Vivianne discordava firmemente sobre a proposta da irmã. Ela não queria de maneira alguma sair, preferia ficar em casa, não havia dormido bem, desde que chegou de viagem e havia passado alguns dias no hotel. Estava exausta e ainda faltava arrumar os livros que trouxe em uma das malas, aquele momento seria seu deleite para o relaxamento, organizar seus preciosos livros.
Ela encontrava-se no seu novo quarto, sentada no chão com várias caixas abertas, organizando os vários livros, por gênero e ordem alfabética dos títulos. Enquanto sua irmã continuava a argumentar deitada na cama de casal espaçosa. O quarto, apesar de ser de hospedes, era totalmente trabalhado, com uma porta de vidro que dava acesso para a sacada, todos os quartos possuíam essa possibilidade do acesso a sacada. Foi um pedido que Henrique não aceitava recusa, seu principal argumento para o engenheiro era: Uma vista tão linda como essa, deve ser apreciada por todos e não só desfrutada por um único indivíduo. Era assim, todas às vezes que o amigo ligava para ela dizendo como estava o processo da reforma e de como o empreiteiro era um tanto teimoso e nada ousado. Tivera que mudar de construtor duas vezes, até encontrar o J. Scott, o melhor do ramo das reformas. Havia deixado aquele lugar o maior sonho. Catherine retomou a fala:
- Enne, você tem que sair, está apática, sua pele está tão maltratada, ressecada, seu cabelo está sem brilho e quando foi a última vez que você se olhou no espelho para por uma maquiagem? - ela sentou-se na cama fitando a irmã que estava de costas para ela.
Vivienne sabia que a irmã estava certa. Mas hoje ela não queria fazer nada disso. Queria ficar em casa e descansar.
- Deixe-me cuidar de você, sabe que tenho um curso de cosméticos.
"E do que você não tem um curso" pensou.
Com relutância e sem mais argumentos para convencer a irmã, Vivienne a deixou sentá-la em uma das cadeiras e ajeitar sua aparência. Ela havia pego o espelho e passou a encarar a mulher ali na frente, enquanto Catherine saía do cômodo prometendo voltar logo.
"Quem é essa?" indagou para si própria.
Passou a analisar com mais cuidado aquele rosto, que em outrora já fora liso e delicado, sem nenhuma sarda. Usava muito creme, pois tinha uma pele sensível por ser ruiva. Hoje, o topo das maçãs do rosto até uma parte de seu nariz estavam com pequenas sardas. O abundante cabelo cor de brasa havia ficado minguado e sem brilho. Os olhos, grandes e expressivos com cílios longos, tornaram-se opacos. O tom de esmeralda deles, que eram capazes de hipnotizar qualquer um, estavam sem vida. Observou sua boca, e estava um pouco pálida. Estava tão mais magra que antes, com toda certeza, havia ficado abaixo do seu peso ideal. Lembrava que quando era mais nova, possuía o cabelo mais cor de brasa do que Catherine, era totalmente da cor do boneco do filme de terror que assistiram quando eram mais novas. Por outro lado, Kitty, mudava seus tons quando queria, houve a fase na adolescência que pintara de azul, verde, violeta, laranja, preto, loiro, castanho. Todas as cores inimagináveis ela já havia feito. A mãe das garotas, senhora Lamartine, sempre dizia para a mais velha: um dia você ficará sem cabelos!. Kitty batia sempre três vezes no mogno de madeira à fim de isolar aquelas palavras agourentas da mãe. Vivienne olhou para irmã que havia retornado com um pente em uma das mãos e na outra uma tesoura. O cabelo da irmã havia mudado mais uma vez, mas dessa vez, ela havia deixado o seu tom de ruivo natural aparecer. As duas irmãs tinham herdado o tom de ruivo da senhora Lamartine, alaranjado e volumoso. Kitty apenas intensificou ainda mais o tom.
Continuava a apreciar a irmã e ela não havia mudado nada. Apesar dos vinte e oito anos, Catherine exibia feições de uma jovem de dezenove anos. Corpo magro, mas bem distribuído, não eram muito altas, ambas tinham o mesmo 1,65. Catherine, sem bolsas ao redor dos olhos expressivos de um violeta escuro, quase em tons de ametista escuro, raros tons. A pele branca não continha uma sarda sequer, totalmente aveludada e cuidada "era exatamente assim que eu era" pensou Vivienne. A irmã estava de volta com um largo sorriso com dentes brancos em um rosto em formato de coração, assim como o seu.
- Vamos começar!
- Espere, o que fará com isso? - Vivienne ficou assustada ao lembrar da tesoura na mão da irmã, ela iria cortar seu cabelo? - Não pode cortá-lo!
- Irei apenas, ajeitá-lo. Está horrível e sem corte! - reclamou - Vivienne, você tem vinte e cinco anos e parece ter mais de trinta assim! Toda descuidada, onde foi parar sua feminilidade?
Vivienne nada disse mais uma vez, forçou um sorriso e suspirou.
- Só quero ajudar você, sinto que hoje coisas boas podem acontecer. Eu li o seu horóscopo e dizia que hoje você conheceria alguém especial, sua cor é o roxo! Câncer está com tudo baby! - falou em seu tom descontraído para animar a irmã.
- Não acredito que ainda acredita nessas coisas Kitty! - exclamou à outra com indignação no tom de voz.
- Pare com isso! - ela afirmou, enquanto penteava o cabelo da irmã e começava a apará-lo aqui e ali. - Nada ocorre por acaso Enne. Tudo há um propósito. Se você e o Alex não deram certo, é porque ele não é o cara certo. Tem muita boca para beijar no mundo, vai se prender em apenas uma?
- Não há pessoas certas! - retrucou em um tom baixo, porém, ainda foi escutado pela irmã.
- Claro que há! Você tem que ser otimista e parar com esse drama canceriano que eu não tenho paciência!
- Digna frase de uma sagitariana! - retrucou com os braços cruzados.
Aos poucos, algumas mechas caíam no chão e ela começava a sentir pena de todo aquele cabelo desprezado no assoalho rústico de Henrique, cogitava estar com crise do zodíaco de Câncer mesmo, mas não queria admitir que a irmã estava certa. Kitty cuidou de cada centímetro do rosto da irmã. Após muito tempo, ouviu um "Tcharam" de sua irmã, que lhe entregou o espelho. Definitivamente, ela havia ficado surpresa.
- Essa sou eu? - passou a mão pelo novo cabelo. - Acho que voltei para a casa dos vinte.
- No mínimo dos 19 assim como eu - piscou a irmã. - combinou muito com o seu rosto o novo corte, está incrível! E não tirei muito o tamanho, continua no meio das costas, retirei só a parte desgastada.
- Obrigada - Vivienne falou acanhada.
- Não me agradeça. Tome um banho e se arruma, porque vamos sair para ver uma peça e claro, comer algo já que essa casa não tem nada! – revirou os olhos impaciente.
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Notas da autora:
Eita que Enne passou por uma repaginada! O que acharam até aqui?
Embora esteja com 4 partes, esse é o final do primeiro capítulo! Como havia dito, optei por fragmentá-los por motivos logísticos como: praticidade para os próprios leitores, em busca de se tornar relaxante e boa a leitura.
Espero que tenham gostado e começaremos a ir para o próximo momento.
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Segredos | Elliot Hells
RomanceApós passar alguns anos vivendo em Curitiba no Paraná, Vivienne Lamartine Hoffman volta para a sua terra natal. Um estado colonizado pelos antigos holandeses que mudaram seu nome de Natal para Nova Amsterdam. De volta a cidade em que nasceu fugindo...