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A Confissão - Sétima Parte
Stalker's Point of View
Eu tenho uma confissão a fazer. Nunca imaginei que seria desse jeito, nunca imaginei que para te ter ao meu lado, sacrificaria sua lembrança dos nossos momentos juntas.
Eu já havia batizado aquela garrafa de vodca muito tempo antes daquela noite, muito tempo antes dela ter decidido o que fazer, mas eu jamais perderia uma chance, uma simples brecha, um momento de desatenção... era tudo o que eu precisava.
Mas para explicar o meu plano, ainda devo voltar no passado, depois da noite do baile, quando eu descobri que poderia prová-la se a quantidade certa de álcool estivesse na receita.
Foi a primeira vez que o monstro dentro de mim se tornou satisfeito, o gosto tão doce daquele pequeno pedaço que ela havia me oferecido, eu não esperava, mas serviu para abrir espaço para ele se tornar maior e com o passar dos anos, essa criatura não sentiria perdão e viveria em constante fome, até que eu percebesse que não havia nada de horrível dentro de mim, nenhum bicho insaciável, apenas eu mesma e o meu simples desejo.
Com o decorrer dos meses não falamos mais sobre aquilo, na verdade, posso até dizer que ela o esqueceu, ou que talvez não significasse para ela o mesmo que significava para mim. Mas quando completei meus dezesseis anos, o carro do meu avô se tornou meu presente de aniversário e naquele dia repetimos a dose.
A cena se repetiu, a mesma conversa sobre ir para longe, sobre nos mudarmos juntas para um lugar distante, só que dessa vez parecia mais real porque logo poderia ser.
Ela cada vez mais bebia escondida, seja o vinho da mãe que sempre deixava meia garrafa no balcão da cozinha, ou as cervejas do pai. Na época eu não sabia que era um problema, mas logo passaria a ser.
Naquela noite estávamos no meu carro, no limite da cidade, ela bebia de uma garrafa com um líquido da cor de caramelo e que tinha cheiro de gasolina. O gosto era horrível, amargo e insuportável, mas eu me servi de alguns goles somente para acompanhá-la.
- O que estamos fazendo aqui? - Perguntei quando passou meia hora.
- Contemplando. - Respondeu mostrando que a garrafa estava quase acabando.
- A placa da cidade?
- A liberdade, Mani, a liberdade.
- Qual liberdade?
- Podemos sair daqui hoje, fugir. Podemos morar bem longe, o dinheiro não importa.
- Para onde você quer ir?
- Qualquer lugar.
Ainda era um sonho, apenas uma conversa, não era real, mas mesmo assim selamos nossa promessa.
A diferença foi que dessa ela tocava na esmeralda do colar que eu havia lhe dado, havia se tornado comum para ela fazer isso, quando estava nervosa ou alegre. Ela nunca a tirava do pescoço e era bom saber que ela teria uma lembrança de mim consigo sempre.
Quando ela se afastou eu absorvi o sabor na minha boca, deixando me satisfazer. Sabia que era errado provar antes da hora certa, mas precisava daquilo para me manter viva, manter a força que eu deveria ter para protegê-la.
Não haviam mais ameaças porque ela estava comigo. Tommy era a lição e o destino sabia o que eu faria por ela. Tudo e qualquer coisa. Eu seria capaz de destruir o mundo se fosse seu pedido, o faria com apenas um sopro. E no final, só seria eu e ela e a nossa ilha. Um lugar nosso.
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STALKER
FanfictionVocê já teve a sensação de ser seguida? E se na verdade isso não for só uma sensação? E se tiver realmente alguém te perseguindo? O tempo todo, vendo as suas ações, comandando a sua vida. Você sentiria... medo? E se você não for a única peça nesse...