— Soraya... Você sabe que não é uma coisa fácil... — A voz de Simone soou claramente triste. — Eu dediquei uma vida inteira pra estar onde estou agora.
A loira já havia entendido tudo, e ela não estava com o menor ânimo para tentar mudar a situação. Soraya conseguiria passar por cima de todas as más consequências, se soubesse que Tebet também faria o mesmo, mas se isso não era o que a mesma queria, ela jamais seria egoísta o bastante para insistir.
Soraya encostou as costas na parede gelada do quarto, e sua expressão não demonstrava muito, além de olhos decepcionados e conformados.
— Soraya, por favor, não me olhe assim. — Tebet se sentou na cama, deixando um suspiro cansado escapar por seus lábios. — É óbvio que não podemos deixar que os outros saibam do que acontece entre nós duas, nós poderíamos ser massacradas, poderíamos perder o espaço que tanto lutamos para conquistar.
— Eu não planejo deixar que saibam do nosso relacionamento, jamais seria minha intenção. — A loira fala, não conseguindo esconder a mágoa em seu olhar. — Mas, se descobrissem... Se descobrissem eu conseguiria aguentar o baque, porque eu teria você ao meu lado. Bom, teria... Mas, não terei, não é?
Simone deixou de encarar a mulher, e voltou o olhar para suas próprias mãos, que já estavam começando a suar de nervoso.
— Não estou dizendo isso...
— E não precisa dizer mais nada. — Soraya aperta o lençol contra o peito. — Eu entendo, Simone. Eu realmente entendo, e respeito sua decisão.
Thronicke foi em passos rápidos, até a porta. Ela só precisava sair dali, mas quando sua mão encostou no trinco, ela se lembrou de que Eduardo ainda poderia estar na casa. Dessa forma, a loira pediu para que Tebet fizesse a gentileza de buscar suas roupas.
— Você não precisa ir agora, Soraya. — A mais velha se aproximou da mais nova. — Você bebeu, não está apta pra dirigir agora.
A loira não respondeu, e abriu a porta do quarto. Se era para Simone ficar enrolando, ela preferia dar de cara com o marido da mulher, de qualquer forma. Thronicke só precisava ir embora.
Soraya caminhava pelo corredor, sem pensar em nada, além de pegar seus pertences. De repente, ela sentiu um aperto em seu braço, fazendo com que ela virasse seu corpo mesmo sem querer.
— Me solte. — Soraya exigiu, com a voz repleta da mágoa que sentia.
— Eu não vou te soltar. — Simone se mantinha calma, ou ao menos era o que tentava fazer. — O fato de não podermos estar juntas agora, não quer dizer que o que eu sinto por você tenha deixado de existir.
— E o que é que você sente por mim, Simone? — A loira perguntou de forma desafiadora, sentindo o nó se embolar ainda mais em sua garganta. Ela se esforçava para não derramar as lágrimas que tanto queriam sair. Soraya já era uma pessoa um tanto quanto... Expressiva. Alcoolizada, ela ficava ainda mais sentimental.
— Você sabe o que eu sinto. — Simone respondeu, tentando segurá-la pelos ombros.
Thronicke revirou os olhos, e elevando o tom de voz, despejou:
— Você acha que eu sou adivinha? Que eu sei de tudo? — Ela puxa seu braço, o soltando da mão firme e quente que o segurava. — Aliás, eu tenho um palpite... Talvez, você só quisesse transar comigo, será que não? Viver a fantasia de estar com uma mulher que foi sua aluna. Bom, agora que já teve o que queria, pode me deixar ir.
— Soraya, deixe de ser infantil.
— Você não sabe o quanto foi difícil para que eu aceitasse que estava gostando de você, Simone. — Thronicke não consegue mais segurar as lágrimas, que acabam escorrendo por suas bochechas. — Duas décadas apaixonada por você, duas décadas lutando contra esse sentimento. Eu nunca me senti assim antes, como me sinto agora, e meu Deus, como eu gostaria de ter sido mais forte e nunca ter te beijado, porque, aí então, eu não poderia perder algo que nunca tive. É claro que essa situação acabaria mal, é lógico.
Tebet ficou parada, durante alguns segundos, enquanto observava a outra mulher desaparecendo pelas escadas. Ela ficou um pouco assustada e sem saber o que fazer, sentindo as péssimas consequências de ter ingerido o álcool há alguns minutos. Nem em momentos de ressaca ela havia se sentido tão mal. Ela se sentia uma covarde por não ter coragem de colocar Soraya em frente a sua carrreira. O medo tomou conta de sua mente, porque o poder sempre foi importante para ela. Simone estava acostumada a ter poder, a ser calculista, e isso fez com que ela deixasse a mulher que ela tanto amava ir para longe dela.
A loira, já no andar debaixo, juntou seu vestido do chão e o colocou em seu corpo, esquecendo até mesmo de fechar o zíper. Ela dava graças a Deus por não ter encontrado com Eduardo, que pelo jeito já devia ter ido embora. Quando voltou ao corredor, em busca de seus sapatos, ela deu de cara com Simone bloqueando seu caminho.
— Você bebeu, e eu não vou te deixar sair assim.
— E desde quando você manda em mim? — Soraya se irritou com a audácia.
— Nós podemos sim ficar juntas. — Simone disse, passando os dedos entre os fios negros numa tentativa de ponderar a situação. — Só não podemos fazer isso por enquanto, Soraya. Eu não sei se meu marido estava blefando ou se fomos realmente ameaçadas.
— Eu não quero estar com alguém que se importa mais com uma carreira, do que comigo. — A loira disse num tom mais baixo, enquanto fechava o zíper de seu vestido. — Quando eu disse que estaria ao seu lado, mesmo que tentassem acabar conosco, e você ficou em silêncio... Na hora eu entendi. Já disse que entendo o seu lado, então, eu peço que me entenda também.
Soraya abaixou o corpo para segurar os saltos e os calçou com um pouco de dificuldade para manter o equilíbrio, enquanto Simone se sentava nas escadas, sentindo seu corpo pesar.
— Será que você pode ao menos ficar aqui essa noite? Eu não quero que você dirija assim.
Thronicke voltou seu olhar para a mulher, que nem sequer conseguia identificar a expressão em seu rosto.
— Se você tem alguma consideração por mim, não volte a me procurar.
Com isso, a loira abaixou o olhar, e girou a maçaneta para sair. Logo a única coisa que Simone, com o cérebro um tanto atormentado pelo álcool, passou a encarar, foi a porta que havia acabado de ser fechada.
Soraya sabia que os tecidos de seu corpo ainda estavam nutridos pelo vinho que tinha compartilhado com Simone, mas ela tinha a certeza de que poderia manter a visão focada na estrada, mesmo que seus olhos estivessem cheios de lágrimas, atrapalhando ainda mais seu desempenho no volante. Sem muitas dificuldades, ela saiu do condomínio, e seguiu o trajeto para sua casa.
Felizmente, as ruas estavam quase vazias, o que fez com que a loira relaxasse um pouco. Ela alongou o pescoço, e se incomodou profundamente com sua visão, que estava bastante turva, enquanto sua cabeça pesava em seus ombros. Durante uma curva, seu iPhone caiu do banco, e num reflexo, ela baixou o olhar para ver onde o aparelho teria ido parar.
Os olhos de Thronicke ainda estão focados no chão do automóvel, e ela é pega de surpresa quando uma luz extremamente forte chega por seu lado esquerdo, se aproximando cada vez mais de seu campo de visão. Em menos de vinte segundos, assim que a mulher vira a cabeça para olhar em direção a claridade, um carro em alta velocidade colide com o seu.
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Musas de Direita - Simone e Soraya
Romance+18. Simone e Soraya, as apaixonantes e apaixonadas musas da direita brasileira, se envolvem numa paixão e num mistério. Pode ser que tudo acabe em família. Tudo fanfic, nada de compromisso com a realidade.