1. Depois do Debate

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O último debate antes da eleição presidencial de dois mil e vinte e dois havia sido encerrado há poucos minutos, e todos os candidatos foram para seus respectivos camarins; exceto Soraya Thronicke. A loira seguiu em direção ao camarim de sua ex-professora e atual concorrente, Simone Tebet. A mulher de fios escuros havia deixado uma caneta em cima da mesa que estava entre elas durante o debate, e a mais jovem se lembrava da aula em que sua antiga professora contou sobre como tinha carinho por aquele objeto que ela ganhou de seu pai após se formar em Direito; era como um amuleto da sorte que ela gostava de ter por perto, principalmente em momentos cruciais.

Soraya já tinha notado que Simone havia esquecido de guardar a caneta enquanto elas ainda estavam no palco, mas por alguma razão desconhecida, preferiu carregar o objeto consigo e entregá-lo a sua dona depois. "Seria uma desculpa para falar com a minha colega senadora mais uma vez? Claro que não, Soraya. Deixe de ser boba, você apenas não queria atrapalhar a conversa da Simone com o Ciro Gomes!", seus devaneios a confundiam enquanto ela caminhava pelo corredor, e sua respiração estava controladamente devagar, numa tentativa falha de acalmar seus nervos.

A senadora chegou até a porta do camarim, lugar em que esperava encontrar Simone, e somente ela. Soraya respirou fundo, tentando disfarçar para si mesma o nervosismo que ainda estava sentindo. O coração acelerado e as mãos levemente trêmulas eram apenas reações causadas pelo debate, com certeza. Ela não gostou nada das acusações e provocações de Bolsonaro, é claro que foi isso que causou essas reações em seu corpo. "Por que é que ainda não bati na bendita porta? O que é isso? Você é uma onça, Soraya, não um veado assustado.", foi a última coisa que falou para si mesma, em pensamento, antes de se irritar e dar três toques, com o punho fechado, na porta à sua frente, que logo se abriu, revelando uma Simone com um semblante nada relaxado.

— Soraya, a que devo a honra? — Simone Tebet a recepcionou de forma extremamente gentil, apesar do semblante tenso.

A loira encarou a mulher, e não conseguiu evitar que um sorrisinho aparecesse em seus lábios. Falando em lábios, foi para essa direção que ela olha durante alguns segundos, até se dar conta do que estava fazendo, e desviar o olhar para os olhos da mulher mais velha, notando de forma mais evidente sua expressão de preocupação.

— Estou incomodando? Me desculpe, Simone. Eu só vim te entregar isso. — Soraya mostrou o objeto que segurava em sua mão, e Simone logo respondeu ao gesto com um sorriso casto.

— Ah, muito obrigada! Imagina, não está incomodando, de forma alguma. — Simone respondeu de forma sincera, e logo perguntou: — Como sabia que essa caneta é minha? Não quer entrar? — Afobada, ela emendou as duas perguntas, e abriu espaço para que Soraya entrasse no camarim.

— Eu me lembro de quando nos contou a história que há por trás dessa caneta... — A fala de Soraya continha pura nostalgia, enquanto observava Simone, que já havia virado as costas, parecendo estar procurando por algo em sua bolsa. — Aliás, sinto falta de suas aulas... Tá tudo bem?

Simone se voltou para a colega, e passou as mãos nos cabelos, levando para trás os fios negros que estavam espalhados em seu rosto.

— Me desculpe, estou louca atrás do meu celular, tenho certeza que entrei aqui com ele depois do debate. Meu Deus! — Suspirou, cansada. — Foi questão de cinco minutos, e ele sumiu. — Simone reclamou, dando uma risada nervosa.

— Calma, eu posso ligar pra ele. Se estava em suas mãos há pouquíssimo tempo, e se ninguém entrou aqui... — Recebeu um menear de cabeça vindo de Tebet, pois ninguém havia estado ali, nesse meio tempo, além das duas. — Bem, então se ninguém além de mim entrou, é só me passar seu número.

Soraya entregou seu próprio celular a Simone para que ela digitasse os números, e em questão de segundos, o famoso toque do iPhone ressoava no ambiente.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora