26. Desobediência

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Soraya abriu os olhos, e o quarto ainda estava escuro. Ela esticou o braço até a mesinha de cabeceira, e alcançou o seu iPhone. Eram quatro horas e vinte minutos da manhã, do dia vinte e dois de outubro. Ela havia perdido completamente o sono. Cinco dias depois do pequeno atentado que sofreu ao lado de Simone e Carlos César, ainda não teve notícia alguma por parte dos investigadores. Ao menos, desde então, nada mais de estranho aconteceu.

Thronicke olha para o lado e observa Simone dormindo, e ao mesmo tempo que seu coração se enche de ternura, também se enche de raiva. Ciúme seria a causa desse incômodo que a loira tem sentido, desde que Tebet passou a ficar de lero-lero com Janja.

Simone estava indo para São Paulo dia sim dia não, para participar das campanhas do PT. A loira se sente um pouco culpada, porque Tebet não precisaria fazer toda essa manobra se não fosse para estar junto dela. As duas até poderiam ficar em São Paulo juntas, mas além de Thronicke não ser fã da ideia, a professora de Direito também prefere que sua mulher esteja perto de seu cardiologista de confiança.

Soraya estava perdida em meio aos pensamentos incômodos, e de repente sentiu Simone se aconchegar nela. Ela aproveitou para acariciar os fios escuros, e ouviu a mulher perguntar num som abafado, o que ela estaria fazendo acordada.

— Perdi o sono. Foi a luz do celular que te acordou?

— Foi você mexendo no celular que me acordou. — Respondeu toda dengosa enterrada no pescoço de Thronicke.

— Ops, desculpa.

— Não tem problema, meu amor. Que horas são?

Soraya alcançou novamente o celular e desbloqueou a tela.

— Quatro e meia. — Ela informou.

Simone se aconchega ainda mais à outra mulher, e deposita uns beijinhos em seu pescoço.

— Daqui a pouco eu tenho que levantar mesmo.

— Você já vai voltar pra São Paulo? — A loira indagou, franzindo o cenho.

— Sim. Mas, à noite, eu volto pra você.

Soraya revirou os olhos, sorrindo feito boba. Como ela poderia conseguir ficar brava com aquela mulher?

— E você vai passar o dia com quem?

— Como assim? Eu vou passar o dia cercada por gente que não conheço, no meio da rua... Como tenho feito quase todos os dias.

— A Rosângela vai estar lá também, não vai?

A loira, além de se recusar a chamar a esposa de Lula pelo apelido, não aguenta manter a boca fechada por muito tempo.

— Sim... Lógico que vai. — Simone levantou um pouco a postura a fim de tentar enxergar o rosto de Thronicke na penumbra. — Posso saber o porquê da pergunta?

— Não é nada. — Soraya responde com um toque de rispidez em sua voz. — É melhor você aproveitar pra dormir mais um pouco.

A mulher mais jovem vira seu corpo de lado, ficando de costas para a mais velha.

— Soraya?

— O quê?

— Você está com ciúme?

— Estou.

Soraya nem tentou se fazer de difícil, para ela bastava ser curta e grossa. Simone ficou um pouco sem reação, e tocou o ombro dela num carinho arrastado.

— Soraya, você realmente acha que eu tenho olhos pra qualquer outra pessoa que não seja você?

— Todas as vezes que eu entro em alguma rede social, e olha que eu não entro tanto assim, tem sempre uma foto de vocês duas juntas.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora