19. Sabe quem esteve aqui o tempo todo

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Os dias caminhavam em lentidão, e Simone Tebet passava por todos eles no piloto automático. A eleição presidencial partiu para o segundo turno, e a mulher não poderia estar mais desinteressada no assunto. Havia uns bons dias que Soraya Thronicke se encontrava em coma, e Simone estava dormido todas as noites no sofá, até que um tanto confortável, presente no quarto de hospital.

Alguns minutos da manhã e alguns minutos da tarde também eram reservados para estar ao lado da loira. Mesmo que tenha sido um pouco complicado de conseguir autorização para estar ali por mais tempo que o permitido, Simone conseguiu, ela sempre consegue.

Segunda-feira, dia dez do dez. Essa era a data marcada no calendário do iPhone, em que Simone mantinha os olhos focados, enquanto segurava a mão de Soraya, que permanecia desacordada. A mais velha se encontrava preocupada, a aflição não deixava de tomar conta de seu peito, por mais que a esperança também se mantivesse latente. Diziam que a música poderia ajudar na recuperação dos acamados, e assim, ela fazia questão de sempre colocar algum som para a loira.

— Meu amor... O que você acha de acordar logo para dançarmos? — A professora de Direito tem certeza de que sua antiga aluna pode ouvir suas palavras em meio a música que toca, Wish You Were Here do Pink Floyd. — Todos nós estamos morrendo de saudade de você.

Simone tentava segurar as lágrimas, sempre tratando de acariciar o braço de sua amada. A morena pensava em como as coisas podiam ser cabulosas... Há alguns dias, Carlos César apareceu lhe contando que o rapaz que bateu no carro de Soraya estava bem, e acordado. Tomaram o depoimento do jovem, e estavam esperando a loira acordar para também depor.

— Bom dia, Tebet. — Ela ouviu a porta do quarto se abrir, e Carlos César entrou. Ele entregou um dos cafés que segurava em mãos para ela, que estava com olheiras marcantes sob os olhos. — Você precisa descansar. — Ele disse, gentilmente.

— Obrigada. — Simone agradeceu, e fez uma careta depois de dar um gole no líquido quente. Não gostava muito de café, mas esse por vezes era um instrumento valioso. — Eu preciso ir para uma reunião agora, mas por favor, me ligue se ela acordar, ou se qualquer outra coisa acontecer.

— Pode ficar tranquila, Simone. — O homem deu um aperto gentil no ombro da senadora. — Daqui a pouco eu também tenho que sair, mas a Isabela vai ficar.

— César, me diga uma coisa... Naquele dia do acidente... Por acaso alguém desconfiou de alguma coisa? Digo, de que exista algo entre mim e a Soraya? — A mulher pergunta um pouco sem jeito. — Eu acabei não me contendo em sua frente, e peço desculpas por isso. Imaginei que por conta de você ser gay e já ter um outro relacionamento, não sentiria ciúmes...

Carlos César riu, mas não por maldade. Era engraçado ver Simone Tebet, uma mulher tão reservada sobre seus sentimentos, se abrindo daquela forma.

— Algumas pessoas ficaram preocupadas com o seu desmaio, mas ninguém desconfiou do fato de que você é apaixonada pela minha esposa, ao menos não que eu saiba.

— Ainda bem. — A mulher dá um aperto no braço do homem, em um cumprimento e beija a testa de Soraya. — Eu vou, e logo volto.

A despedida de Tebet foi mais voltada para a loira do que para Carlos César, e ela foi com a certeza de que não queria demorar a voltar.

***

O relógio na parede do quarto onde Soraya está internada, marca uma hora e quarenta e três da tarde; e a loira, finalmente, abre os olhos.

A primeira pessoa que Thronicke viu, ao movimentar de leve a cabeça, foi sua filha, sentada no sofá. Assim que a jovem percebeu que sua mãe havia acordado, ela correu em disparado ao lado da cama e chamou por algum enfermeiro.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora