18. Esperando por Você

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O céu está nublado, tão cinza quanto as brisas que o vento carrega depois de um incêndio contido. Simone está segurando o braço de alguém que ela não sabe quem é, enquanto inúmeros rostos desconhecidos também estão por ali. A visão da mulher só é capaz de focar na loira, que está com o rosto sereno, dentro de um caixão.

Num susto, e com a respiração pesada, Simone levantou o dorso.

— Meu Deus. — A mulher pronuncia as palavras com dificuldade. — Foi um pesadelo, foi só um pesadelo.

Ela tentou se acalmar ao levantar da cama de hospital, e se dirigiu em direção à porta. Antes de abri-la, Simone reparou na claridade que entrava pela janela do quarto. Já era dia. Assim que ela colocou a mão no trinco, a porta foi aberta pelo lado de fora.

— Ô, Simone! Que bom que você acordou. — Carlos César parecia realmente aliviado. — Tenho ótimas notícias!

Simone levou uma mão ao peito enquanto a outra parou em sua cintura, tentando manter um equilíbrio.

— Pelo amor de Deus, Carlos César! Me fale! Soraya está bem?

O homem esboçou um sorriso e alegremente respondeu:

— Ela está estável!

Tebet se sentou na poltrona, juntou as mãos e agradeceu aos Céus.

— Acabamos de receber a notícia e eu vim correndo para te contar. — Ele fez um carinho no ombro da mulher. — Ainda bem que não precisei te acordar.

— Carlos César, muito obrigada por ter se preocupado em me informar. — Simone agradeceu, verdadeiramente grata. — E muito obrigada pelo apoio que me deu, eu estava muito nervosa... Desculpe pelo incômodo.

Ele sorriu gentilmente, se sentou no sofá ao lado e suspirou em alívio.

— Imagina, Tebet. O amor nos faz perder a cabeça, ainda mais quando corremos o risco de perder quem amamos.

— Bom, acredito que você tenha entendido que... — Simone se deu conta da revelação que havia feito, mais cedo, ao marido de sua amante.

— Foi com você que Soraya dormiu no hotel, não foi?

A mulher se espantou, levando a mão à boca.

— Como é que você sabe disso? — Perguntou, apreensiva.

Ele deu uma risadinha de leve, não queria que Simone ficasse tensa novamente.

— Ela me contou que viveu algumas experiências lá naquele quarto, quando eu contei sobre o fato de eu ser gay, e... Bom, você já deve saber de tudo. — A vergonha ficou estampada no semblante de César quando ele continuou: — Se eu pudesse voltar no tempo, escolheria não agir como um canalha... Se eu tivesse sido honesto com ela antes... Que droga.

— Nós dois devemos muitas desculpas à ela. — Tebet refletiu.

— Você realmente a ama? — César perguntou, sem rodeios.

Dessa vez, Simone não hesitou em dizer nada além da verdade, e declarou sincera:

— Eu amo sua esposa, Carlos César. Eu a amo loucamente, completamente.

A constatação arrancou um sorriso verdadeiro do homem.

— Eu já sabia disso, deu pra notar assim que você chegou. Eu só queria ter certeza de que você teria coragem de assumir esse fato novamente, agora que está mais calma.

Simone não podia negar que se espantou com a esperteza de César, mas que também se sentiu aliviada por parecer tê-lo como aliado.

— Você tem ideia de quando ela poderá receber visitas? — A morena perguntou.

— Não foi uma cirurgia muito invasiva... Não sei explicar exatamente o que aconteceu, mas foi só um susto. Ela também teve algumas lesões, mas não quebrou nada. — Ele faz uma pausa antes de continuar. — Eu acho que seria melhor você ir para sua casa, tomar um banho e tentar descansar um pouco. Ah, e hoje é o dia da eleição!

Tebet havia esquecido completamente das eleições.

— Eu não quero ir pra casa, não quero ir pra lugar nenhum antes de vê-la.

— Simone, por favor, faça isso. Assim que ela estiver recebendo visitas, eu ligo pra você. Me passe seu número e eu prometo que assim que minha filha e minha sogra saírem do quarto, você será a próxima a entrar.

A mulher havia ficado relutante, mas acabou concordando com César. Não adiantaria nada ficar ali sem poder estar ao lado de Soraya, mas ela prometeu que antes de o céu escurecer, ela estaria de volta.

Antes de ir para casa, Simone para em frente à igreja que ela costumava frequentar. A mulher entra para agradecer pela saúde de Soraya, e para pedir que Nossa Senhora esteja ao lado das duas. Se o romance entre ela e Thronicke vazasse, ela teria que lidar com uma série de consequências, mas agora a senadora não se importa mais com isso.

Assim como a loira estava segura por tê-la ao seu lado, ela também se sentia segura pelo mesmo motivo.

Ao quase perder Soraya para sempre, Simone percebe como isso seria um milhão de vezes mais devastador do que perder uma carreira. Com a loira ao seu lado ela poderia superar qualquer coisa; com a carreira brilhante intacta, mas sem Thronicke por perto, ela não teria forças para nada.

Com insistência de Mara, depois de ter ido para casa tomar um banho, a mulher vai para a urna depositar seu voto. As pessoas tentam conversar com ela, mas ela leva seu assessor para que o mesmo diga que ela está com problemas nas cordas vocais, e portanto, não pode usar a voz. Às vezes uma mentirinha pode ser contada, desde que não cause mal a ninguém.

O coração de Simone só se tranquilizou de fato, quando recebeu a ligação de Carlos César. Ele avisou que em cerca de meia hora, ela já poderia entrar no quarto. Tebet dispara em direção ao hospital, e em pouco menos de trinta minutos, ela chega ao destino.

Enquanto se preparava para entrar no quarto onde Soraya estava internada, ela tentava se preparar para manter a calma. A mulher não sabia se a loira estaria muito ferida, e a ideia de vê-la machucada apertava seu coração.

Assim que a porta do quarto foi aberta, seus olhos pairaram sobre o rosto da mulher desacordada. Simone respirou aliviada ao notar que ela tinha apenas alguns arranhões pelo rosto, e nos braços; as pernas deviam conter uns machucados também, mas isso ela não podia ver agora.

Tebet se aproximou de Soraya, e sua visão logo ficou embaçada por conta das lágrimas que transbordavam de seus olhos. Ela usou uma das mãos para secar o choro que escorria por seu rosto, enquanto a outra segurava a mão de Thronicke num aperto firme.

— Soraya, você consegue me ouvir? — A mulher pergunta baixinho, mesmo sabendo que não obteria uma resposta. — Me desculpe por ter agido como uma covarde, me perdoa. Eu não consigo mais imaginar a minha vida sem ter você ao meu lado, porque eu te amo. Eu te amo, te amo, te amo. Acorde logo para que eu possa dizer o quanto eu te amo olhando em seus olhos, por favor. Eu vou te amar por toda minha vida, e eu não vou cansar de provar isso pra você todos os dias.

As palavras fluíram calmamente por seus lábios. Simone ficou admirando a mulher, que conseguia ser bonita até numa situação dessas, e um sorriso contido e esperançoso tomou conta de seu semblante. Tebet não sabia descrever o quão aliviada se sentia por estar ao lado de Thronicke, tendo a certeza de que a mulher que ela amava estava segura.

Simone está distraída, usando a mão esquerda, que antes enxugava suas lágrimas, para acariciar as madeixas loiras. De repente, coração da professora de Direito quase sai pela boca, quando ela sente Soraya devolver um aperto fraco em sua mão direita.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora