30. E Morreu

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Simone Tebet passa mais uma madrugada em claro, encarando o teto, enquanto acaricia as costas de Soraya Thronicke, que graças aos remédios para insônia, se encontra dormindo, deitada em seu peito. Há algumas horas, elas haviam descoberto que Ciro Gomes havia falecido. A causa da morte ainda não havia sido levada para a mídia, mas, o que Simone descobriu, por meio de suas fontes, é que o homem teria cometido suicídio. A professora de Direito, obviamente, não engoliu essa história. Parece que, assim como Lula, o filiado ao PDT, estava enforcado. Ele foi encontrado num quarto de hotel, pendurado em algum móvel, com uma corda no pescoço e um banquinho ao lado; Soraya ainda não sabia disso.

A mais velha, diferente da mais nova, não gostava de fazer uso de medicação para dormir, ela não lutava contra a insônia. Como não conseguiria dormir de jeito nenhum, Simone decidiu se afastar cuidadosamente do corpo de Soraya, mas mesmo se preocupando em não acordá-la, percebeu a mulher murmurar alguma coisa.

— Ô meu amor, eu te acordei. — Simone volta a acariciar a pele de sua mulher, que se aconchega mais ainda nela. — Me desculpe.

— Na verdade, você me tirou de um pesadelo. — Soraya estremeceu. — Simone, você não tem dormido quase nada, né? — Ela perguntou, verdadeiramente preocupada.

— Eu não consigo. — Simone deu de ombros.

Não era somente a insônia que impedia Tebet de dormir, ela também tinha medo de que alguma tragédia acontecesse durante a madrugada. Sem confiar em mais ninguém para manter a sua proteção, e a de Soraya, ela passou a manter uma pistola calibre vinte e dois em um local próximo da cama, e apenas ela sabia disso. Não adiantaria falar nada para Thronicke, já que a mesma ainda não sabia manusear uma arma. Simone cogitava a ideia de, em breve, ensiná-la.

— Soraya... "Terceira letra do alfabeto"... — Simone passou a divagar baixinho. — Alfabeto... O primeiro a morrer foi o Ciro.

— Você acha que há uma ordem, então? Mas, e o Lula? Luiz... Ele quase se foi, e nós também. — Soraya ponderou.

— Sim, mas não morremos. Você acha mesmo que já não estaríamos todos mortos, se essa fosse a vontade dos que estão nos ameaçando? Tudo o que fizeram conosco até agora, não foi pra matar...

— Como está o marido da Rosângela? Ela te mandou notícias?

— Ele ainda está desacordado... — A mais velha informou. — O Lula foi enforcado.

— Sim, eu me lembro... Que horror, Simone. — Soraya se agarrou ao pescoço da mulher. — Estou com medo. — Confessou contra a pele quentinha.

Simone apoiou o queixo na cabeça dela, acariciando seus cabelos lentamente.

— Ciro também foi encontrado assim. — Com uma corda no pescoço, ela quis dizer. — Estão dizendo que ele cometeu suicídio, mas é lógico que não foi isso.

— Meu Deus, Simone. — Thronicke sente o corpo gelar ao se dar conta de que, ela e a mulher que ama, estão correndo o risco de morrer da mesma forma. — A quarta pessoa é o Lula...

— Sim, é ele. — Simone confirmou, e apertou seus braços em torno da baixinha.

— Os assassinatos vão acontecer por ordem, é isso o que você acha? — Soraya perguntou cheia de incerteza. Mantinha os olhos fechados, respirando o cheiro da morena, que era uma das poucas coisas que estava acalmando seus nervos.

— Em teoria, acredito que sim. Mas eu não vou deixar nada acontecer com você, Soraya. Nunca. — Simone foi firme em sua resposta. Ela havia tomado para si a missão de deixar sua mulher segura.

A loira dá um beijinho na bochecha de sua mulher, antes de voltar a se aconchegar em seu pescoço, e sente seu coração pesar em seu peito; Soraya se dá conta de que, se a teoria estiver certa, Tebet correria risco de vida antes dela mesma.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora