Memórias

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Memórias

Lauren Jauregui's point of view

Era manhã quando o carro preto parou na frente do hospital. Eu segurava com força a alça da minha bolsa, na verdade, não era minha, era um tipo de sacola de pano com zíper e o logo do hospital estampado na frente em uma cor verde desbotada.

Quando a professora saiu, escancarando a porta do motorista, senti meu coração perder a batida e a mão que com firmeza agarrava aquele objeto como se minha vida dependesse disso, se soltou. Fechei os olhos ao sentir o doce odor leve e o forte abraço que me segurou pelas laterais do meu corpo. Seu cabelo era macio e pinicava na pele do meu rosto, minhas lágrimas escorriam pelas bochechas sem que eu percebesse o momento exato em que haviam brotado, mas lá estavam elas, junto com o aperto no meu peito.

Lauren... - o sussurro era quase inaudível.

"No telefone do hospital, dois dias depois de ter sido internada, eu digito o único número que sei de cór. Normani Kordei, minha melhor amiga. Eu não falava com ela fazia meses, desde que... bom, tanto faz, ela provavelmente desligará assim que ouvir a minha voz, o que sei é que ela é minha única alternativa, senão terei que voltar para a casa dos meus pais e isso seria pior do que ter a casa destruída em um incêndio.

Não, não há nada pior do que isso, digamos que eu não mantenho boas relações com a minha família, mas esse não é um assunto para se pensar enquanto eu estou no telefone esperando que por alguma inspiração divina, Normani atenda.

A ligação se encerra e ela não aceitou, tento mais uma vez e me apoio na parede gelada de concreto, pressiono o telefone contra o meu rosto e peço em um sussurro abafado "atenda", o metal do objeto é frio e o som dos toques na linha são ensurdecedores.

No quarto toque ouço a voz rouca e sonolenta que eu mal lembrava de como era, mas que assim que ouvi, recolheu todos os anos afastados e os fez desaparecer. O sorriso é instantâneo no meu rosto, um sorriso de alívio, sinto um sopro no meu peito, esvaziando a tortura que era a espera, agora eu só teria que lidar com a possível rejeição.

- Alô? - Sua voz é abafada, mas posso ouvi-la com clareza.

- Normani! - Minha ansiedade grita em meu peito.

- Quem é?

- Lauren. - Digo em voz baixa com medo da próxima reação dela, com medo de que ela desligue, o silêncio é instalado no mesmo instante.

Eu simplesmente desapareci de sua vida por meses, sem dar satisfação, sem nem ao menos tentar, ignorei todas suas mensagens e ligações assim como de todas as outras amigas minhas. Enrolo o cabo do telefone nos meus dedos pensando que talvez tenha sido uma péssima ideia, mas era minha única opção. Meses sem dar notícias e agora eu ligo sem aviso pronta para pedir um favor, sem escapatória, ela com certeza vai me odiar.

Após alguns segundos ela responde, sei que se ela pudesse me dar um tapa por telefone, daria.

- Não desligue, por favor. - Imploro.

- Dê um bom motivo. - Não consigo pensar em um melhor quando as palavras saem sem que eu ao menos pense nelas.

- A minha casa explodiu."

- Eu jamais te abandonaria, Lauren. Nunca mais pense uma coisa dessas. - Ela diz tentando me acalmar, ao mesmo tempo que seus olhos estão presos no caminho do asfalto. Uma das suas mãos está no volante e a outra segura meus dedos gelados e trêmulos. - Você sempre foi e sempre será minha família.

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