Solícita, como era de seu costume ser, Simone abraçava o corpo de Janja, que chorava copiosamente em seu ombro. No momento em que ia buscar tentar conversar, para entender o que estava acontecendo, as duas deram um pulo ao ouvir um grito extremamente alto, vindo de algum lugar que ambas não sabiam identificar. Considerando que seria pior ficar ali parada, Simone correu para a entrada do hotel, puxando a outra mulher consigo, que se recusava a ir, ainda mais depois que um coro de vozes gritava que Lula estava caído e desacordado.
— Tente ficar calma! — Tebet pediu, e no momento já não sabia se falava com Janja ou consigo mesma.
A esposa de Lula não estava mais prestando atenção em nada, às pressas soltou seu pulso do aperto da aliada, e correu para o meio da baderna. Simone se sentia cada vez mais perdida em meio ao caos, e no fundo, se perguntava onde é que havia decidido se meter. Assim que notou a movimentação dos seguranças para esvaziar o local, ela se preocupou em juntar a bolsa que Janja havia derrubado ao correr em direção ao marido.
Quando já estava na área externa, a morena tirou uma cartela de calmante de dentro da própria bolsa. Destacou dois comprimidos, e os engoliu sem água. Ela se perguntava como uma tragédia tinha a capacidade de ser espalhada tão rápido? Quanto mais os minutos passavam, mais pessoas apareciam no local. Inúmeras ambulâncias surgiam, seguidas por viaturas, e apesar de estar mais do que acostumada com um fervo, Simone se sentiu enjoada com toda a bagunça e todo o barulho. O calor também estava ficando insuportável. Ela se assustou quando sentiu o bolso de seu casaco vibrar, mas seu coração logo se tranquilizou ao ver que quem ligava era Soraya.
— Simone, pelo amor de Deus! Você está bem? — Soraya não se lembrava da última vez em que havia se sentido tão desesperada e impotente. Apenas queria sua mulher sã e salva ao seu lado. — Carlos César acabou de me avisar que o Lula sofreu algum atentado, algo assim. Onde você está? Está com eles?
— Eu não sei, não sei o que aconteceu. Estou aqui na parte de fora do hotel, estão fechando tudo. — Simone explicou calmamente, tentando não demonstrar o medo em sua voz, para não deixar a loira ainda mais nervosa.
Simone observava toda a correria, se sentindo alheia a tudo, e se incomodando com as gotículas de suor que se formavam em sua derme, a cada pessoa desesperada que passava em sua frente, a cada flash direcionado a si ou à sua volta. Ela não conseguia deixar de pensar no fato de que Janja sabia que algo de errado estava para acontecer. E mesmo querendo compartilhar sua desconfia com Soraya, ela achou melhor manter a boca fechada por enquanto. Talvez não fosse seguro falar sobre o assunto por telefone.
— Tem muita gente aí? Você estava no local, então terá que prestar depoimento... — A loira concluiu, afobada. — Simone, por favor, se cuida, e me liga assim que possível, por favor. Que droga, eu só queria que você estivesse aqui. — Ela reclamou, tentando segurar as lágrimas.
— Meu amor, tem três seguranças cuidando apenas da minha segurança nesse momento, não se preocupe. — Simone informou. Ela só queria que sua mulher ficasse calma, mas antes que pudesse continuar a tentar tranquilizá-la, foi possível ouvir uma interferência no telefone, indicando que havia outra ligação chamando. — Preciso desligar agora, tem mais gente me ligando, pode ser uma das minhas filhas.
— Você promete que vai se cuidar? — Soraya insistiu.
— Prometo, querida. — A morena confirmou, sincera. — Eu te amo. Um beijo. — Sem vontade alguma, desligou a ligação.
Simone sentiu seu coração apertar quando a culpa lhe veio ao peito. Ela devia estar ao lado de Soraya. Talvez devesse mesmo sossegar e parar de participar das passeatas a favor de um político que ela nunca nem havia cogitado apoiar antes. Sabia bem que seu discurso "em nome da democracia" não passava de uma jogada, já que, assim como todos, ela queria vencer, mas talvez ainda não fosse a hora. Ela saiu do breve devaneio quando seus olhos se voltaram novamente ao visor do celular. Notou que havia mais de duas pessoas ligando: sua filha mais nova e um número desconhecido. Passou alguns segundos se perguntando em quem atenderia primeiro, mas seu mau pressentimento lhe fez optar pela opção que pelo menos poderia ajudá-la a esclarecer alguma coisa.
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Musas de Direita - Simone e Soraya
Romance+18. Simone e Soraya, as apaixonantes e apaixonadas musas da direita brasileira, se envolvem numa paixão e num mistério. Pode ser que tudo acabe em família. Tudo fanfic, nada de compromisso com a realidade.