6. Dedos Cruzados e Promessa

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— O quê? Eu preciso que me explique melhor. — Soraya manteve o semblante sério, enquanto encarava a outra mulher. A loira se afligiu ao descobrir que alguém poderia desconfiar de que existia algo entre as duas, mas dessa vez tenta conter seu nervosismo. Ela precisava que Simone contasse o que aconteceu.

Flashback

O sol estava se pondo, e Simone Tebet observava com atenção as gotas de chuva que escorriam pelo vidro do carro, enquanto seu marido, Eduardo Rocha, dirigia o automóvel que os levava em direção à casa em que moravam.

Durante todo o trajeto, a mulher ouviu algumas palavras soltas de seu marido, que tagarelava sem parar. Ela fingia dar atenção a ele, murmurando algum "uhum" vez ou outra, mas a verdade era que sua mente se encontrava bem longe dali.

— Simone, o que há de errado com você? — Eduardo questionou, com um certo tom de irritação na voz, assim que desligou o motor do o carro, já dentro da garagem.

— O que tem de errado comigo? — A mulher devolveu a pergunta, ainda sem dar grande atenção ao homem, enquanto soltava o cinto de segurança. — Por que teria algo de errado comigo, Eduardo?

— Não se faça de boba, Simone. — Ele tirou os óculos de grau para coçar os olhos, antes de colocá-los de volta em seu rosto. — Você não está se parecendo com a mulher com quem eu me casei, e esse seu comportamento estranho não é de hoje. Vamos, me diga o que está acontecendo.

Dessa vez Simone olhou atônita para o marido, sem saber o que dizer.

— Acho melhor você se acalmar primeiro. — Foram as únicas palavras que saíram de sua boca, enquanto ela olhava extremamente séria para o homem ao seu lado, antes de sair do automóvel e bater a porta.

É claro que Simone sabia que havia algo acontecendo, mas ela não conseguia sequer explicar para si mesma qual era o problema. Sua mente estava cansada. A CPI da Covid havia finalmente terminado, e ela só precisava de um pouco de descanso. A mulher estava muito irritadiça com todo o agito dentro do governo, e tudo o que faltava era ter o seu marido a importunando também.

***

A lua já tinha tomado conta de seu espaço no céu, e as memórias do que havia vivido durante o dia perambulavam pelo cérebro de Simone, enquanto ela enxugava os cabelos escuros com a toalha de algodão, logo após sair de um banho quente.

Ela participou de uma entrevista remota junto de Soraya Thronicke, que além de ter sido sua aluna anos atrás, hoje é também sua colega na política. Elas foram chamadas por Pedro Bial, para que pudessem falar sobre assuntos relacionados à tão famosa, e exaustiva, CPI da Covid-19. Durante toda a conversa que tiveram, Tebet não conseguiu manter o foco no assunto. Ela se manteve tensa, quase inexpressiva durante boa parte do diálogo.

A mulher de madeixas loiras era a causa de seu desconforto, mas a própria não tinha culpa de nada; a culpa era da imaginação de Simone, que a levou a sonhar com sua ex-aluna. Sonhos que ela já teve inúmeras vezes lá no passado, quando as duas ainda eram aluna e professora. Tebet acreditava que esse delírio já havia terminado, mas foi só as duas voltarem a se esbarrar com frequência, que as porcarias dos sonhos voltaram também.

O que Simone poderia fazer? Pelo menos com o fim da CPI, a distância entre elas voltaria. Dessa forma, a filiada ao partido MDB poderia voltar a ter um sono tranquilo.

Após finalizar os fios negros com o secador, Simone seguiu até a sala de jantar. Seu marido e uma de suas filhas, Maria Fernanda, já se encontravam sentados à mesa. A mulher cumprimentou a jovem com um beijo no topo da cabeça, e se acomodou na cadeira de sempre, a da ponta.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora