Sob as Estrelas

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Sob as Estrelas

Lauren Jauregui's Point of View.

Camila tinha gosto de adrenalina. Beijá-la, eu presumia, era o mesmo que se jogar da beirada de um prédio em chamas, ou até aquela sensação de quando se está caindo de uma montanha-russa, mas imagino de forma que nenhum equipamento de segurança funcione corretamente. Perigo, isso que indicava, mas eu não dava toda essa credibilidade a ela.

De certa forma, o medo de toda a situação percorre o estado em que estou e ao pensar nela, vejo tudo em seus olhos. A sensação de insegurança, mas de estar a salvo. Porque sei que aqui, nada aconteceria, ao mesmo tempo que não a conheço de verdade e estou permitindo que invada a minha vida tão agressivamente.

Assim como uma queda, eu me joguei nesse campo onde o gramado grava seu rosto e sua essência e sinto que é onde eu devo estar.

Olhava a fotografia paralisada, moldura quadrada, preta, simples. Uma garotinha de dentes tortos sorria com o cabelo preso dos dois lados da cabeça, enquanto um homem postado ao seu lado parecia prestes a pegá-la no colo já que sua imagem estava um tanto borrada.

- Meu pai. - Ouvi a voz surgir ao meu lado no corredor e passei meus olhos por ela. Seu cabelo pingava e apenas uma toalha cobria seu corpo, enrolada como se tivesse acabado de sair do banho. Limpei a garganta e voltei a encarar a foto.

Sua presença me deixava entorpecida, me impedia de pensar com clareza, ainda mais dessa forma natural em que ela consegue se expor, sem se importar, sem vergonha alguma, desprezando todo o caminho da decência. Naturalmente, mostrando quem realmente é.

Ouvi seus passos um pouco mais perto enquanto mantinha minha visão nos quadros da parede.

- Aquele outro sou eu e minha irmã. - Ela menciona o que está um tanto mais afastado, com a mesma moldura preta que é padrão para todos os quadros.

Encaro a imagem da mesma garotinha da foto anterior, sentada em um sofá laranja segurando um pequeno embrulho de cobertores no colo. Não posso deixar de sorrir e de ajeitar o quadro na parede ao perceber que está um tanto torto para a direita.

Percebo a forma como ela observa meu movimento e a curiosidade me faz encará-la mais uma vez. Bochechas rosadas e nariz vermelho, além da boca úmida e a franja grudada no rosto. Gotas de água caem pelos seus ombros, escorrendo em seus braços. Desvio a cabeça, olhar de mais seria me perder por completo.

Meus olhos vasculham a parede, mais algumas fotos de família e pinturas sem muito nexo, diferente do resto da casa, nada ali parecia se encaixar, apenas as molduras que seguiam o mesmo padrão repetido.

Devo ter ficado tempo demais dessa forma, já que percebi sua impaciência ao meu lado.

- Algum problema?

Limpei a garganta mais uma vez, me sentia nervosa. - Nenhum.

- Ótimo. - Pelo canto do olho consigo observar quando ela cruza os braços e passa por trás de mim em passos pesados pelo corredor. - Vou trocar de roupa e volto para jantarmos.

E foi no momento em que virei o rosto para acompanhar o caminho que fazia até seu quarto, sua toalha deslizou permitindo que caísse completamente pelo chão quando por fim, ela abriu a porta e sem pressa virou de lado para me encarar uma última vez antes de entrar.

[...]

Eu poderia me acostumar com o tratamento especial. Poderia ser sua hospitalidade ou uma tentativa forte de me agradar, mas agora, decentemente vestida, Camila preparava o jantar.

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