4. Confusa Demais

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Barulho. Som contínuo e irritante. Isso o que fez Soraya Thronicke abrir os olhos, em relutância, pela manhã. Ainda meio atordoada e com uma leve dor de cabeça, a loira sentiu que seu corpo estava nu, e olhou por baixo do lençol para ter certeza. Suspeita confirmada.

Soraya se posicionou sentada, usando uma de suas mãos para segurar o tecido em seu peito, enquanto os dedos da outra mão deslizaram entre os fios loiros. O barulho continuou. Apesar de querer fazer com que a melodia insuportável parasse, a mulher ficou confusa e sem reação por um momento.

Thronicke olhou em direção à mesinha de cabeceira, que era de onde o som insuportável estava surgindo. Enquanto esticava o braço para alcançar o aparelho celular, seu olhar cruzou, rapidamente, com uma garrafa verde, mais especificamente, um Chartreuse Verde. Ela voltou a atenção para o telefone, até que em menos de cinco segundos, seu olhar pairou novamente sobre a garrafa. Flashes do que havia acontecido há algumas horas voltaram à sua mente, e os olhos da mulher se arregalaram num susto. Ela havia passado a noite com sua ex-professora, colega de Senado e atual concorrente na disputa pela presidência do Brasil, Simone Tebet. "Ah, meu Deus!", a loira pensou, rezando para que tudo não tivesse passado de uma alucinação; mesmo que as lembranças que começassem a se organizar em sua mente fizessem sua pele se arrepiar, ela não tinha como acreditar no que aconteceu.

Soraya fechou os olhos por um momento, tentando manter a calma, mas para pensar direito, ela precisava cessar o barulho que a importunava. A mulher segurou o iPhone em suas mãos levemente trêmulas, e ao identificar quem estava ligando, ela gelou. Era seu marido, Carlos César. Então ela manteve um dilema: atender ou não atender? "Eu traí meu marido! Nós já completamos bodas de prata, e eu o traí!", a loira não queria acreditar.

A mulher decidiu apertar o botão de bloquear a tela, e assim o ambiente voltava ao silêncio. A última pessoa com quem Soraya queria falar agora, era seu marido. A dúvida se fez presente, e ela não sabia exatamente o que fazer. Ao desbloquear a tela do celular, checou o horário: sete horas e quinze minutos da manhã. Por um momento Soraya tentou imaginar o por quê seu marido estaria ligando a esse horário, e com isso a mesma já entrou em paranoia.

Era difícil que a mulher conseguisse pensar em qualquer outra coisa que não fosse a última noite, e esse fato a irritou profundamente. Os flashes de Tebet gemendo seu nome, os arrepios ao se lembrar dos clamores da mulher, e as áreas do corpo esquentando conforme as imagens voltavam... Isso tudo a tirava do sério de uma maneira inexplicável.

Ah, claro! No meio de todas essas lembranças, que ela fazia esforço para se convencer de que eram terríveis, a mulher se lembrou de ter pedido, na noite retrasada, para que seu marido a ligasse às sete e dez da manhã no dia seguinte ao debate da Globo. Dessa forma, para se livrar dessa pendência, ela decidiu mandar uma mensagem simples agradecendo pela ligação. No geral, esse é um assunto que ela precisaria lidar quando estivesse mais calma. Ele até tentou engatar um assunto banal, mas ela o ignorou.

Outro dilema se passava pela cabeça da mulher: tentar entrar em contato com Simone Tebet ou não tentar?

Com a cabeça um pouco menos bagunçada, a loira finalmente se deu conta de que se encontrava sozinha no quarto. É claro que Tebet não ficaria ali, esperando que ela acordasse. E mesmo tentando negar para si, Soraya ficou sentida. "Será que ela não gostou?", o pensamento passou brevemente por sua cabeça, e ela revirou os olhos quando percebeu o tipo de dúvida que teve. Ela não estava nem aí para a performance que teve durante a noite, claro que não!

Completamente confusa, Soraya decidiu se levantar e ir até o chuveiro. Um banho poderia ajudá-la a colocar as ideias no lugar, ao menos essa era sua esperança. Assim que ligou o chuveiro, a mulher esperou cerca de oito segundos, até que a água ficasse numa temperatura agradável, e em seguida, ela se enfiou debaixo dele. Quando as gotas quentes caíram sobre sua cabeça, ela sentiu um grande alívio, mas quando começaram a escorrer por suas costas, ela sentiu uma leve ardência. Soraya virou seu pescoço até ele estar apoiado em seu ombro, e ali mesmo ela já viu as marcas de arranhões. Mais uma vez, arrepios passaram por seu corpo e partes que não deveriam esquentar, esquentaram. Ela não aguentava mais. A única pessoa que deveria fazê-la se sentir assim, era seu marido! "Isso só pode ser uma crise de meia-idade, mas que droga.", ela amaldiçoou os Céus e a Terra, mesmo sabendo que essa situação nada tinha a ver com idade, já que seus sentimentos por Tebet começaram desde a primeira aula que teve com ela. A loira se xingou inúmeras vezes mentalmente, se perguntando como pôde se deixar levar.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora