A Confissão - Terceira Parte

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A Confissão - Terceira Parte

Stalker's Point of View

Cinco anos haviam se passado em um piscar de olhos. A vida era diferente agora, eu tinha uma melhor amiga. A chatice ordinária da nossa rua havia acabado, pelo menos para nós duas. Nós éramos inseparáveis e cada momento juntas era como provar a massa de um bolo antes de colocá-lo no forno.

Naquela manhã estávamos deitadas na minha cama, ela havia passado a noite em casa como quase sempre acontecia depois que seus pais se divorciaram e voltaram juntos alguns meses depois. O meu quarto agora era como uma galeria, as paredes eram revestidas de nossas fotos e dos meus desenhos, todos que eu fiz retratando cada detalhe da minha vida com ela, mesmo que ela não soubesse. A maioria era feita de paisagens como o mar, ondas altas, o sol e a areia, nós sempre conversávamos sobre ir morar em uma ilha, um lugar distante onde ninguém nos conhecia. Eu e ela nos entendíamos como ninguém entendeu outro alguém na vida.

Mas o que ela disse veio como uma facada no meu peito e pela primeira vez em todos esses anos eu me senti ameaçada. O calor que agora eu compreendia e sabia colocar um nome, havia retornado e era mais forte do que eu podia controlar.

Ela usava minhas pernas de travesseiro enquanto olhava o teto pintado com estrelas, havia passado semanas fazendo aquilo para que pudéssemos olhar para o céu, mesmo presas em nosso mundo secreto. E o céu poderia ser do jeito que quiséssemos sempre. Nem consigo reviver a quantidade de gotas de tinta que caíram em meus olhos, nenhum sofrimento é doloroso comparado ao prazer de tê-la ao meu lado.

— Tommy me convidou para o baile de inverno.

Da janela a mesma brisa calma que entrara em meu quarto uma vez, agora se aconchegava e eu brincava com as mechas do seu longo cabelo escuro e cacheado.

Tommy era da nossa turma de literatura, a professora Rosenberg era ótima, mas depois de passarmos uma aula inteira conversando no fundo da aula e não prestando atenção em uma vírgula do que ela dizia, até porque quando estávamos juntas o mundo se encolhia e nada mais valia a pena se perceber além daqueles olhos claros que me encaravam com tanto apreço. Sra. Rosemberg decidiu nos separar e ela foi colocada ao lado do garoto Tommy, um menino de nossa idade que já tinha alguns pelos finos que gostava de chamar se bigode. Ele era do tipo metido, jogava basquete, mas não era tão alto quanto os outros e tinha um cabelo longo demais que o tempo todo cutucava seus olhos. Eu não o suportava, ainda mais porque depois daquilo, ele passou a prestar muita atenção nela e é claro, ele era a barreira que nos separava.

E aconteceu o que eu temia, eu sabia que esse momento estava por vir, minha mente sempre esteve à frente do meu tempo, mas isso não significava que a dor seria menos intensa.

— O que você disse?

— Disse que ia pensar. — Ela deu de ombros como se não fosse nada. — Melhor do que ir sozinha, não acha?

— Pensei que você não quisesse ir ao baile. — Ela agora me encarou, sorrindo com a língua entre os dentes.

O sorriso... agora ela o fazia com mais frequência. Se ela soubesse o que isso causava em mim, não o desperdiçaria tanto assim.

— Não queria, mas talvez eu vá.

Não gostava de admitir, mas fiquei puta, não com ela, jamais sentiria raiva dela, odiei o fato da professora Rosenberg ser um pé na bunda e não suportar duas alunas conversando, odiei o fato de que a porra do Tommy Young decidiu convidar a única pessoa no mundo que não está disponível ao baile.

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