54. Sob Duas Perspectivas

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Soraya

Meio-dia e trinta e dois. É esse o horário que vejo ao checar o relógio que abraça o pulso da minha esposa. Minha esposa. Minha. Seguro sua mão por um momento; ela é minha esposa. Simone Tebet é minha mulher, e eu espero que continue sendo, até o fim das nossas vidas.

Quando a Simone me disse que iríamos viajar, eu confesso que até pensei em implicar com ela, dizendo que não gostei do fato de ela planejar algo sem me dizer; então, me lembrei de que ela me ama. E estamos juntas em nosso jatinho. Isso é tudo o que importa.

Desde que o ex-namorado dela reapareceu, a voz da insegurança que sempre esteve sussurrando em meu ouvido, passou a gritar. E se em algum momento ela descobrir que nem gosta de mulheres? Assim como meu ex-marido... Se bem que, pelo que Carlos César já me contou, ele nunca gostou de mulher, e sempre soube disso.

O meu maior medo, não é ser deixada por ela. Meu maior medo é que Simone esteja comigo até o fim, mesmo sem querer estar. Minha felicidade é a felicidade dela. E ela é minha alegria.

— Soraya? — Escuto sua voz chamando meu nome. Deixo de olhar pelas pequenas janelas do avião, e olho em seus olhos que me encaram como se tentassem decifrar uma charada meio desconexa. — Você tá bem?

Eu sorrio, continuo a segurar sua mão, e sinto seu carinho em meus dedos.

— Estou com você — digo, tirando minha mão de cima da dela para acariciar a bochecha corada pelo licor que ela havia acabado de bebericar —, e estamos indo para uma ilha... A ilha do Ricky Martin. Eu não poderia estar melhor.

— Falando nisso, ele me encaminhou uma fotografia que o chefe de cozinha dele mandou. Espero que você esteja faminta, Soraya Thronicke.

— Ei — me aproximo, acariciando sua barriga por cima do vestido de estampa floral —, Soraya Tebet Thronicke. — Aproximo meu rosto apenas para segurar seus lábios em meus dentes e soltá-los. — Estou faminta — seguro seu rosto em minhas mãos —, mas a minha fome é de você.

As mãos de Simone não demoram para chegar em minha cintura, e ela me puxa para seu colo. Envolvo minhas pernas em seu corpo, e encosto minha testa na dela. Nos encaramos.

— Se lembra da última vez em que estivemos juntas num avião?

Ela diz baixinho, e meu sorriso desaparece quando mordo meu próprio lábio, sentindo suas mãos, que estão extremamente quentes, correndo por minhas costas desnudas pelo vestido de pouco tecido.

— É mais fácil que eu esqueça do meu próprio nome.

Encosto nossos narizes e fecho os olhos. É tão bom poder ser boba com ela, não precisar disfarçar o quanto eu a amo, o quão deslumbrada ela me deixa.

Sinto suas mãos descendo até chegar em meus glúteos. Seus dedos, nada discretos, se enfiam por baixo do tecido fino, e ela arrasta as unhas por minhas coxas, apertando cada parte dos músculos que eu tanto me esforço para manter em forma.

— Soraya? — Ela sussurra contra meus lábios, me encaixando ainda mais em volta de sua cintura. — Fica nua pra mim?

Eu me desvio de seu toque, e me coloco em pé. Seus olhos são capazes de causar arrepios por todo o meu corpo. Eu sou dela. Sempre fui dela. Talvez, se há vinte anos, quando ainda éramos aluna e professora, ela tivesse pedido, eu ficaria nua da mesma forma.

Eu corro os dedos pelas alças do meu vestido, os tirando por meus ombros, deixando que caiam até meus pés. Enquanto ela parece estar hipnotizada, seguindo o movimento do tecido com os olhos, eu aproveito um pouco dessa sensação. É bom se sentir assim. É bom se sentir desejada por quem você mais deseja.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora