33. Duas Galinhas e Uma Gazela

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Silêncio. Os únicos sons possíveis de se ouvir, era o tintilar do gelo no copo de Carlos César, o som do salto de Simone batendo repetidamente contra o chão e Soraya batendo as unhas impacientemente na tela do celular, enquanto Isabela e Marcelo não emitiam som algum. Os cinco estavam reunidos na sala, em absoluto e total silêncio.

— O gato comeu a língua de vocês? — Soraya perguntou na tentativa de quebrar o gelo.

Assim que a pergunta foi feita, Soraya se arrependeu ao ouvir a resposta inconveniente do ex-marido, que falhava ao tentar segurar a risada:

— Só estou sabendo que a onça comeu a língua da Simone.

— Será que você pode me ajudar na cozinha? — Simone se levanta, e com a expressão extremamente séria, segura o homem pelo braço, o arrastando até o outro cômodo. — Carlos César! Você prometeu que ficaria sóbrio.

Assim que Simone arrancou o copo da mão do amigo e o aproximou do nariz, se arrependeu imediatamente e despejou o líquido ralo abaixo.

— Me desculpe, Tebetê. — A fala de César era arrastada, e ele se apoiou na bancada buscando por equilíbrio. — Ultimamente eu tenho perdido a linha, eu sei. Acho que de alguma forma eu acredito que tentar fugir dos problemas vai adiantar, mas não adianta. Meu Deus, como eu protegeria você e a Soraya assim? E a minha filha? Meu Deus! — Seus olhos se encheram de lágrimas e ele se exaltou consigo mesmo.

— Carlos César, pare de falar! Pare de falar e me escute. — Ela arrastou o amigo até a sacada, fechando os dois para fora. — Olhe bem pra mim. Eu sei que você tem um problema com bebida, a Soraya me contou. Bem, não precisava nem ter contato... Olha, eu não posso imaginar o quão difícil seja lidar com um vício, mas você precisa me ajudar a te ajudar. Por favor!

— Eu não sei o que fazer. — César se sentou na cadeira de estofado florido, e se lamentou, segurando a cabeça entre as mãos.

Simone olhou para cima, e encarando o céu sem muitas estrelas, ela se perguntava sobre o que poderia fazer, já que seu amigo não sabia. Ela não tinha ideia se a melhor forma seria agir com firmeza ou com compreensão, ou como juntar os dois.

— Eu sei o que você pode fazer. Volte a olhar pra mim, César. O que é mais importante pra você? Sua família ou o álcool? — Ela perguntou amorosa, recebendo o olhar perdido do amigo.

— A Isabela, a Soraya e você.

Tebet deu um sorriso discreto ao ouvir as palavras de César. Era engraçado como os dois se deram tão bem, quase como se fossem irmãos, e ela valorizava essa relação.

— Então, pare de beber. Nem que seja por enquanto, César. Imagina só se esse namorado da Isabela for mesmo um maluco! Nós vamos precisar da sua ajuda, e se você continuar assim, só vai ajudá-lo a nos matar mais rápido! — Simone foi enfática ao pontuar a importância da colaboração do amigo, torcendo para que isso desse um bom efeito.

— Me desculpa. — Ele aproveita o momento de embriaguez, para ser corajoso. — Jogue todas as bebidas fora, por favor? Você faz isso por mim? Porque eu não vou conseguir fazer.

— Claro que eu faço — Simone confirmou, apertando brevemente as mãos do amigo entre as suas —, mas me diga, amanhã quando for levar os dois até o aeroporto, você vai se controlar pra não passar em nenhum lugar atrás de bebida? Ou você acha melhor nem ir? Não, não, vamos ver como fica seu estado primeiro.

— Quero me despedir da Bebela. — Ele reclamou, melancólico entre as fungadas.

— Qualquer coisa, se despeça amanhã pela amanhã quando acordar, então. — Simone respirou fundo, tentando raciocinar. — Ok, vamos lá. Venha, não vou deixar você ficar na varanda sozinho. — Ela deu a mão para que o amigo se apoiasse em seu ombro, e os dois entraram de volta na cozinha. Assim que Simone levantou os olhos, ela levou um susto. Soraya estava sentada à mesa, apoiando o queixo em uma mão, com o olhar vago.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora