manhã de verão, o sol pintava as paredes brancas do meu quarto com tons de amarelo e luzes brilhantes. Da minha janela uma brisa tímida ultrapassava, sorrindo para mim e voltando com ternura. Lembro-me de segurar toda noite em meu travesseiro para dormir confortável, mas naquele dia eu o havia deixado de lado, caído no chão ao lado da cama, esperando ser recolhido pela manhã, mas aquilo não aconteceria, não tão cedo.

Um som do lado de fora chamou minha atenção, não era comum o barulho de caminhões em uma rua tão calma e deserta como aquela, mas o relógio apontava os números oito, três e quatro enquanto algumas conversas caminhavam com o vento suave em direção aos meus ouvidos, era como se daquele momento o destino se aproveitasse para me apresentar à ela e eu caí em suas mãos como um bebê que se acolhe no colo da mãe.

Arrastei-me pelos joelhos até a ponta da cama que alcançava a abertura do quarto, apoiei os cotovelos na madeira cheia de sujeira que se arrastava junto com a janela e espiei o tumulto no outro lado da rua. Um homem de cabelo escuro carregava uma caixa grande e aparentemente pesada para fora do caminhão alugado enquanto uma mulher de cabelo castanho preso e roupa amassada segurava uma criança pequena no colo.

Tentei me manter escondida para que aqueles estranhos não notassem minha estranha curiosidade para com eles, mas por algum motivo eu deveria observá-los.

Ouvi o som dentro de casa, que indicava que minha avó estava acordada, provavelmente indo para a cozinha fazer seu café sem açúcar e com uma colherzinha de adoçante, em poucos momentos ela bateria na porta do meu quarto, depois de dar dois goles em sua xícara e reclamar do gosto de água suja e mandaria eu lavar as orelhas, mas eu aproveitaria todos os instantes que pudesse ali, contemplando a novidade que se instalava. Os Millers moravam há anos na casa da frente, um casal de velhos com cheiro de roupa guardada cujo os filhos haviam se mudado para a cidade grande, há muito tempo eles viviam sozinhos no sobrado com muito espaço vazio. Eu não sabia que eles tinham ido embora, mas por algum motivo essa informação abriu um sorriso pequeno no meu rosto, do tipo que você não percebe até desfazê-lo e foi o que eu fiz ao ver um pequeno menino, provavelmente de cinco ou seis anos correndo atrás de uma bola vermelha no gramado não aparado.

A imagem continuou por um tempo, o homem de braços fortes e barba bem feita carregando caixas para fora do U-Haul enquanto a mulher de franja esvoaçante cuidava da criança em seu colo. Vez ou outra trocavam palavras que soavam altas em meu ouvido.

"Esta caixa é para o quarto do Chris." "Na verdade, deixe tudo na sala, não fará diferença, os brinquedos dele sempre vão parar em todo canto."

E ela mudava de opinião em seguida, fazendo o marido perder tempo segurando caixas pesadas enquanto esperava por ordens.

O menino que brincava fazia barulho ao bater com a bola na porta da garagem.

"Christopher! Pare com isso!" E ele continuava, não lhe dando atenção. Soltei uma risada baixa pensando no quanto aquilo era bobo.

As batidas na minha porta indicavam que a hora havia chegado.

- Hora de escovar os dentes, pequena.

Eu poderia desobedecê-la e continuar ali observando a família que tanto me fascinava, mas não o fiz. Arrastando-me pelo colchão, desci da cama um tanto alta para o meu tamanho e corri até a porta.

Era final da tarde quando finalmente saí de casa. Depois da macarronada com almôndegas do almoço, vovó havia feito eu assistir seu programa favorito até acabar. Adormeci no sofá por algumas horas e quando acordei o sol estava quase indo embora, como se não soubesse que eu o havia desperdiçado.

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