50. Honestidade

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Simone, que estava no bar, localizado num canto mais discreto da sala, não precisou se mover para enxergar quem estava ali na porta, falando com Carlos César. No momento em que seu olhar caiu sobre o homem que fez parte de seu passado, ela foi levada de volta para o tempo em que tinha apenas dezessete anos.

— Agradeço pela gentileza, César, mas agora não é mesmo uma boa hora. — O vizinho coçou a cabeça, estava claramente sem paciência. — Mas podemos marcar uma partida de golfe qualquer dia desses... Se souber da minha filha, você me avisa, por gentileza?

Antes que César pudesse responder, Simone caminhou até eles e perguntou:

— Faz tempo que sua filha sumiu, Murilo?

Assim que a voz de Tebet ressoou pela sala, César não pôde deixar de notar a forma como ela foi encarada por seu vizinho.

— Simone — o homem de cabelos negros leva a mão ao queixo —, meu Deus.

Ela sorriu sem mostrar os dentes, e seguiu até ele para cumprimentá-lo com um aperto de mão.

— Não nos vemos há quanto tempo? — Simone envolveu os braços nos ombros do antigo conhecido num abraço breve. — Não responda, não vamos entregar a idade.

César cruzou os braços. Levantou uma sobrancelha para Isabela quando ela e Sylvia apareceram no cômodo. Murilo continuou desconcertado.

— É, pois é... — Murilo balbuciou. — Enfim, é... — Desconversou ao olhar para a tela do iPhone. — Peste que não atende o telefone... — Murmurou.

— Filha — Carlos César chamou —, você não viu a Elisa, né?

— Não, a última vez que a vi foi no mesmo dia em que a conheci, mas acho que a Madu tem saído com ela.

Todos os olhares se voltam à direção de onde a jovem está, menos o olhar de Simone, que continua sobre o homem que havia feito parte de seu passado. Ela estranha quando sua expressão se fecha e ele respira fundo.

Sylvia cumprimentou os três mais velhos da sala, e não foi tratada com muita gentileza por nenhum deles. Não havia muito tempo para conversa-fiada, e logo Soraya apareceu em suas roupas de corrida.

— Bom dia, senhores. Posso saber que reunião é essa?

A loira sorri, se aproximando de Simone apenas para segurar seu pulso e olhar a hora marcada em seu relógio. Tebet aproveita para selar os lábios num beijo rápido, e apresenta sua atual esposa para seu ex-namorado.

— Ah, então você é o Murilo? — Soraya perguntou num grande esforço para ser simpática, desgostosa com o fato de não poder negar o quão bonito o homem era.

— É um prazer conhecê-la... Bem, eu vou voltar a tentar encontrar minha filha, até logo. — Murilo parecia desesperado para sair dali.

— Ah, é a Elisa, não é? — Soraya perguntou só para ter certeza e recebeu a confirmação. — Acabei de vê-la, deve ter uns cinco minutos... Ela estava conversando com uma mulher em frente àquela casa amarela da esquina.

Nenhum deles imaginava que seria possível ver a expressão de Murilo se fechar ainda mais, mas foi o que aconteceu.

— Soraya, muito obrigado por me avisar. — Murilo a encara como alguém que havia acabado de colocar algo muito amargo na boca. — Sabe me dizer se a mulher é mais velha? Ou se deve ter a idade próxima a dela?

A loira franziu o cenho com a pergunta.

— Sei lá, deve ter a minha idade.

E foi aí que o homem se enfureceu. Ele agradeceu e se despediu depois de lançar um olhar gélido a uma das pessoas ali presentes; olhar esse que foi notado somente a quem foi direcionado, e virou as costas.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora