2. De Primeira

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Simone encarou Soraya com aquela pose que só ela possuía, e sequer tentou disfarçar o desejo presente em seu olhar. Aquela tensão estava acabando com ela. Na realidade, estava acabando com as duas. Ambas tinham noção de que não estavam imaginando coisas, a tensão não partia por somente uma das mulheres.

— Claro que não esqueci, Simone! — A loira exclamou, fingindo que não percebeu a forma como estava sendo encarada, dando espaço para que a outra mulher entrasse no cômodo. — Eu só queria tomar um banho e trocar de roupa. Por que achou que eu tivesse esquecido? E como é que você soube qual é o número do meu quarto?

Soraya disparou palavras e mais palavras, enquanto se abaixava para juntar todas as roupas que tinham sido espalhadas pelo chão. Não demorou para que Simone também se abaixasse para ajudar sua antiga aluna com a tarefa, e ela ignorou o blazer que estava bem ao seu lado, para juntar a calcinha de renda preta, que não estava tão perto assim. Provocar, era isso o que ela queria.

A mais velha entregou a peça de lingerie a mais nova, que ficou sem graça com o ocorrido. Enquanto Soraya se atrapalhava, Simone mantinha o olhar sereno e cheio de superioridade.

Ao se levantar, Simone abriu o zíper de sua bolsa Louis Vuitton, que havia sido colocada em cima da cama, e de dentro dela surgiu um Chartreuse Verde, um licor finíssimo.

— Bem, é que já se passaram quase duas horas desde que chegamos aqui. — Simone respondeu, passando a ponta do dedo indicador sobre a tampa da garrafa. — Você me disse qual era o número de seu quarto quando eu te contei que também estava hospedada nesse hotel, logo quando chegamos ao estúdio.

— Caramba, me desculpe! Eu perdi totalmente a noção do tempo, que vergonha. — Soraya se sentia mais atrapalhada do que nunca. — E é claro! Agora pude me lembrar da conversa que tivemos momentos antes de todo aquele circo começar.

A loira foi até o banheiro para deixar suas roupas usadas em algum canto qualquer, aproveitando para dar um tapa em sua própria testa. — Se comporta, Soraya! — Ela sussurrou para si mesma em frente ao espelho.

Quando voltou para o cômodo maior, percebeu que Tebet, que já havia chegado com uma roupa diferente da que tinha usado no debate, desabotoou alguns botões de sua blusa, revelando boa parte de seu colo.

— Soraya, não se preocupe. Você está muito cansada? Podemos marcar algo para outro dia, se preferir. — Simone estava com o quadril levemente encostado ao lado da cama, e tentou confirmar se sua presença ali era realmente desejada. — Eu não tinha que ter vindo sem te avisar, me desculpe, é que fiquei preocupada e como não tenho seu contato... — Ela se atrapalha na fala, ao se lembrar de que havia o registro da ligação de Soraya, quando teve sua ajuda para encontrar o celular no camarim. — Eu confesso que queria mesmo te ver. — Revelou, por fim.

Thronicke sentiu o sangue ferver em suas veias, e como forma de tentar se manter confiante na frente da morena que às vezes a deixava tão sem graça, ela soltou os cabelos que estavam presos. Nesse momento Simone acreditou que aquela mulher poderia ser a causa de sua morte, e aquilo estava consumindo todos os seus sentidos. Percebendo o olhar de sua colega, Soraya sorriu, se sentindo vitoriosa, e foi, de forma não tão despretensiosa, até a cama. Agora as duas estavam lado a lado.

— Não há cansaço que uma boa bebida não possa curar. — A loira respondeu, enquanto se sentava no colchão macio e o acariciava, como um sinal para que a outra mulher se sentasse também. — Esse é meu licor favorito, sabia?

— Eu sabia. Você não deve se lembrar, mas conversamos sobre preferências alcoólicas durante uma de minhas aulas, quando a turma estava num momento de descontração. — Simone confirmou, sentando-se sobre uma de suas pernas, ficando de frente para Soraya. — Eu também me lembro de suas histórias.

Musas de Direita - Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora