11. Hora marcada para o crime

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Simone sentiu a respiração tranquila de Soraya em seu pescoço, quando ouviu o aviso de que o avião estaria pousando em cerca de vinte minutos. Ela não sentiu a menor vontade de acordar a loira, que parecia tão confortável aconchegada em seu peito, mas como era o necessário a se fazer, ela decidiu acordá-la da melhor maneira: enchendo seu rosto de beijos. A mais jovem se aninhou ainda mais em seu corpo quentinho, sem a menor pretensão de abrir os olhos.

— Hum... Eu ainda não estou pronta pra voltar à realidade. — Sussurrou mansinha.

O hálito quente que entrou em contato com a pele sensível do pescoço de Tebet, a fez rir baixinho, enquanto seus olhos passeavam pela vista privilegiada que se encontrava pelas pequenas janelas da aeronave. Ela, de fato, estava no céu.

— Não é engraçado como as coisas podem mudar, radicalmente, de uma hora para a outra? Eu nunca havia me sentido assim. — Simone comentou, aparentemente distraída.

Soraya amava quando sua antiga professora passava a divagar sobre algum assunto aleatório. Era sempre bom ouvir a sua voz falar sobre qualquer coisa que fosse, principalmente quando estava mais descontraída, trazendo à tona uma parte divertida de sua personalidade. O pensamento fez a loira esboçar um sorriso contido contra a pele macia.

— É engraçado mesmo... A vida pode ser muito cômica, às vezes. — Thronicke usou da mão canhota para acariciar a bochecha da mais velha. — E como é que você está se sentindo, posso saber? — Perguntou, realmente curiosa.

Tebet fechou os olhos ao sentir o toque em seu rosto, deixou-se levar pelo carinho singelo, enquanto um sorriso tranquilo estampava seus lábios.

— Estou me sentindo apaixonada. — Ela não fez a menor questão de rodear as palavras. — Nunca pensei que, aos cinquenta e dois anos de idade, eu estaria me sentindo como uma adolescente que se apaixona pela primeira vez.

Ao escutar a declaração, Soraya levantou seu rosto, e segurou o da outra mulher sem cessar o carinho em sua pele alva, para fitar os olhos cheios de ternura.

— Agora nós temos que recuperar esses vinte anos de atraso. — A loira disse com convicção, e depositou um beijo suave nos lábios da mulher. Recebeu um sorriso cheio de confirmação ao que havia sido proposto, e com relutância, as duas separaram os corpos. Se sentaram corretamente nas poltronas, aguardando o momento do pouso.

***

Em cerca de poucos minutos, já estavam em solo familiar. Apesar disso trazer um certo receio à ambas, também trazia conforto. O receio surgia por terem de voltar à "vida real", e o conforto, por estarem próximas de casa. Apesar da capital do Estado do Mato Grosso do Sul não ser a cidade natal de nenhuma delas, pelo menos já se encontravam mais perto de onde vieram.

O avião já se encontrava estacionado, as duas se levantaram, e ajeitaram as roupas, que estavam um pouco fora do lugar em ambos os corpos. Enquanto Soraya alisava sua própria saia, Simone não deixou de prestar atenção nos movimentos da mulher. Ela tentava imaginar qual seria a atitude que a loira tomaria dessa vez, mas, não tinha nem ideia do que esperar.

— Como você vai pra casa? — A mais velha perguntou, preparada para qualquer tipo de resposta, enquanto guardava o livro que estava lendo antes de Soraya aparecer.

— Meu carro ficou no estacionamento do aeroporto. — Com tranquilidade, a loira respondeu, ajeitando os fios dourados em frente ao espelho. — E você?

Nada de estranho na fala dela, Simone reparou, talvez o território não estivesse mais tão perigoso.

— Não tenho certeza, acho que vou ver se alguma de minhas filhas está livre.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora